Uma única regra para ser feliz



Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!


Felicidade é um conceito muito vago e dependente de preferências individuais. Todos sabemos. Ainda assim, insistimos em procurar atalhos para este fim como se uma lista de “X” pontos nos fosse realmente garantir o bem-estar pleno. Se formos a uma livraria facilmente encontramos obras de “autoajuda” – como se um livro de outra pessoa, com outros padrões de felicidade fosse garante de eficácia em cada um de nós – que pretendem facilitar este processo com “As 10 regras para ser feliz”. Eu próprio já tive interesse nesses contos de fadas, e como tal não pretendo denegrir quem o faz, mas sim estimular ao pensamento crítico quanto a estes atalhos para a felicidade.

Ora vejamos. Desde os crentes, aos ateus e até agnósticos, não conheço nenhum ser humano que procure ser infeliz. Pode não saber tomar as decisões mais acertadas tendo em conta os seus objetivos, porém o querer é semelhante: estar bem, sentir-se realizado, evitar o mal-estar. Se todos temos conceitos de felicidade diferentes, parece-me absurdo dar conselhos a alguém de como ser feliz já que essa felicidade irá pertencer a essa pessoa. Ainda assim, admito que existem princípios básicos que podemos aconselhar uns aos outros... mas regras e mandamentos parecem-me descabidos.

Em vez disso, proponho uma reflexão e aceitação: a vida não tem um sentido por isso o mal ou bem que me acontece tem a influência das minhas ações, muitas vezes sem ter noção para onde estou a ir. Antes de me mandar a esse sítio que está a pensar - caso seja crente no sentido da vida – por favor tente compreender onde quero chegar. É possível ser feliz sem fazer grande coisa para isso – o que chamamos sorte –, como também é possível ter bons comportamentos e ser infeliz – o que chamamos azar. No entanto, o universo é tão grande e nós tão insignificantes que me parece presunção achar que algo está a me beneficiar ou prejudicar mediante as minhas ações. As coisas “são o que são”.

O sentimento de que “isto não faz sentido” é compreensível e só existe porque somos racionais. Acontece quando a vida não nos dá aquilo que achamos que merecemos. Que estamos a fazer o suficiente para obter/atingir um objetivo, mas mesmo assim, a vida não nos dá isso. É aqui que divergimos uns dos outros: “Se deus quiser”; “ainda não chegou a minha hora”; “se eu acreditar vai acabar por acontecer”; “porquê eu”; “graças a Deus consegui”. Procuramos então estabelecer uma relação de causa-efeito que pode NÃO acontecer, precisamente, porque existem infinitos fatores que nós não dominamos.

Por isso, a minha proposta é compreender que mesmo fazendo o bem eu posso obter o mal, e mesmo fazendo o mal posso obter o bem. É mesmo assim, injusta muitas vezes, a vida. Agora, isso não quer dizer que seja motivo para desistir da vida. O que proponho é apenas aceitar que isso acontece e mesmo assim seguir o caminho daquilo que consideramos boas práticas: cuidar da nossa saúde (física, mental e social) com bons hábitos de vida; ter sonhos, mas sobretudo adotar comportamentos que nos levem realmente a eles, ou pelo menos perto disso. Julgo que ninguém pensa chegar a astronauta sem saber ler e escrever. 

“Bola para a frente” tem lógica. No jogo da vida a bola bate no poste, vai para a rua, rompe, e às vezes entra na baliza do outro lado. Não interessa o porquê, mas sim a manutenção do trabalho e a tentativa constante de melhorar. Pelo menos isso será o suficiente para deitar a cabeça na almofada e dormir tranquilamente. Pelo menos para mim.

Luso.eu - Jornal das comunidades
Afonso Franco
Author: Afonso FrancoEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
Para ver mais textos, por favor clique no nome do autor
Lista dos seus últimos textos



Luso.eu | Jornal Notícias das Comunidades


A sua generosidade permite a publicação diária de notícias, artigos de opinião, crónicas e informação do interesse das comunidades portuguesas.