POMBA



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A guerra tudo domina, constituindo uma ameaça à sobrevivência da Humanidade. Ameaça essa que é estrondosa, aparece devagar, mas quando se dá por ela, já está derramada. Viver é mais importante do que morrer.

Farto de uma guerra sem triunfo, uma guerra que terminará só com vencidos, abalei dos escombros da destruição e fui para as portas do admirável mundo novo com um sentimento de esperança.

Tocaram as campainhas. Apareceu uma pomba cor de chumbo que disse, cheia de confiança ilimitada: “O mundo novo está fechado”. Pensei na necessidade da lucidez prudente dominar a precipitação, perguntando se seria permitido entrar mais tarde. “É possível”, disse a pomba, “mas não agora”.

Confirmei rigorosamente a minha localização, consultando o mapa e a bússola que me haviam orientado no mar alteroso da guerra. Depois, dobrei-me e, através de uma leve fenda nas portas, avistei o mundo novo.

A pomba disse: “Apesar das portas se encontrarem fechadas, porque não experimentas entrar?

O admirável mundo novo deveria estar permanentemente acessível a todos”, pensei eu, estudando de perto a pomba no seu casaco de penas, de bico aguçado, com uma longa e fina cauda. Decidi que seria melhor não aceitar a sua provocação e esperar até as portas abrirem. Sentei-me numa cadeira que para ali estava e aguardei.

Esperei dias. Esperei meses, que passaram a anos.

Não consegues perceber que o que está em causa é a nossa própria existência?” – perguntava eu frequentemente.

A pomba, indiferente, dizia-me mais uma vez que ainda não era permitido entrar, enquanto eu olhava atentamente em redor para descobrir qualquer coisa interessante e útil que a satisfizesse. Nada! Durante anos observei a pomba incessantemente, amaldiçoando a circunstância infeliz em que tudo se encontrava.

Lentamente, envelheci. Pensava frequentemente que a paz constitui um dos pilares da vida. A sua verdadeira importância é melhor compreendida em tempo de guerra. Só quando a perdemos é que sentimos como a sua ausência nos transforma.

Finalmente, disse a pomba: “Vou contar-te um segredo. É muito simples: as portas do mundo novo estiveram sempre abertas e assim irão manter-se para sempre. Tu apenas tinhas que dar o primeiro passo. Faltou-te determinação! Faltou-te coragem!”. 

Expressando um leve sorriso, olhei pela última vez a pomba e as portas: “De facto, todos nós podemos esperar a abertura das portas do admirável mundo novo, mas será a esperança suficiente para a nossa felicidade ou, como no meu caso, falta-nos coragem para traçar um futuro diferente?

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Hélio Sequeira
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