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Folha-de-flandres, Queijo Flamengo e Princesas. Portugal - Bélgica, 8 séculos de estórias.
As relações entre Portugal e a Flandres são muito antigas. Ambos os territórios pertenceram ao Império Romano e já nessa altura era possível circular e comerciar livremente entre ambas as províncias. Com a queda do Império e a fragmentação em pequenos reinos bárbaros iniciou-se um ruptura sem precedentes.
Porém, as relações entre Portugal e a Flandres remontam ao início da nossa nacionalidade. Muitos dos Cavaleiros Flamengos a caminho de Jerusalém contribuíram activamente na reconquista, sobretudo na de Lisboa.
Um dos primeiros actos de política externa do jovem Reino de Portugal, foi o casamento Princesa Teresa de Portugal, filha do nosso primeiro rei D. Afonso Henriques, com Filipe da Alsácia, Conde da Flandres em 1184 - altura em que se inicia o movimento de emigração portuguesa para a Bélgica.
Anos mais tarde, também D. Fernando, filho de D. Sancho I, casou com a Princesa Joana, filha de Balduíno IX, e passou a ser o Conde da Flandres e do Hainaut. D. Fernando ou Ferrand em Flamengo notabilizou-se aquando da sua participação na batalha de Bouvines contra os franceses.
As relações comercias também são muito antigas. De Portugal vinha o trigo e o vinho e, em contrapartida, de Flandres o ferro, a folha-de-flandres - é destas trocas tanto comerciais como culturais que nos apropriámos do tão famoso em Portugal, queijo flamengo.
No renascimento, a Princesa Isabel, filha de D. João I casou-se com Filipe o Bom, Duque da Borgonha. Um dos resultados deste casamento foi a ida de colonos flamengos para os Açores.
É, ainda, importante lembrar que a primeira associação de comerciantes flamengos abriu em Lisboa em 1499, para negociar as especiarias e mais tarde o açúcar vindo do Brasil. Muito da riqueza da Flandres, passou por Lisboa.
Logo no início da Bélgica como Estado independente, depois da tal canção, agitação e revolução de 1830, Portugal estabeleceu relações diplomáticas. Almeida Garrett foi o primeiro embaixador português no Reino da Bélgica, e foi no clima deprimente e chuvoso de Bruxelas que escrevera a tragédia "Frei Luís de Sousa, sentimentos esses que acompanharam a obra.
Durante a primeira Grande Guerra, os nossos soldados marcaram presença na Flandres francesa, tentando avançar para a Flandres Belga, mas sem êxito devido ao desfecho da Batalha de La Lys. Já segunda Guerra Mundial, alguns dos refugiados que passaram por Portugal saíram do porto de Antuérpia. Em 1949, Portugal foi um dos países fundadores da NATO, marcando presença em Bruxelas desde o início da Aliança Atlântica.
Nos anos 60, os acordos de Estado a Estado permitiram aos portugueses emigrarem em condições legais, com o objectivo de trabalharem nas minas, porém, muitas outras pessoas emigraram a título individual. Apesar de na minha família terem optado todos pela emigração com destino a França, em 1968 o meu pai necessitou de se deslocar de Paris à Antuérpia, de modo a conseguir tratar de todos os seus documentos, pois o consulado de Paris não o atendera. Apesar do desolado fecho do consulado, as memórias ficaram. Quando em 1986 entramos pra CEE, há novamente uma vaga de portugueses para trabalhar em Bruxelas.
Hoje, na Bélgica, são cerca de 100.000 portugueses, sendo o oitavo país com mais emigrantes portugueses, ultrapassando países como a Alemanha. Importa, ainda, referir que há mais de 1000 empresas pertencentes a cidadãos portugueses sediadas na Bélgica. À data, contam-se trocas comerciais são no valor de 1.1 mil milhões de euros de exportações e 1.7 mil milhões de euros em importações.
Assim, estamos hoje a caminho de celebrar nove séculos de história e estórias com a Bélgica.
A historia não acaba aqui, e eu acredito que a estória mais bonita será escrita nas páginas ainda em branco.
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