Ucrânia: Guerra deixa 1,7 mil milhões de pessoas expostas a falta de alimentos e energia - ONU



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As Nações Unidas alertaram hoje que a guerra na Ucrânia está a ter um impacto "global e sistémico", deixando 1,7 mil milhões de pessoas "altamente expostas" a interrupções nos sistemas de alimentação, energia e finanças.

Na apresentação do relatório “Impacto global da guerra na Ucrânia nos sistemas de alimentação, energia e finanças", o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que o mundo já está a testemunhar a um aumento da pobreza, fome e agitação social.

"A guerra está a sobrecarregar uma crise tridimensional – alimentos, energia e finanças – que está a atingir algumas das pessoas, países e economias mais vulneráveis do mundo. (...) Estamos agora diante de uma tempestade perfeita que ameaça devastar as economias dos países em desenvolvimento", disse Guterres à imprensa, na sede na ONU, em Nova Iorque.

"Cerca de 1,7 mil milhões de pessoas – um terço das quais já vive na pobreza – estão agora altamente expostas a interrupções nos sistemas de alimentação, energia e finanças que estão a provocar aumentos na pobreza e fome", reforçou.

O secretário-geral sublinhou que 36 países dependem da Rússia e da Ucrânia para mais de metade das suas importações de trigo, número que inclui alguns dos países mais pobres do mundo.

Além disso, os preços do milho e do trigo já aumentaram 30% desde o início do ano.

Ao mesmo tempo, Guterres frisou que a Rússia, que em finais de fevereiro iniciou uma ofensiva militar no território ucraniano, é também um dos principais fornecedores mundiais de energia.

"Os preços do petróleo subiram mais de 60% no ano passado, acelerando as tendências prevalecentes. O mesmo vale para os preços do gás natural, que subiram 50% nos últimos meses. E os preços dos fertilizantes mais que duplicaram. À medida que os preços sobem, o mesmo acontece com a fome e a desnutrição – especialmente para as crianças", apontou.

"Muitas economias em desenvolvimento estão a afogar-se em dívidas, com os rendimentos dos títulos já a subir desde setembro último. (...) Isso está a colocar em movimento um potencial círculo vicioso de inflação e estagnação", acrescentou o ex-primeiro-ministro português.

Para fazer face a estes problemas, o relatório hoje apresentado fornece uma série de recomendações a curto e médio prazo, entre elas a garantia de um fluxo constante de alimentos e energia através de mercados abertos, levantando "todas as restrições de exportação desnecessárias".

"Não é hora de protecionismo. Significa direcionar excedentes e reservas para os mais necessitados. E isso significa controlar os preços dos alimentos e acalmar a volatilidade nos mercados de alimentos", sugeriu Guterres.

A nível financeiro, o relatório frisa que o sistema financeiro internacional tem os instrumentos e a capacidade para responder em conformidade e estar à altura do momento que o mundo atravessa, sublinhando que é apenas necessária vontade política.

Uma das entidades financeiras visadas nos apelos do relatório é o Fundo Monetário Internacional (FMI), para que aumente e mantenha os limites de acesso para uma assistência financeira rápida.

"Aumente os limites anuais de acesso à facilidade de crédito rápido e instrumentos de financiamento rápido para níveis de crise e alargue o atual limite de acesso cumulativo até pelo menos 2024", pede o documento.

O relatório apela ainda ao FMI para que suspenda sobretaxas de taxas de juros por pelo menos dois anos.

"Sobretaxas não fazem sentido durante uma crise global, uma vez que a necessidade de mais financiamento não decorre das condições nacionais, mas do choque da economia global", diz o texto.

Ainda no campo financeiro, o relatório exorta o G20 (as 20 maiores economias mundiais) a reativar a iniciativa multilateral de suspensão do serviço da dívida por dois anos e a reprogramar o vencimento para dois a cinco anos.

Para António Guterres, este é também um momento para que os países trabalhem para eliminar progressivamente o carvão e outros combustíveis fósseis e acelerar o estabelecimento das energias renováveis e de uma transição justa.

"Devemos falar a uma só voz: a ação hoje evitará o sofrimento amanhã. Senhoras e senhores, acima de tudo, esta guerra deve terminar. O povo da Ucrânia não pode suportar a violência que lhes é infligida. E as pessoas mais vulneráveis em todo o mundo não podem se tornar danos colaterais em mais um desastre pelo qual não têm responsabilidade. Precisamos silenciar as armas e acelerar as negociações para a paz, agora", concluiu Guterres.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou quase dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A guerra causou a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de 4,6 milhões das quais para os países vizinhos.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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