A queda poderia ter sido grande



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Ontem ao final do dia já a temperatura tinha começado a baixar, decidi voltar a sair à rua e correr com o cão ao meu lado.

Como o cão não está habituado a correr na rua no meio do trânsito achei por bem levá-lo preso pela trela. Trata-se de um cão de médio porte, com cerca de 30 quilos. Um safanão dele podia muito bem desequilibrar-me durante a corrida e atirar-me ao chão.

Quando passamos pelo parque urbano cheio de relva e árvores estacou, provocando um esticão na trela, para fazer um xixi. Ele não se conteve e parou por vezes para aliviar as suas necessidades.

Eu estava apenas no início da corrida e não era assim tão mau, mas aqueles percalços impediam de manter uma passada certa para que o meu corpo pudesse aquecer e superar o frio gelado da noite.

Depois de atravessar o parque urbano lá entramos num passeio ao lado de uma estrada que conduziu até à outra extremidade onde fica localizado o hospital da cidade.

Mesmo assim o cão não resistiu e lá parou mais duas vezes impedindo novamente de prosseguir a ritmo certo. O frio gelado entrava pelos ossos.

Sempre fui correr sozinho apesar de me terem dito lá em casa que o cão poderia acompanhar a minha corrida sem sobressaltos.

Nunca vi aquilo com bons olhos porque o cão poderia dar um salto para o meio da rua ou fazer outra tropelia qualquer.

De facto é uma maçada ter que levar o cão pela trela e suportar alguns sacões quando ele decide parar para cheirar qualquer perfume canino.

Mas a felicidade estampada no seu focinho de olhos bem abertos e língua a banda compensou todos aqueles inconvenientes.

Afinal é mesmo possível perceber se um animal está feliz. Basta ler os seus sinais.

A partir de determinado momento o cão passou a correr decidido ao meu lado olhando em frente e com patada firme. Por vezes olhava para mim para confirmar se estava tudo bem, voltava a apontar o nariz para a frente e continuava em patada larga.

Eu estava a correr a um ritmo certo mas sem exagero, o que corresponde nas passadas do cão a um certo trote como se fosse um cavalo.

Lá seguimos o percurso de 3 km durante 20 minutos. Estávamos já em direcção ao ponto de partida quando passamos pelo adro da igreja. 

Depois continuamos e havia apenas 2 degraus de granito para descer nas traseiras da igreja. De um salto só superei aqueles degraus. De imediato imaginei o que teria acontecido se eu tivesse tropeçado e estatelado no chão. Será que o cão teria capacidades suficientes para me salvar de alguma forma? O que é que ele poderia fazer por mim?

Possivelmente ladrar alto, bem alto como o Charlie sabe fazer apenas em casos de emergência, pois geralmente é um cão tranquilo e grato à família de acolhimento, talvez por ter sido adoptado.

Mas não teria muita sorte porque ali mesmo ao lado estava o cemitério e só muito mais à frente é que se encontram os prédios com janelas e portas fechadas para impedir que o frio entrasse dentro das suas casas.

Talvez não tivesse muita sorte e ficasse ali deitado a gelar ao frio. A vida muda totalmente de 1 minuto para o outro.

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Joao Pires
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