Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
« Os animais são os seres mais puros do mundo»
A Associação A Selva dos Animais Domésticos está sediada no concelho de Caminha, concretamente, na freguesia de Vilarellho desde 2003.
O amor e carinho com que tratam cães e gatos é notório, apesar das dificuldades que uma associação deste género encontra para sobreviver.
Karine Torres, responsável desta associação, contou-nos o trabalho desenvolvido e quais os passos futuros.
A lei existe para condenar o abandono dos animais, mas a sua execução ainda deixa muito a desejar …
LP - Quando surge a Associação a «Selva dos animais domésticos?
Karine Torres - A Associação surge, oficialmente, em 2003, mas muitos anos antes já fazíamos trabalho de recolha e adopção de animais errantes.
Em 1990, quando viemos para Portugal, deparamo-nos com muitos animais abandonados, principalmente cães e de caça.
A minha mãe, que é a actual presidente da Associação, e nós filhas (eu e a Sónia) íamos recolhendo cães em casa, mas começou a tornar-se insuportável.
Pedimos, então, um terreno emprestado e fomos lá recolhendo lá os cães. Começamos por 7 e rapidamente chegamos aos 70 cães.
Alimentavamo-los com os restos do restaurante da minha mãe e com ração que comprávamos e nos davam.
Após alguns contactos formou-se a Associação em 2003.
LP - Com que objectivo?
KT - O principal objectivo sempre foi tirar o máximo de animais das ruas, dar-lhe alguma dignidade e encontrar um novo lar.
LP - A associação tem associados? Quantos? Como ser e o necessário?
KT -A Associação tem Associados, inscritos mais de 300 mas com as quotas em dia muitos menos.
Para ser sócio basta ir ao nosso site, lá encontra as fichas de sócio que pode preencher e enviar-nos.
LP - Como sobrevive a associação? Existem donativos e subsídios?
KT - A Associação vai sobrevivendo com as quotas dos associados, com donativos (em dinheiro e géneros), com as recolhas em hipermercados e supermercados locais e, claro, com o apoio da Câmara Municipal de Caminha com a qual temos um protocolo.
LP - Quantos animais, cães e gatos, estão ao vosso cuidado?
KT - Neste momento, temos mais de 350 cães e 130 gatos. A nossa população não é fixa, pois temos muitos idosos que vão falecendo mas mantém-se muito semelhante ao longo dos últimos anos.
LP - Estamos numa altura do ano em que o abandono dos animais aumenta. Tal sucede no concelho de Caminha?
KT - Infelizmente, já não existe “uma altura do ano” para os abandonos!
Claro que notamos três períodos em que existe mais abandono que é no Verão, por causa das férias, depois do Natal, os “presentes” crescem, fazem asneiras e dão despesa, e no final da época de caça, em que os animais que não servem, por falta de “jeito” ou pela idade avançada, são abandonados!
Mas o abandono existe, e muito, ao longo de todo o ano, com as desculpas mais esfarrapadas possíveis…
LP - Efectuam acções de sensibilização junto da comunidade?
KT - Todos os anos efectuámos várias campanhas de sensibilização, principalmente juntos dos mais jovens pois são eles o nosso futuro e se os conseguirmos sensibilizar agora, serão os nossos futuros adultos que respeitarão os animais.
Estamos também a preparar uma campanha de sensibilização com os Caminhenses para a identificação e vacinação dos seus Animais. Esta campanha é muito importante pois estando os animais identificados o abandono é quase impossível sem que se possam criminalizar os donos.
LP - E em relação a adopção dos animais qual a sua percentagem?
KT - Quanto às adopções posso dizer que bebés e jovens a percentagem é de quase 100%!
O problema é que a maioria, passado menos de um ano é devolvida. Já os adultos adoptados raramente o são!
Em números grossos posso dizer que desde 2009, ano em que nos mudamos para o novo Abrigo em Vilarelho, já demos mais de 1000 cães e 400 gatos. Mas o número de adopções tem diminuído de ano para ano.
LP - Que é necessário para se adoptar um animal?
KT - Para adoptar um animal o que é necessário é que o adoptante tenha plena consciência do acto que vai fazer!
Um animal dá despesa, precisa do nosso tempo e de condições dignas para viver.
E temos que pensar muito bem nisso quando se pensa em adoptar uma vida para fazer parte do nosso agregado familiar.
Depois temos algumas regras, é necessário assinar um contrato de adopção, com algumas alíneas, entre as quais o adoptante aceita que se façam visitas para ver como está o animal e uma muito importante para canídeos, não damos animais para serem colocados à corrente, por razões óbvias e que já estão mais que descritas em várias campanhas de sensibilização mundiais e não damos gatos para andarem na via pública, para evitar desaparecimentos e mortes por acidente, lutas, contágio de doenças.
LP - A lei portuguesa é justa com os animais?
KT - A Lei está mais ou menos bem feita mas, na minha opinião, de pouco serve!
Infelizmente, quem denuncia raramente quer dar a cara e não podemos fazer muito sem testemunhas...
Notamos que muitas vezes as autoridades competentes pouco querem saber, a não ser que sejam mais sensíveis à causa, para muitos um animal continua a ser um animal!
É muito difícil condenar alguém por maus-tratos ainda! Há casos graves no País e as penas foram de apenas Suspensas.
Acho que ainda não levam muito a sério que maltratar e abandonar animais é crime punível por lei.
LP - Que se deveria alterar para tentar diminuir o abandono de animais?
KT - Talvez havendo mais casos as pessoas comecem a perceber que já não se pode fazer o que se fazia antes.
Enterrar e afogar gatinhos, matar cães a tiro e abandonar ainda é tão comum...
A única forma de acabar com o abandono de animais é todos tendo identificação e registo e os crimes que continuam a ser cometidos sejam punidos.
LP -sabemos, que por vezes, e devido a diversas dificuldades da associação, os animais recolhidos e que não sejam adoptados tem um destino. Como funciona a associação neste âmbito?
KT - Podemos dizer, orgulhosamente, que no Concelho de Caminha, há mais de 15 anos, não há abates!
Os nossos animais desde sempre morreram de velhinhos. Nenhum animal foi abatido por sobrelotação. Não tem lógica, como podemos defender animais para os matarmos!?
Muitas vezes me perguntam porque não adormeço os velhinhos que tanto trabalho nos dão, pois é preciso mudar camas todos os dias, alguns têm que ser alimentados à boca, virados, lavados, e eu respondo apenas, eu não sei que tipo de vida tiveram antes de chegar a nós! Não sei se foram felizes ou infelizes, sei que não viverão muito mais, alguns são muito idosos ou doentes, se eu lhes puder dar amor, uma boa comida, o conforto e um final de vida digno, porque não o fazer?
Merecem menos que os novos e os bonitos e saudáveis? Não! Merecem até mais!
LP - Sabemos que recentemente a associação efectuou uma campanha numa grande superfície. Como decorreu? E qual a próxima?
KT - A grande campanha da Animalife correu muito bem, como sempre. Os portugueses são muito solidários e notamos que com os animais o são muito, talvez por saberem que os géneros que recolhemos fazem mesmo muita falta e são mesmo destinados aos animais abandonados!
Nós, no Concelho de Caminha, vamos fazendo várias nos hipermercados locais, não tenho datas ainda marcadas mas colamos sempre na Página do Facebook da Associação, até para pedir voluntários para as mesmas!
Aproveito para agradecer a todos os voluntários que nos ajudaram na última grande campanha e nas outras várias, sem eles nunca seria possível e devo-lhes muito!
LP - Termine a frase: os animais são …
KT - Os animais são os seres mais puros do mundo, os únicos que dão amor sem esperar nada em troca!