Boa Saturnália! (*)



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Há muito tempo, vemos anúncios alegóricos à "quadra natalícia", apelando ao consumo através de rádio, jornais, TV, email, redes sociais e pessoalmente. Quando o Natal chega, todos já estamos cansados de ouvir falar dele.

Actualmente, não sinto nenhum entusiasmo pelo Natal, mas recordo como era esse dia antigamente. Era um momento alegre de festa para a família, especialmente para as crianças que se dedicavam a montar detalhadamente o presépio para comemorar o nascimento de Jesus. Na época, não havia televisão, telemóveis, nem internet.
No Minho e em todo o lado, a noite de consoada era aguardada impacientemente por todos. A família reunia-se à volta da enorme lareira, assavam-se as pinhas pequenas, preparavam-se os pinhões, jogava-se "ao rapa", contavam-se histórias e anedotas.
À ceia, era servido o tradicional bacalhau cozido com couve-galega, o arroz de polvo, os formigos, as rabanadas, aletria, etc… A ceia era acompanhada por vinho verde, jeropiga e vinho do Porto. À meia-noite, muitos iam à "Missa do Galo", onde era frequente encontrar alguns homens já "bem bebidos", que chegavam até a vomitar durante a missa.
Os presentes deixados durante a noite pelo "Menino Jesus" junto à lareira eram invariavelmente peças de roupa e só eram abertos pelas crianças na manhã seguinte com grande entusiasmo e alegria.
O Natal das crianças de hoje é muito diferente. Ele é apenas mais um "dia das prendas da Popota, da Leopoldina" e já pouco do Pai Natal e muito menos do “Menino Jesus”, não se contentando apenas com roupa. Os tempos mudaram, e as prendas agora são também outras: computadores, iPads, iPhones, iWatch's, MacBook's, Drones, jogos, sei lá que mais…
Embora o Natal seja, para as crianças, o esperado "dia das prendas", para muitos adultos é também uma oportunidade para se mostrarem e fazerem ver à sociedade o seu lado "bonzinho" e "solidário", oferecendo sorrisos e esmolas aos pobres e desejos de boas-festas a todos.
Infelizmente, o Natal, salvo excepções, tornou-se para algumas pessoas e até instituições, uma oportunidade hipócrita e cínica para facturar, “lavar a imagem” e mostrar a sua falsa generosidade sazonal.
Numa sociedade que enfrenta moderação, crise e até fome, muitos deixam-se infantilmente embalar pelo agressivo e constante apelo ao consumo, esquecendo o verdadeiro significado do dia.
O Natal não passa de um negócio, um apelo ao consumo, lucro e uma montra de vaidades para alguns cínicos e hipócritas "beneméritos" de ocasião, que só agora percebem que os "pobrezinhos" existem e também precisam comer durante todo o ano.
A todos, boa Saturnália!
— Nota: Texto escrito há alguns anos, ligeiramente actualizado
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(*) A Saturnália era um festival romano anual que celebrava o deus Saturno, o deus da agricultura e da colheita. O festival era comemorado durante o solstício de Inverno, até a véspera do actual dia de Natal.
A Saturnália era um período de celebração e festa. As pessoas trocavam presentes, comiam e bebiam em abundância, e participavam de jogos e actividades recreativas. Os escravos também eram livres das suas obrigações durante a Saturnália e eram tratados como iguais aos seus senhores.
Baco e Dionísio eram deuses associados ao vinho, à fertilidade, ao forrobodó, à alegria, aos rituais, ao êxtase, à putaria e à celebração. Como tal, eram divindades importantes durante a Saturnália. O "pecado" não existia.
Durante a Saturnália, as pessoas costumavam vestir-se como Baco ou Dionísio, e era um período de celebração e alegria, um momento para as pessoas se libertarem das restrições da vida quotidiana. É por isto que celebro a Saturnália.
Viva a Saturnália!
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Manuel Araújo
Author: Manuel AraújoEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
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