Uma história e património que se perde



Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!


A história e o património marcam a identidade de um país, cidade e, até, uma vila … Por vezes, o tempo é pouco amigo pois vai-se deteriorando e desaparecendo se as entidades competentes não olharem para tal com outros olhos ou como parte integrante de um povo.
A vila minhota de Caminha é exemplo disso, já que as suas meias-casas, toda uma história da classe piscatória, está em vias da extinção.
Poucas são as que existem e as outras foram sendo adquiridas e totalmente modificadas ou até mesmo de duas edificou-se uma.
«O Património Arquitectónico pode ser importante, como está em risco e como deve ser salvaguardado», salienta Renata Monteiro, uma jovem arquitecta caminhense que elaborou a sua tese de mestrado abordando a história da rua, em Caminha, e das suas meias-casas.

Este património distingue-se pela sua tipologia singular e diferente. As meias-casas são o reflexo construído de uma comunidade, a comunidade piscatória Caminhense, e, ainda, são reflexo da vida familiar e do trabalho do pescador Caminhense.
A meia casa é um volume estreito (15 palmos medievais aproximadamente, correspondentes a meio-chão), térreo com uma distribuição funcional linear e padrão, igual em todos os exemplares: entrada/sala-quarto-quarto-cozinha. Possuem uma postura autoportante em pedra e paredes interiores em tabique ou tijolo.
Surgem alinhadas ao longo da Rua, possuindo apenas uma água nas coberturas em telha.

Das características mais singulares das Meias-Casas podem-se destacar as fachadas rectangulares que escondem a cobertura, de pequenas dimensões, com uma pequena porta e ou brancas ou coloridas ao longo da Rua. Também o estreito e longo corredor que acompanham toda a extensão da habitação e a existência da divisão chamada pelos da Rua de Torre. Esta divisão era a de mais altura da Meia-Casa e possuía antes a única janela da habitação, com vista directa ao Rio Minho. «Era a divisão mais romântica da Meia-Casa de Pescadores Caminhense», refere Renata Monteiro.

Mas, retrocedemos no tempo e a história surge! … Quando se iniciou a edificação das meias-casas?
Através de uma exaustiva pesquisa Renata Monteiro afirma que a « comunidade piscatória caminhense existe desde a época de surgimento da povoação caminhense. Inicialmente, terão tido a sua localização na zona da Fonte da Vila, tendo-se posteriormente fixado no interior da Muralha Medieval».

Apesar de vários autores referirem que a Rua é arrabalde da Vila e portanto terá surgido pelo século treze, a pesquisa de arquivo que Renata Monteiro levou a cabo revelou a existência de uma carta de 1506 do Duque de Caminha a dar autorização aos pescadores da vila a poderem fixar-se fora das muralhas para que estas não se tivessem de abrir durante e noite quando saíssem para a pesca, colocando em risco a defesa da praça-forte. A partir desta data é certo que a comunidade se terá desenvolvido ao longo da Rua, artéria actualmente conhecida como Rua dos Pescadores.
Abandonadas? Esquecidas? Na verdade, a história de uma classe e comunidade pode se esvaziar no tempo …{gallery}gallery/04-03{/gallery}

Luso.eu - Jornal das comunidades
Isabel Varela
Author: Isabel VarelaEmail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
Para ver mais textos, por favor clique no nome do autor
Lista dos seus últimos textos



Luso.eu | Jornal Notícias das Comunidades


A sua generosidade permite a publicação diária de notícias, artigos de opinião, crónicas e informação do interesse das comunidades portuguesas.