Em Almeida e em Castelo Mendo



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      1.   Almeida é uma vila fortificada, cingem o respetivo centro histórico muralhas que compõem um polígono hexagonal estrelado. Seis revelins protegem as cortinas situadas entre os seis baluartes. Tal armação de defesa foi erguida nos séculos xvɪɪ e xvɪɪɪ.

            Por mor da cerca de pedra, o visitante que cirande nessa parte antiga de Almeida sempre vai recordando que ali existiu relevante praça de guerra. Aliás, o picadeiro, um dos chamarizes da terra, fica num dos baluartes, o de Nossa Senhora das Brotas, e funciona, desde finais do século xx, num complexo que serviu para guardar, fabricar e reparar aprestos de combate.

            Outrossim, há intramuros vários edifícios cuja construção decorre da vocação castrense do burgo, por exemplo, o Quartel das Esquadras, do século xvɪɪɪ, com duas fachadas compridas, e o imóvel onde, desde o século passado, está instalada a câmara municipal. Obedece ao estilo neoclássico, substituiu obra destinada a fins militares e é, para mim, o mais bonito tesouro de Almeida. Um lanço de escadas precede a frontaria — organizada de forma simétrica —, que apresenta, no centro, um pórtico de tripla arcada, encimado por frontão com pedra de armas e coroado por três urnas. Cada um dos panos laterais, rebocados e pintados de amarelo, tem duas janelas.

            No que respeita à arquitetura civil, a praça‑forte conta com algumas casas de traça interessante. Fomos ao Solar de São João, mandado construir em 1726 por José Delgado Freire, coronel de infantaria, hoje aberto ao público e explorado por uma sociedade comercial, a Risoturismo. A visita, guiada por um cavalheiro gentil, bom explicador, que inflava ao dar algumas explicações, valeu a pena, mas não há aposento ou objeto que aqui queira pôr em evidência. Quanto à arquitetura religiosa, menciono a Igreja da Misericórdia e a Igreja Matriz, mas não encontro motivos para nelas me deter.

            Sobre os almeidenses e os contactos que com eles tivemos, há pouco a relatar. Na estação dos correios, vimos velhos que ali pagavam a conta da água e a da eletricidade, não tinham à‑vontade para as liquidar através do multibanco. E só metemos conversa com Maria Celeste, na lida da horta em que cultivava cebola, alface, couve e cidreira. A charla foi curta, mas suficiente para ela revelar dadivosidade pronta.

       2. A tarde caminhava para o fim quando chegámos a Castelo Mendo, aldeia fortificada do concelho de Almeida. Passeámos, sentimos sugestão de medievalidade e, porque a Igreja de São Vicente e a Igreja de São Pedro estavam fechadas, acabámos por nos concentrar nas ruínas de um templo românico situado num outeiro, a Igreja de Santa Maria do Castelo. A respetiva frontaria ganha beleza por ter, no topo e alinhado com o portal, um campanário com duas aberturas para os sinos. A igreja abriga uma capela lateral com teto de estilo alfarge.

            Topámos portugalidade nas ruas, no património e na conformação de Castelo Mendo. E notámo‑la igualmente num dito comum entre o povo, numa frase que rasgou o ar, vinda da loja de artesanato diante da qual passávamos: «Na prisão vivem muito bem, têm comida e bebida de graça e tudo à nossa custa.»

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Paulo Pego
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