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Sílvia Gonçalves Paradela é luso-belga. Veio para a Bélgica já com 12 anos de idade e decidiu pedir a nacionalidade belga para participar melhor na vida cívica do pais sendo agora candidata pela lista do Partido socialista as próximas eleições regionais em Bruxelas.
Nós quisemos conhecer melhor a candidata através do seu programa.
LUSO: Uma das suas prioridades é o reforço da participação política dos luso-descendentes. Como pretende atingir esse objetivo?
Sílvia Gonçalves Paradela: Em primeiro lugar, espero que a minha candidatura inspire outros luso-descendentes. De facto, já há jovens que se interessam e até participam de forma ativa na política belga, havendo mesmo alguns eleitos a nível local. Infelizmente, comparando com outras comunidades estrangeiras residentes na Bélgica, a participação da comunidade portuguesa é limitada. Isso tem de mudar. E porquê? Porque, se não houver representantes portugueses, a nossa comunidade e os seus interesses nunca irão ser entendidos nem nunca poderão pesar nas decisões que aqui são tomadas. Decisões a nível local, mas também regional e federal. Quero salientar que somos umas das maiores comunidades na Bélgica e ainda não temos nenhum eleito nos diversos parlamentos ou nomeado para um alto cargo político.
Em segundo lugar, se for eleita, quero ir ao encontro da nossa comunidade e isso poderá ser feito através de reuniões, debates ou de outros eventos de sensibilização. Pretendo fazer isso com o apoio dos interlocutores reconhecidos, nomeadamente, o nosso representante no Conselho das Comunidades Portuguesas. Sei que há algumas queixas sobre o funcionamento das estruturas de apoio aos emigrantes e quero contribuir ativamente para encontrar e implementar as soluções que passem pela articulação entre as autoridades belgas e portuguesas.
LUSO: Além disso, também quer reforçar a participação das mulheres. Certo?
SGP: Sim. A falta de participação das mulheres é um problema transversal, ou seja, está longe de se limitar à nossa comunidade. Eu pretendo atuar junto de todas as comunidades para que aumente a participação das mulheres na política. Há ainda poucas mulheres na política de maneira geral. Mas, pior, ainda há muitas discriminações nomeadamente a nível salarial e de respeito individual. A igualdade ainda não existe e, como feminista, quero lutar para que isso mude.
LUSO: Uma outra medida importante para si é a questão ambiental. Pode detalhar essa proposta?
SGP: Para mim, toda a temática ambiental é muito relevante. Temos essa responsabilidade perante gerações futuras e por nós próprios. Durante décadas, apenas tivemos em conta o desenvolvimento, o progresso e a produtividade sem ter em conta a qualidade ambiental. O pilar ambiental do desenvolvimento sustentável foi preterido e, hoje, já todos reconhecemos que isso foi um erro grave.
LUSO: E quais são as medidas urgentes que queria implementar?
SGP: Para mim, a nova abordagem ambientalista passa por várias medidas e gostaria de aqui salientar três que me parecem muito relevantes.
- investir mais e melhor nos meios de transporte público para que as pessoas utilizem menos as suas viaturas privadas. É inacreditável o número de carros que circulam em Bruxelas com apenas uma pessoa e isso, estou em crer, resulta de uma inadequação dos transportes públicos tanto em termos de conforto, como de adequação de trajetos e de horários. É preciso ir ao encontro destas pessoas, entender o que se passa e alterar o que houver para alterar.
- é importante promover a agricultura urbana. Há muitos espaços que poderiam ser transformados em hortas coletivas. Esta medida, parece-me que, também permitiria lutar, de uma certa forma, contra a pobreza.
- a gestão de resíduos é outra componente que me parece muito relevante. Temos de implementar uma política mais consequente ao nível da redução consumo, redução do uso de embalagens, aumentar a reutilização e aumentar os níveis de reciclagem. Não faz sentido que os plásticos não sejam todos reciclados. Noutros países isso não é assim. Há que desenvolver também novos canais de reciclagem, nomeadamente para óleos usados e outras tipologias que acabam por ser despejadas nos esgotos ou engrossar o lixo comum. Ainda no que diz respeito aos resíduos, teremos de repensar o sistema de recolha em baixa (ou seja, porta a porta). Não faz sentido ver o lixo espalhado pelas nossas ruas. Não tenho a solução, mas tenho a certeza que, pensando em conjunto, encontraremos uma forma alternativa de recolher os resíduos em relação ao que estamos a fazer.
LUSO. Outra prioridade sua também é o apoio às pessoas mais vulneráveis e aos idosos.
SGP: Exatamente. As pessoas idosas e as pessoas vulneráveis são, de facto, uma prioridade para mim. Penso que temos de ser mais solidários e temos de combater todas as formas de exclusão social. Isto é, temos de construir uma sociedade que não deixe ninguém para trás.
LUSO: E que pretende fazer para que isso mude?
SGP: Neste caso, julgo que é necessário e mesmo urgente implementar três medidas:
- garantir melhores preços em lares de idosos "all in". Há uma disparidade enorme de preços e falta transparência no sector. Mas o mais importante para mim, é também apoiar o projeto “aluguer kangoroo”. Este é um projeto muito interessante e que em simultâneo resolve dois problemas. Por um lado, combate a solidão dos idosos e, ao mesmo tempo, permite aos jovens, neste caso estudantes comuns ou estudantes Erasmus, beneficiarem de um aluguer a um preço acessível. E todos nós sabemos que os alugueres são muito caros em Bruxelas.
- desenvolver os primeiros projetos habitacionais para as pessoas que não têm abrigo. Há também um número crescente de pessoas que, por várias infelicidades da vida, vivem na rua e sem qualquer hipótese de um dia sair de lá. Por isso, o primeiro passo para que estas pessoas sejam novamente integradas na nossa sociedade é dar-lhes dignidade atribuindo-lhes um alojamento condigno.
3· dar mais apoio às famílias monoparentais. A nossa sociedade mudou muito e já não é exatamente a mesma que conheceram os nossos pais. Há cada vez mais mães e pais que vivem sós com as crianças e que têm dificuldades em conjugar a vida familiar e a vida profissional.