Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
Cabo-verdianos ouvidos pela agência Lusa consideram acertadas as novas medidas do Governo para conter a propagação da covid-19, como proibir festas de passagem de ano nas ruas, mas há quem queira aprender a conviver com o vírus.
Albertino Furtado Monteiro é representante da empresa Fresh Alimentar e Comércio, que faz importação de produtos frescos, como mariscos, para fornecer a um hotel na cidade da Praia, mas que ainda está fechado, perspetivando abertura para março de 2022.
Por isso, optou por não importar nesta altura, mas sim aproveitar os seus conhecimentos para ajudar colegas a colocar os seus produtos em bares, restaurantes e minimercados da capital.
“Como eu tenho muitos amigos que ajudo a fornecer, as expectativas que eles tinham é que normalmente, a partir de quinta-feira [hoje], poderiam ganhar alguma coisa”, deu conta este empresário, em declarações à agência Lusa.
Na terça-feira, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, anunciou que o país regressa à situação de contingência face ao aumento de casos de covid-19 nos últimos dias, exigindo teste negativo no acesso aos restaurantes e proibindo festas de passagem de ano nas ruas.
Para Albertino Monteiro, as novas medidas vieram que nem um “balde de água fria”, já que muita gente que tinha alguma festa programada para a passagem de ano “vai ficar com um pé atrás”.
E deu como exemplo um amigo que optou por cancelar uma atividade, para evitar ser criticado posteriormente, em caso de aumento de novos casos na capital cabo-verdiana e no país.
De qualquer forma, o empresário aprova as novas medidas, entendendo que a saúde pública deve sobrepor-se aos negócios.
“Acho que é melhor, nós é que temos que ter muita cautela uns com os outros”, terminou Albertino Monteiro, natural da Ribeira da Barca, concelho de Santa Catarina de Santiago, e atualmente residente na Praia, depois de também ter vivido muitos anos nos Países Baixos.
Um dos restaurantes-bar com que Albertino colabora para fornecer produtos frescos é o 'Orla', que abriu em 23 de dezembro em Quebra Canela, zona balnear, precisamente onde a Câmara Municipal da Praia já realizou festas populares de passagem de ano, mas não tinha anunciado nada para este ano.
O dono do espaço, Cessar Frederico, apesar de as expectativas serem altas, decidiu cancelar o primeiro baile de Fim de Ano, que iria contar com 100 pessoas.
“Tínhamos esta expectativa, mas dada a situação temos que colaborar com as autoridades e contribuir para a melhoria da saúde pública”, afirmou o responsável, que não considera que tenha sido um prejuízo para o negócio, mas sim um ganho pela contribuição para a saúde pública.
Por isso, entendeu que a medida do Governo e dos responsáveis de saúde foi “muito prudente”, mas garantiu que assim que houver condições o 'Orla' vai realizar o baile de Fim de Ano “fora de época” e no próximo ano será um ‘réveillon’ “a dobrar”.
Quem também considera que as novas medidas são acertadas é Hirondina Lopes, natural da ilha de Santo Antão, mas residente há mais de 40 anos em Itália, e que está há alguns meses de férias em Cabo Verde, primeiro em São Vicente, e agora na cidade da Praia, para as festas de Natal e fim de ano com a filha.
Mesmo entendendo que a situação da pandemia em Cabo Verde é melhor do que a da Europa, a emigrante cabo-verdiana aconselha “alguma precaução”, devido aos aumentos de casos nos últimos dias, pelo que avalia positivamente as novas medidas do Governo.
“É uma coisa boa. Estou de acordo”, afirmou à Lusa, sentada num banco da praça Alexandre Albuquerque, no centro histórico da cidade da Praia.
“Se não cuidarmos podemos perder o controlo da pandemia, não só para nós, mas para quem também está ao nosso redor”, disse, alertando que o vírus ainda está a circular, pelo que é melhor cancelar todas as festas públicas de passagem de ano no país.
Opinião diferente tem Carlos Alberto Tavares, que considera que há muita gente que não tem interesse nessas medidas, porque precisa de ganhar algo todos os dias para sobreviver, e qualquer atividade de rua é uma oportunidade para negócio.
“É melhor morrer do novo coronavírus do que morrer de fome. Há muita gente a passar fome em casa”, denunciou, afirmando que a situação vai dessas pessoas vai piorar.
Por isso, entende que é preciso aprender a viver com o novo coronavírus. “Fechar não é solução”, sustentou, dizendo que há pessoas que vão fazer festas escondidas e em espaços sem as mínimas condições de distanciamento, o que poderá ser pior.
“Mesmo com estas medidas, os casos vão aumentar”, antecipou este residente na Praia, mas natural de São Salvador do Mundo (Picos), considerando que é melhor forma de combater e controlar a propagação do vírus é sensibilizar as pessoas para se prevenirem.
O primeiro-ministro disse que a proibição da realização das habituais festas de passagem de ano na rua é uma medida para “evitar o alastramento da doença, evitar a pressão sobre o serviço nacional de saúde e evitar efeitos danosos sobre a economia, nomeadamente o emprego e o rendimento das pessoas”.
Além de muitos eventos particulares em todo o país, alguns já foram cancelados, a única festa pública de passagem de ano na rua tinha sido anunciada em São Vicente.
Entre as novas medidas, voltou a ser obrigatório o uso de máscara na via pública, a realização de espetáculos só é permitida mediante a apresentação obrigatória de testes com resultado negativo e é obrigatória a apresentação de certificado de vacinação covid-19 ou de recuperação, com segunda dose de vacina.
Só na semana passada, o país registou mais de 500 casos novos de infeção por SARS-CoV-2, a taxa de incidência acumulada passou de 24 casos por 100 mil habitantes para 110 casos de 13 a 26 de dezembro.
Até segunda-feira, o arquipélago regista uma taxa de transmissibilidade (Rt) de 2,52 a nível nacional, uma taxa de positividade (entre os testes realizados) de 6%, mas apenas 7,7% de ocupação hospitalar com casos de covid-19, correspondente a sete doentes internados.