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A poucos dias do início da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), os comerciantes das imediações do Parque Tejo Trancão (Lisboa e Loures) ultimam os preparativos para receber os peregrinos com um misto de otimismo e ceticismo.
Na avenida principal de Moscavide situada a cerca de dois quilómetros do Parque Tejo Trancão, são já visíveis vários elementos alusivos à JMJ, uma situação que contrasta com o que a agência Lusa observou em alguns estabelecimentos comerciais desta vila do concelho de Loures.
A menos de uma semana do início da Jornada Mundial da Juventude, os preparativos para responder a um previsível aumento da afluência de clientes é “muito discreta”, continuando os estabelecimentos a funcionar com normalidade.
Alguns comerciantes ouvidos pela Lusa disseram estar com um misto de otimismo e de ceticismo, preferindo “esperar para ver o que vai dar”.
“Temos sempre esperança que se faça mais qualquer coisa, que se trabalhe mais um bocadinho. Por isso mesmo não iremos de férias”, contou Fernando Martinho, proprietário de uma pastelaria.
Para responder a um eventual aumento de procura durante a JMJ, o comerciante decidiu “aumentar o ‘stock’ de águas e o fabrico de bolos.
“É natural que para a semana vá reforçar um bocadinho, pelo menos em termos de bebidas. Em termos de comida não sirvo refeições, mas como tenho fabrico próprio de pastelaria é só reforçar o 'stock' de farinha, açúcar e os ingredientes necessários. O resto é fabricar mais um bocado mediante a solicitação que a gente veja que está a andar”, apontou.
Uns metros mais à frente, próximo da estação ferroviária de Moscavide, também o comerciante António José de Almeida, proprietário de um café, manifesta algum otimismo em relação ao negócio na semana da JMJ, ainda que disponha de “pouco espaço” no seu estabelecimento.
“A expectativa é alguma. Não pode ser enorme, mas é alguma. Poderá ser alguma confusão, restrições de ruas, mas existe expectativa”, afirmou.
Sem muitas certezas, o comerciante vai aumentar o 'stock' de bebidas e de comida, uma vez que dispõe de serviço de ‘take away’.
“Nós estávamos a pensar exatamente nessa semana reforçar um bocadinho o 'stock', prepararmo-nos. Não sabemos se as ruas, os acessos nos facilitam isso também, mas estamo-nos a preparar para isso”, observou.
Já no concelho de Lisboa, na freguesia do Parque das Nações, bem perto do recinto do Parque Tejo, onde decorrerão as principais cerimónias da JMJ, no fim de semana de 05 e 06 de agosto, os comerciantes manifestaram uma expetativa “enorme”, sendo que alguns até estão a preparar receitas especiais.
“Vou tentar fazer um gelado em homenagem ao Papa, que será um gelado de hóstia”, contou orgulhosa Anabela Dias, que trabalha numa geladaria a paredes meias com o recinto do Parque Tejo.
Enquanto vai atendendo vários pedidos, a comerciante sublinha que a JMJ pode ser uma oportunidade para compensar as perdas que ocorreram durante a pandemia de covid-19.
“Esperemos que seja bom para todos nós porque tivemos a fase da pandemia. Que isto seja algo que nos venha dar algum alento ao nosso trabalho. É isso que estamos à espera. Que venha muita gente de fora”, perspetivou.
Na porta ao lado, o sentimento é partilhado por Lara Hortelão, proprietária de um salão de beleza, que perspetiva também um boa oportunidade de negócio.
“Acho que as pessoas ainda não sabem bem o que vai dar, mas eu acho que vai ser bem positivo para o comércio. Pelo menos em termos de publicidade, acho que o Parque Rio está a ter uma grande visibilidade. Nesse aspeto será bom”, apontou.
As oportunidades de negócio que a JMJ pode trazer para o comércio são também realçadas pelo presidente da Associação Empresarial de Comércio e Serviços dos concelhos de Loures e Odivelas, Rodolfo Cardoso (AECSCLO), que tem procurado esclarecer os seus associados.
“Praticamente todos [comerciantes] entenderam a importância que é um evento desta dimensão porque vai, efetivamente, acarretar um volume grande de movimentação de pessoas, peregrinos, de visitantes e que automaticamente proporcionará novas oportunidades de negócio”, sublinhou.
Apesar de estarem consciencializados para a importância do evento, o presidente da AECSCLO admite que muitos comerciantes estão também a adotar uma postura de reserva, devido à incerteza sobre o que vai acontecer.
“Há um sentimento de oportunidade, de valorizar os seus negócios, as suas marcas, mas também um sentimento de reserva porque, quer queiramos quer não, é um evento inédito aqui no nosso território”, afirmou.
Questionado pela Lusa sobre a fraca adesão aos ’vouchers’ de refeições para os peregrinos, Rodolfo Cardoso explicou que tal se deveu às “exigências” que foram colocadas aos comerciantes.
“Muitos deles têm o seu negócio vocacionado para aquilo que é o seu dia-a-dia, para os seus clientes habituais. Se calhar não estão, neste momento, logisticamente preparados para diversificar o menu ou para adotar outro tipo de embalamento, que é exigido”, justificou.
Apesar das dificuldades e do desafio, Rodolfo Cardoso acredita que o comércio irá “aderir em massa” ao evento.
“Foi esse o desafio que lhes lançámos. É essa a expectativa que temos e agora iremos aferir essa realidade. Eu espero que sim e estou convicto que sim”, sublinhou.
Lisboa foi a cidade escolhida pelo Papa Francisco para a próxima edição da JMJ, considerada o maior acontecimento da Igreja Católica, que vai decorrer entre os dias 01 e 06 de agosto, sendo esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas.
A JMJ nasceu por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.
A primeira edição aconteceu em 1986, em Roma, tendo já passado por Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019).