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Sara Rocha, autista, co-fundadora da Associação Portuguesa do Autista, encontra-se a trabalhar e residir no reino Unido. Estivemos à conversa para perceber um pouco mais sobre autismo na vida adulta.
Quem é a Sara Rocha?
31 anos de idade. A viver em Inglaterra há mais de dois anos. Antes estive a residir e a trabalhar na Áustria, em Salzburgo. Decidimos regressar ao Reino Unido, de onde o meu companheiro é natural.
Sou gestora de dados na Universidade de Cambridge. Responsável por organizar e harmonizar dados de saúde na área cardiovascular.
Licenciatura em Análises Clínicas e Saúde Pública. Mestrado em Gestão e Economia de Serviços de Saúde. Gestora de informação na área da saúde na OMS.
Quais foram as primeiras dificuldades que sentiu ao sair de Portugal?
Vida por conta própria, entregue a mim mesma, na Áustria e a língua, o alemão.
Ponto positivo dessa saída?
Qualidade de vida. Possibilidade de visitar o meu país sempre que necessário.
Espera um dia regressar a Portugal?
Se houver condições para tal.
Qual a sua relação com o autismo?
Sou autista. Sou co-fundadora da Associação Portuguesa do Autista. Sou também activista a nível internacional. Estou ligada à comunidade internacional do autista.
A associação procura o apoio na área de projecto de empreendedorismo social a nível europeu. Pertence ao Conselho Europeu de Pessoas Autistas.
No Reino Unido já existem maiores progressos quanto à acomodação do autismo na vida adulta?
Existe sempre a ideia de que no Reino Unido as coisas são sempre melhores. Nem sempre é assim e só depende das condições que são criadas em cada país para desenvolver este trabalho.
A partir do Reino Unido existe a oportunidade de contactar com pessoas que já estão a fazer este tipo de trabalho aqui e no resto da Europa, essencialmente dedicado aos adultos autistas, por haver pouca informação.
Há quantos anos está ligada ao projecto da Associação Portuguesa do Autista?
Ao autismo estou ligada desde que vim para o UK. Estou ligada à Associação Portuguesa do Autista desde a sua fundação, ou seja, há um ano.
Desde o momento que se envolveu com esta causa, sente que houve progresso?
Sinto que houve uma evolução. Existe uma plataforma para dar voz aos projectos nas áreas da educação, da saúde e da formação. Já temos uma parceria com uma empresa portuguesa de vestuário inclusivo com roupa sensorial.
O que significa roupa sensorial?
Roupa sensorial destina-se a pessoas com desordem de processamento sensorial, provocando estímulos hipo reactivos ou híper reactivos. Estas roupas não têm etiquetas, apenas têm costura mínimas para não interferir com a pele e são roupa de algodão adequadas a adultos.
Da condição de autista, quais são os pontos fortes que destaca?
Racionalidade, lógica, elevada capacidade para detectar padrões, híper foco em determinados interesses, capacidade de memória adicional para esses interesses. Destaco ainda a frontalidade sem filtro pelo facto de sermos demasiado honestos e por esse motivo a dificuldade de socialização.
Por vezes existem dificuldades de reciprocidade emocional numa iniciação ou no desenvolvimento de uma conversa.
Existe um problema da empatia dupla. As relações na criação de empatia ou no desenvolvimento de uma conversa, funcionam entre autistas, mas existem quebras de comunicação entre um autista e o resto do mundo.
O código de comunicação e socialização (e não biológica) tem uma base cultural e o problema poderá advir daí.
06-04-2022
O autor produziu este artigo de opinião, da sua responsabilidade, em exclusivo para os leitores do jornal online LUSO.EU. Escreveu de acordo com as regras ortográficas anteriores ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.