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Vencedora do Prémio Literário Aldónio Gomes, da Universidade de Aveiro, em 2013, com a obra “A Bruxa de Grade”, Paula Teixeira de Queiroz encontrou-se enquanto pessoa e vive neste momento “da” e “para” as letras. Entrevista à autora, a assinalar o Dia Internacional da Língua Materna, a 21 de fevereiro, e a poucos dias do final do prazo de candidaturas ao Prémio Aldónio Gomes (28 de fevereiro).
Lembra-se do seu primeiro contacto com os livros?
Digo sempre que nasci no meio de livros. Do lado paterno, uma família de jornalistas – temos um jornal com 108 anos, o "Notícias dos Arcos" -; do lado materno, uma família de escritores, com relevo para o bisavô Francisco Teixeira de Queiroz, tendo António José Saraiva e Óscar Lopes na História da Literatura Portuguesa comparado o seu talento ao de Eça de Queirós.
Como começou a escrever e porquê?
Sempre escrevi e li. Desde muita pequena que o meu pai me contava longas histórias e recitava poemas. E havia muitos livros, claro! A minha avó paterna lia-me o “Amor de perdição”! Aquele dramalhão ficava a dançar-me nos olhos e na cabeça… Escrever foi um ato natural, como comer ou beber. (Risos)
Entre começar a escrever e escrever um livro, passou muito tempo? Como tomou essa decisão?
Sempre escrevi, sobretudo a partir do momento em que uma tia me ofereceu um diário, teria eu 8 ou 9 anos. Aos 10 anos ofereceram-me o Diário de Anne Frank e também eu escrevia à “querida Kitty”. Estranhamente, decidi estudar Direito. Para me “vingar” da aridez do curso lia desalmadamente mas escrevia pouco. Para responder a essa pergunta diria que foi um interregno de 25 anos, mais ou menos. Cerca de 2004, comecei a escrever crónicas em jornais, sobretudo no Notícias dos Arcos. Mais tarde, contos, até chegar ao romance. O meu grande sonho tomou forma num livro de contos em 2010, “Contos do Destino e do Desatino”, em que escrevo contos sobre o campo, o Minho onde nasci, e sobre a cidade, Lisboa, onde vivo desde os 18 anos. As críticas foram boas, nomeadamente de Mário Cláudio e Miguel Real. Em 2012, publico mais um livro de contos, “Contos de amor e desamor”, livro este também apreciado pelos leitores e críticos, e o grande desafio, e prémio Aldónio Gomes 2013, “A Bruxa de Grade”, que me convenceu de que a escrita é o meu caminho.
O que influencia a sua escrita?
As experiências de vida… Quer dizer, há uma base real e, depois, desato a inventar e a divertir-me com o que escrevo. Acho que escrevo com humor, descrevo situações caricatas que me fazem rir, não sou daquelas pessoas que só escrevem quando estão tristes, pelo contrário, se estiver mal não escrevo! Pode acontecer ser influenciada por outros escritores que me impressionam na altura mas sou muito independente e demasiado desorganizada para seguir esta ou aquela tendência. Têm dito que escrevo com o coração, que a escrita me vem do sangue (Miguel Real), e assim é. Diria que sou demasiado rebelde ou selvagem para me encaixar numa corrente.
Que autores (portugueses e estrangeiros) a cativam mais?
Já li tantos que me é impossível responder. Tive fases. A fase do Hemingway, Steinbeck, D. H. Lawrence. Muito mais tarde, Isabel Allende, Gabriel Garcia Marquez, Ian McEwan. Na adolescência e juventude, Agatha Christie, li tudo dela… Portugueses, além de Eça e Camilo, tenho lido os contemporâneos, valter hugo mãe, José Luís Peixoto, Mia Couto (moçambicano, bem sei!). Ainda em língua portuguesa, gostei especialmente de João Ubaldo Ribeiro, Erico Veríssimo… Estarei sempre a ser injusta ao nomear este ou aquele. Gosto de romance histórico, muito. Neste momento adoro Camilla Lackberg, a nova Agatha Christie, como os críticos lhe chamam…
Onde encontra inspiração para escrever?
Em tudo o que me rodeia. Se lhe disser, tudo, tudo, não estou a exagerar. Em mim. Todo o escritor escreve sobre si… Viajo bastante, e as viagens são sempre uma fonte de inspiração. Basta ler "A Bruxa de Grade". (Risos)
Quanto tempo dedica por dia à escrita?
Tenho de escrever um conto ou um capítulo por semana. À segunda e terça-feira vou pensando e tirando notas, escrevinhando. À quarta e quinta escrevo a sério. À sexta volto ao ritmo das anotações. E ao fim-de-semana penso pouco na escrita a não ser que esteja a preparar um livro. Mas estou sempre atenta! (Risos)
Como é um dia normal seu?
Faço o marketing dos meus livros e vendo-os no Facebook, apesar de agora também estarem na Fnac do Chiado e na LeYa na Barata, na Av. de Roma, em Lisboa, e em mais alguns sítios pelo país. Faço apresentações, participo em feiras… Faço apresentações de livros de colegas… E trabalho com o “Notícias dos Arcos”, o semanário onde sou diretora-adjunta.
Onde escreve normalmente?
Em casa. Escrevo bastante sentada na cama. Já costumava ler e estudar sentada na cama.
Como escreve?
Escrevo no computador portátil, já quase não sou capaz de escrever à mão. E anoto muita coisa no telemóvel.
O que significa para si escrever?
Viver.
O que é que a escrita lhe trouxe de positivo (além do prémio)?
Realização pessoal, descobrir o sentido da minha vida. Fui uma advogada frustrada, a não ser quando trabalhei em Direito Comunitário, representando os editores portugueses nas associações europeias sediadas em Bruxelas. Foi muitíssimo interessante, deu-me segurança, maturidade, e muita inspiração. Na década de 2000/2010 amadureci e realizei-me pessoal e profissionalmente.
A escrita influencia a sua vida ou a sua vida influencia a escrita?
A minha vida inspira a escrita, definitivamente.
Acha que a escrita pode ajudar a ultrapassar momentos piores (como os que a sociedade portuguesa vive)? E a leitura?
Absolutamente. Mais do que nunca nesta época cinzenta, a arte é o que nos salva: a escrita, a pintura, a música...
Neste momento só escreve? É possível viver apenas da escrita? Deseja-o?
Praticamente só escrevo. Não consigo viver só da escrita, mas faço tudo para isso.
Se tivesse de influenciar alguém a comprar o livro “A Bruxa de Grade”, o que diria?
Diria que se iria divertir. Que é uma leitura surpreendente, um thriller psicológico que o vai agarrar do princípio ao fim.
Tirou um curso de Direito, Tradução e de Desenho. Também é escritora. Como concilia todas estas profissões ou interesses profissionais?
Ah, eu interesso-me por tudo… (risos). Tenho uma cabeça muito agitada, reajo a qualquer estímulo. Sou óptima a fazer lobby. (Risos) Hoje em dia a conciliação é fácil porque essencialmente escrevo, quer os meus livros, quer para o jornal “Notícias dos Arcos”.
O que significa para si ter recebido o prémio Aldónio Gomes?
Foi dos atos mais significativos da minha vida profissional. Sempre quis ser escritora e passei anos a “brincar aos advogados”. Significa que consegui realizar-me profissionalmente e como pessoa!
Que conselhos pode dar a quem escreve e quer publicar e concorrer a prémios como este, mas tem receio das críticas?
Medo das críticas, o que é isso? Nunca se faz nada a pensar nas críticas. Age-se por paixão. Escreve-se por impulso e paixão. O resto é secundário. As críticas são muito importantes numa segunda fase, para consolidar o nosso trabalho.
Foi difícil encontrar uma editora?
Olhe, isso é um assunto sensível para mim. Estou muito desiludida com as editoras com quem trabalhei. Quem tiver dinheiro pode publicar, não há princípios nem moral, apenas números. Tudo (ou quase) se faz por dinheiro. Por isso, à sua pergunta respondo que é muito fácil publicar, desde que se pague. De resto, é preciso ser-se conhecido, ter-se um nome na praça. É tudo muito difícil para jovens escritores. Por isso, os prémios são tão importantes. São a luz ao fundo do túnel, mas, e isto é muito importante, depois do prémio ganho tem de se batalhar muito. Ainda a propósito das muitas vantagens de se ganhar um prémio, é que as boas editoras ficam mais próximas.
Quais os seus planos para o futuro em termos de escrita?
Estou a escrever um quarto livro, vou sensivelmente a meio, e tenciono continuar na ficção, sejam contos, novelas ou romances.
Paula Teixeira de Queiroz
Paula Teixeira de Queiroz nasceu em Arcos de Valdevez e vive em Lisboa. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, é advogada de profissão. Concluiu o curso de Tradução pelo ISLA-Lisboa e trabalhou com a Associação Portuguesa de Imprensa como consultora jurídica para os Assuntos Europeus. Lobbyist na REPER, Comissão Europeia e Parlamento Europeu. Em 1996 realizou o curso de Desenho com o escultor Sebastião Quintino na Sociedade Nacional de Belas Artes. Cronista em vários jornais. Livros publicados: “Contos do Destino e do Desatino” (2010, Opera Omnia); “Contos de Amor e Desamor” (2012, Animedições) e “A Bruxa de Grade”, prémio Aldónio Gomes 2013 instituído pela Universidade de Aveiro (2013, Animedições e Universidade de Aveiro – Departamento de Culturas e Línguas). É mãe do Bernardo e da Francisca.