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Ser convidado para fazer um conjunto de exposições em Bruxelas, foi um desafio muito interessante. Sair de Cascais, de carro, com os meus quadros, foi como uma lufada de ar fresco, a lembrar a viagem do ano anterior onde expus em Nova York, na galeria de um amigo. A arte precisa de se abrir ao mundo e eu, com a minha pintura, não sou exceção. Esta abertura acaba por me dar uma apetência para fazer a minha migração para outras terras.
Apesar de apenas ter chegado há pouco tempo à Bélgica, tive a sensação que já tinha vivido neste país numa vida anterior. Percebi os belgas próximos dos portugueses, próximos de Portugal. Com as pinturas do nosso mítico elétrico 28, o que vai dos Prazeres até à Graça, que já apresentei em diversos lugares, os belgas reconheceram Portugal, reconheceram Lisboa, reconheceram o sol, a boa gastronomia e as boas gentes. Nas minhas exposições no Shopping de Woluwé, no Sablon e em outros lugares, tive oportunidade de perceber o amor que este povo tem por Portugal.
Foi na Galeria Pappilia, perto da Place Flageay, que encontrei o Joaquim Tenreira Martins, o Joaquim, como eu lhe chamo. Logo no primeiro dia, conversámos muito, mas nada sobre pintura. À medida que ia falando do meu percurso migratório, ia-se passeando na Galeria. Não me fez qualquer pergunta sobre os numerosos quadros ali expostos. Com algumas rugas e os seus cabelos grisalhos, percebi-o quase como um pai afetuoso e atento às prováveis banalidades que estava dizendo. Ao apertar-me a mão de despedida, prometeu-me um artigo sobre a minha pintura que enviou para o LusoJornal, sendo para mim uma surpresa, até mesmo para a compreensão da minha própria pintura.
Depois mostrou-me os seus escritos, os seus livros e quis associar-me àquele que vai publicar brevemente - o Rostos da Emigração. Rostos, pintei eu centenas e, ao ler o seu livro, na versão francesa, o tema sensibilizou-me, verdadeiramente. Talvez inspirado, as minhas mãos levaram-me instintivamente a procurar os pincéis e as cores que se impuseram a mim próprio. Pintei um rosário de rostos, o meu, o do autor, de pessoas que aqui conheci e também os meus amigos que tiveram de deixar o nosso país. Poderia ainda ter colocado outros.
Uma mão invisível ia colocando as cores. Suponho que não poderiam ser outras. Tons carregados, como carregados eram os rostos que eu li no livro de Joaquim Tenreira Martins, mas ao mesmo tempo, são rostos que caminham, que estão à procura de trabalho, de felicidade, de amor.
Também eu próprio procuro e não paro de caminhar e de mostrar aos belgas a minha pintura. Agora percebo melhor o seu antigo trabalho na Embaixada, ao dar-me a mão para fazer os primeiros passos neste país. Acabou de ver os meus quadros de cavalos e quis-me levar, de seguida, ao país destes equídeos, nos arredores de Bruxelas, a Hoeillaart. Suponho que, graças a este simpático autor, encontrei o meu mundo. Cavaleiros, amantes e simpatizantes de cavalos não se cansam de admirar as minhas pinturas. Também eu pretendo ir ao encontro das pessoas. Percebo a dificuldade de estar à espera delas nas galerias onde exponho. Não tenho nada a perder. Mostro a coleção das minhas fotos no meu Samsung. São centenas. A corrente passa. Convidam-me para expor e admiram-se do meu contacto fácil, da minha persistência e do meu marketing directo, com grande espanto do meu amigo Joaquim Tenreira Martins que está convencido que vim mesmo para ficar e viver neste país.
António Jorge Cristóvão
NOTA: A apresentação do ROSTOS DA EMIGRAÇÃO é neste dia 03 de Maio, às 18h30, na Sala Damião de
Góis, da Embaixada de Portugal em Bruxelas, Avenue de Cortenbergh, 12 – 1040 – Bruxelas