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Agosto é conhecido por ser o mês dos emigrantes. O regresso a casa da grande parte que saiu de Portugal, em busca de melhores condições de vida e novas oportunidades, que o seu país não lhes pode proporcionar.
Uns vêm para ver a família, outros juntam a isso também, por exemplo, idas à praia e aos mares quentes do Algarve ou passeios pelo Douro e Minho. Mas há ainda quem venha com outros planos em acréscimo; a decisão de uma vida: o casamento.
Assim foi com Silvana Teixeira de 23 anos e Daniel Teixeira de 24 anos, que decidiram dar o nó em Agosto de 2019. Ambos do distrito de Aveiro, ele da Gafanha da Nazaré, ela de uma pequena vila do concelho de Anadia (Avelãs de Caminho). Apesar de emigrados desde pequenos em Zurique, na Suíça, decidiram partilhar a sua união em terras lusas, onde “nas férias do verão, familiares e amigos se juntam de todas as partes do mundo”.
Mesmo tendo muitos amigos e familiares no país onde se encontram, não fazia sentido para este casal de Aveiro, unir os seus mundos noutro país que não fosse o que os viu nascer, “principalmente pela família”, mas também por ser “muito mais económico do que na Suíça”.
Silvana fala na complexidade de organizar um casamento estando emigrado, por ter viajado “quatro vezes a Portugal e os custos que isso acarretou, durante mais de um ano”. Mesmo assim, as novas tecnologias tiveram um papel crucial, bem como familiares, que evitaram mais deslocações. “Também a dona da Quinta nos facilitou certas coisas, como por exemplo na organização da decoração, ela organizou tudo e nós só escolhemos”, acrescenta ainda a assistente dentária.
Tudo isto contribiuiu para que o seu dia fosse perfeito e “não poderia ter corrido melhor”, com sol, música, muita comida e muitos convidados felizes por ver Silvana entrar como uma princesa, que seguia os seus sobrinhos com as alianças, por um caminho de pétalas; e entregue ao seu noivo de braço dado ao irmão e ao padrinho de casamento. Depois de todo o stress, “o esforço extra foi compensado e se fosse hoje casariam de novo em Portugal”.
Por outro lado, falámos com Virginia Matos, natural de Coimbra, de 32 anos, na Suíça desde 1993, que não seguiu o coração e a vontade de casar no seu país. A burocracia complexa e demorada de Portugal iria atrasar todo o processo e “a pressa e vontade de casar era muita”, pelo que optou com o seu noivo pelo casamento pelo Civil, em terras helvéticas. A ideia da project manager seria “fazer um casamento mais tradicional depois”, mas a separação três anos mais tarde levou a que esse dia não acontecesse. A coimbrense, relata que os seus pais, também eles emigrantes, casaram em Portugal e sabe que foi um processo longo e muito compexo, pelo que não queria ter de passar pelo mesmo, tem no entanto “vontade de um dia ainda casar em Portugal e na igreja” da sua aldeia.
Os planos do futuro incluem também o regresso a Portugal de vez, “o mais tarde na reforma, senão der antes”, pois acredita viver num país que “não dá valor ao matrimónio, por ser visto mais como um contrato”. “Pagam-se muitas taxas e pergunto-me se é um país feito para pessoas que queiram casar e criar família”, indaga Virginia salientando ainda, que apesar de não saber como é a vida de casado em Portugal, tem a certeza que mesmo podendo não ser melhor, teria tido muito mais apoio familiar e é disso que sente mais falta. Disso e dos valores que tem “que não são representados na Suíça” e daí a insatisfação em estar fora e o desejo de regressar o quanto antes.
Daniela Oliveira de 34 anos, já emigrou há 6 anos, após o casamento com Nuno Oliveira rumo a Londres, onde trabalha como Project Manager. Para Daniela e Nuno, da região de Aveiro, não faria sentido casar em Londres, caso este tivesse sido à posteriori, “pois sempre quiseram casar pela igreja e não faria sentido fazê-lo em Inglaterra”, além de que é em Portugal que têm todos os amigos e família. Diz que “fazer amigos em Inglaterra não é muito dificil, talvez porque há muita gente de fora, então as pessoas aqui estão acostumadas a ter pessoas de outros países e tendem a ajudar”, pelo que se fosse hoje o seu casamento “iria convidar sim alguns amigos daqui para o casamento”.
Como sabe a realidade de organizar um casamento em Portugal, diz que se o tivesse feito estando emigrada, teria de o fazer com mais de um ano de antecedência, porque foi o tempo que precisou estando lá. “Conhecendo-me como me conheço iria a Portugal com muita frequência, pois iria querer tudo ao pormenor e não confiaria em ninguém para organizar por mim”, brinca Daniela quando questionada sobre o que acarreteria organizar um casamento a partir do estrangeiro.
Daniela e Nuno gostariam de regressar a Portugal, porque lhes “custa mais estar longe da família e amigos”, mas é uma realidade que não está nos seus planos no momento, uma vez que a sua filha já nasceu em Inglaterra e acreditam poder dar-lhe uma vida melhor lá. Estar emigrado é algo que custa “porque não temos ajudas de ninguém e com a bebé ainda é mais dificil, mas tudo se arranja”, remata a aveirense.
A cidade do Barreiro viu sair André Pires para Zurique em 2012. A sua mulher Danielly Nobre juntou-se a ele com o filho em 2015. Casaram-se em Portugal e, se fosse hoje, o fariam de novo “para a familia e amigos estarem por perto”. Danielly, de 39 anos, acredita que a vida de casada na Suíça não é tão sociavelmente activa como em Portugal, “o que acaba por influenciar a vida a dois”.
Mesmo estando longe da família e amigos, que “faz muita falta”, só pensam regressar a Portugal na idade da reforma. “Sentimos falta de tudo, de amigos, abraços, afagos, do sol, do calor, da gente.. aqui sentimo-nos mais sózinhos e temos menos apoio”, não só da família e amigos mas também a nível escolar, onde em Portugal “as crianças têm mais actividades”. No entanto, para este casal do Barreiro, a educação e oportunidades que podem dar aos filhos na Suíça é “uma garantia de maior sucesso para eles”, pelo que antes de se reformarem não planeiam voltar a casa.
Já Tatiana Calvo, de 27 anos, filha de pai emigrante, nascida na França, mas com o amor por Portugal no sangue, mostra uma realidade diferente. Ainda não se casou, mas se o fizer com o seu parceiro francês, será em França, onde têm “todos os amigos, familiares e a nossa vida”. Os familiares que têm em Portugal e espalhados pelo mundo, “se quiserem terão de viajar até à França para assistir à cerimónia”, diz a funcionária escolar convictamente.
Apesar de tudo, afirma que tanto ela como o seu parceiro gostavam de “viver em Portugal”. Já a sua mãe Catherine Calvo, filha de emigrantes nascida em França, trouxe em 1988 o namorado da região de Aveiro, João Calvo, depois de se conhecerem nas férias de verão. O casamento pelo Civil foi feito em França, porque “a minha mãe não queria que ele estivesse connosco sem estarmos casados”, conta a porteira de 49 anos. Mas foi em Portugal, em Agosto de 1990, que a Igreja católica os uniu, uma vez “que aí estava a família toda do João e eu tinha amigos espalhados por todo o lado”, diz Catherine. O casamento “em Portugal contou com 300 pessoas no primeiro dia e 150 no segundo, hoje teria sido diferente”, acredita a francesa com alma portuguesa.
Para este casal, nunca foi dificil criar amizades em França. “Há muitas festas portuguesas e todos os fins de semana costumávamos juntar 3 a 4 casais”, conta Catherine.
Quanto à organização do casamento, as coisas à época eram diferentes e “para organizar, a minha mãe tratou de tudo no agosto anterior; a roupa eu e o João comprámos aqui; para o local, foi só alugar a casa de povo e falar com as cozinheiros que eram de lá, e na véspera tivémos que enfeitar a sala e por isso dormimos dentro da casa de povo, outros tempos”, recorda nostálgica Catherine Calvo.
Apesar de não ser portuguesa de gema, Catherine adora “o ar que é melhor e as pessoas e os produtos são maravilhosos”, já a França é onde se “trabalha e paga recibos”, que faz com que tenha ideias de na reforma andar a viajar entre França e Portugal, mas sem planos de ficar num sitio certo.
Sofia Novais 30 anos de Fafe, casou-se em Portugal pela igreja antes de emigrar para a Suíça, mas diz que “pela dificuldade de fazer amigos e pela família estar toda em Portugal”, se fosse hoje casaria de novo lá.
A empregada de limpeza, diz que é muito dificil “estar longe da família”, mas que pelas condições financeiras do país, será dificil regressar para perto dos que ama antes da reforma. Pela sua experiência, diz que a vida de casada “é muito melhor fora de Portugal, por haver mais interajuda entre o casal e mais respeito”. “Dedicamos mais tempo a nós e sabemos aproveitar todos os momentos, dando valor a pequenas coisas que no nosso país de origem não damos”, acrescenta Sofia, que está há sete anos em Zurique.
Em Junho de 2012, Sandra Santos juntou-se ao seu marido na Suíça, para conseguirem melhores condições de vida. Já casados em Portugal, afirmam que se fosse agora o fariam de novo lá e não na Suíça “onde não é fácil criar amizades, nem há muito espirito de entreajuda”. Apesar de muitas dificuldades que este casal atravessou na sua adaptação inicial, a sua filha adaptou-se muito bem e “somos muito felizes aqui”, relata Sandra que tem em Portugal “o cantinho e o refúgio das férias” e para onde pensa regressar na reforma do marido.
Também como Sofia, Sandra acredita que o seu casamento aqui conta com maior união, do que se vivesse em Portugal, por “sabermos que somos um para o outro”. Casaria de novo em Portugal , se fosse hoje, mas não “pelo preço das coisas, que são absurdos em Portugal”, sim pela família estar toda lá. Motivo pelo qual acredita não ser dificil organizar um casamento, “poderia contar com a ajuda de familiares, bem como o apoio da internet ”.
Sandra afirma que ha prós e contras em ambos os países, mas a vida é mais complicada estando em Portugal, pelas dificuldades financeiras. No entanto, acrescenta que na Suíça não sai “tanto como em Portugal, porque aqui é tudo mais caro; há que poupar, senão mais valia estar em Portugal”.
Marta Almeida de 27 anos, emigrada em Bruxelas desde 2016 celebrou o seu matrimónio religioso com Danilo Teixeira,de 26 anos, em Portugal, “onde toda a história começou”. Para o casal de Ovar, não fazia qualquer sentido casar na Bélgica, uma vez “que toda a família se encontra em Portugal e seria muito mais fácil” em termos logisticos. Claro que a questão económica tem o seu peso, já que “fazer um casamento da forma como os portugueses estão habituados a fazer, é sempre mais barato em Portugal do que na Bélgica”.
Marta e Danilo dizem ser fácil criar laços de amizade no país onde estão, pelo que levaram amigos “portugueses e alguns belgas” para o seu casamento, que pela complexidade de se estar noutro país, levou um ano e 4 meses a ser organizado. Apesar da ajuda dos pais e dos meios de comunicação actuais, foram precisas cerca de 6 viagens para ter “um dia fantástico, que nos encheu de orgulho e felicidade”.
“As várias horas que perdemos a procurar fornecedores, a enviar mails, em entrevistas por skype e presencialmente, em reuniões com forncedores, a viajar de avião e de carro, a pensar e ultimar detalhes foram todas elas compensadas; pois nós fomos felizes naquele dia e fizemos os nossos convidados também felizes nesse dia”, contam a técnica de radiologia e o dosimetrista de Ovar.
Ambos acreditam que estar casados noutro país tem as suas vantagens: “mais autonomia e independência como casal”. Apesar da distância dos familiares que ficam em Portugal e a saudade “que nunca diminui”, aprenderam que “existe outra família sem ser a de sangue, encontramos muita gente aqui que são como família para nós”. Por isso e pela falta de emprego na área e estabilidade económica e profissional, os planos de regresso a Portugal ainda não estão para breve na vida deste casal.
Angola foi o país de seleção do casal portuense Nuno de 45 anos e Susana, com 37. Casaram-se em Portugal antes de emigrarem, mas hoje fariam a mesma escolha, uma vez que têm “a esmagadora maioria da família e amigos em Portugal”, apesar de se sentirem “muito bem recebidos pelos angolanos, povo muito afável e de bem com a vida, bem como pela larga comunidade de expatriados”.
Sabendo o quão complexo é organizar um casamento em Portugal, seguramente estando fora, teriam de se preparar com “mais de um ano de antecedência e certamente teríamos de pedir ajuda a pessoas mais próximas para um evento dessa dimensão”, acrescenta o country manager português.
O casal portuense salienta que é muito dificil suportar “as saudades da família e dos amigos, mas também de algumas coisas que Portugal tem e Angola não”, coisas que como Nuno refere “parecem fúteis quando se vive em Portugal”, mas que para eles são essenciais, como “o simples facto de se andar tranquilamente na rua a passear, o trânsito organizado, entre outras coisas”.
Uma vez fora, o núcleo familiar consolida-se mais, “com menos família e amigos, vivemos uns mais para os outros”. No caso deste casal portuense, ao contrário de outros emigrantes, a vida social é mais activa, “fruto do clima e sociedade descontraída, descomplexada e sem julgamentos”. Em termos de ajudas o casal sente que tem menos apoios financeiros em Angola, “mas nos momentos críticos, as pessoas unem-se e estão sempre lá para ajudar”. Com a vida organizada em Luanda, Nuno e Susana não planeiam regressar a Portugal a curto prazo, “mas não será só na reforma”.
Milton Pimenta saiu da região de Anadia em 2004, rumo a Zurique para ir ter com a sua mãe e irmã. Mais tarde em Agosto de 2008 casou-se com a sua conterrânea, que se tinha juntado a ele em 2007. Para ambos, a opção de se casarem na Suíça nem se colocou, já que todos os seus familiares e amigos se encontravam em Portugal e era no Verão “que todos os familiares também emigrados noutros países regressavam a casa, então o casamento teria de ser nessa altura”.
Milton relembra ainda, que foi por causa do seu casamento que todos os seus tios voltaram a estar juntos ao fim de muitos anos, “porque até o meu tio da Venezuela e o de Africa do Sul vieram, assim pudemos fazer aquela que até à data é a ultima fotografia de todos os irmãos juntos”.
Para este casal, a vida de emigrante não é nada fácil, especialmente depois de se ter filhos. Zurique apresenta-se para ambos como uma cidade onde travar novas amizades e as manter é muito dificil, onde “as pessoas nos olham de lado por não sermos de cá nem falarmos e pensarmos como eles”, além de que é “bastante complicado estar longe de quem se ama, de ver uns envelhecer e outros crescer através de chamadas e skype e não poder estar com eles. E sentir que também os nossos filhos crescem sem o contacto com a família, que para nós seria fundamental na sua vida”, lamenta Milton.
Por este motivo, a ideia de regressar a Portugal é algo que nunca foi colocado de parte, mas como tentaram uma vez e não foi possível, neste momento só regressariam, “com um contrato de trabalho assinado e com um valor que desse para viver e não sobreviver em Portugal”, acrescenta o técnico de eletrotecnia de 34 anos.
O casamento pelo civil foi todo organizado pela sogra em Portugal, uma vez que para este casal decidido, o casamento havia sido marcado em Abril de 2008 para acontecer em Agosto do mesmo ano. “Era impossivel ter sido de outra forma, a minha sogra e cunhada encontravam as coisas e organizaram a maior parte e nós só tínhamos tempo para decidir. Penso que a nós só nos coube fazer os convites, enviá-los e preparar o tema das mesas”, ri-se Milton ao recordar.
Acrescenta ainda que a organização de um evento destes, estando fora tem de certeza sempre acontecimentos que não estariam planeados, como “a Quinta do casamento ter falido uma semana antes do casamento e em pleno Agosto ter de lutar por encontrar quem nos fizesse o casamento e principalmente o local, foi uma semana de loucos em que até a noiva adoeceu”, relata o anadiense. Mas mesmo assim, se fosse hoje casariam em Portugal. Talvez tivessem “planeado tudo com mais antecendência e feito as coisas de maneira diferente em alguns aspectos, mas o local seria sempre o mesmo, para podermos partilhar a nossa felicidade com quem nos era importante”, conclui Milton.
Como muitos emigrantes que decidiram e decidem assumir o compromisso do casamento na terra que os trouxe ao mundo, também o recem casal que nos levou a este tema, após as trocas de nomes e estados civis dos cartões de cidadão, regressaram à sua realidade e à Suíça. Silvana e Daniel vão com o coração por um lado cheio de boas memórias e o sentido de missão cumprida, mas por outro bem apertado por, tal como tantos emigrantes, terem de “deixar os familiares para trás, em Portugal”, país que tencionam regressar de vez, quando lhes “for possível ter uma vida estável, o que seria muito dificil no momento”.