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Portugal é um dos países mais desiguais da Europa quer na distribuição do rendimento quer da riqueza. Os 5% mais ricos em Portugal têm nas suas mãos 42% de toda a riqueza.
MIRANDA, Elisabete e LOURENÇO, Sónia M, Cinco por cento dos portugueses concentram 42% da riqueza, in expresso.pt/economia/2022-01-27
As eleições para escolher 230 deputados estão marcadas para 10 de março, com dezanove as forças políticas a concorrer e uma estreia, o partido Nova Direita. A campanha eleitoral decorre até 8 de março.
Para um governo estável e duradouro, os partidos e, por maioria de razão, os meios de comunicação social, deviam começar a abordar os verdadeiros problemas do país.
A política não deve ser entendida nem tratada como uma sala de audiências judicial ou uma sala virtual televisionada, mas decorrer com responsabilidade, com combate aberto de ideias, com diálogo franco e transparente.
A responsabilidade da justiça — a maior reforma que se impõe em Portugal — tem de ficar confinada à investigação de quem comete ilegalidades, não interferindo regular funcionamento democrático. Os comentadores televisivos devem sempre apresentar a sua declaração de interesses, para contemplar a pluralidade de opiniões face às propostas políticas em apreço.
A campanha não deve omitir um problema efectivo com o sistema eleitoral, verificando-se, cada vez mais, um distanciamento dos eleitores em relação aos eleitos.
À Política – assim, com maiúscula – urge corresponder à confiança dos cidadãos, para não assistirmos à capitalização deste descontentamento ou afastamento por “populistas” ou por outras manifestações de rejeição da política.
Devemos reclamar políticas feitas de ideias, de propostas honestas e claras formuladas com transparência e sustentabilidade, traduzidas numa estratégia para o desenvolvimento do país e das suas regiões mais empobrecidas que apenas são visitadas por estes dias que não são limpos nem inteiros — como escrevia a nossa grande Sophia.
Cada partido deve — não, tem — de apresentar as suas propostas de forma clara e transparente, já que nós não temos a mínima paciência para ler os supostos programas de governo. Os partidos sabem disso.
Os Meios de comunicação social — são mediadores e não interventores — tentam divertir-nos com debates infindáveis e monocórdicos sobre o sexo dos anjos. ou latas de tinta. ou ovos atirados por anónimos a alguns dirigentes.
O primeiro da campanha ficou marcado pelas acusações feitas na véspera pela coordenadora do BE, Mariana Mortágua, ao Chega e à IL de serem financiados por "rios de dinheiro" de milionários.
A campanha eleitoral para as legislativas arrancou com muitas trocas de acusações e poucas propostas, mas com o PS a reiterar o compromisso com o referendo da regionalização e o PSD a admitir o regresso dos exames ao ensino. Ora, estas não são as maiores preocupações dos portugueses que começam na saúde ou na habitação e continuam na desertificação do interior, com o encerramento de vários serviços públicos e os preços caros do acesso à Justiça?
Mesmo que tu não tenhas cartão em nenhum partido, ainda tens e deves ter pensamento. Deves gostar de perceber a vida pública e pensar naquilo que pode fazer uma sociedade melhor.
Por isso, vota sempre. Mais do que isso, emociona-te todas as vezes que vais votar. Os nossos pais e avós contavam-nos como se tinham sentido Gente — GENTE — no dia em que o puderam fazer pela primeira vez: há 50 anos. Aconteceu depois do 25 de Abril, quando já tinham filhos e netos criados.
Sabeis bem que houve muita gente a dar a vida, o corpo e a alma para podermos ter esta voz — o voto. Para cada um de nós valer a mesma percentagem no total da decisão.
É por isso que deves votar se acreditas que a democracia é uma das mais belas conquistas da humanidade. Até podes confessar alguma frustração porque lá, atrás, acreditaste num líder, num partido ou num projecto político.
Mas não tens outra forma — é quase impossível — de te sentires representado.
Sabes que cada um de nós gostava ouvir os planos que garantam salários, contas pagas e tecto a quem resiste a ficar por cá, seja no Litoral seja no Interior empobrecido que só é visitado em tempo de campanha eleitoral.
Mas, pensando bem, já votámos contra um projecto instalado durante tempo a mais, em vez de fazê-lo a favor de uma ideia. Outras vezes, votamos porque não quisemos que visão demasiado perigosa vencesse.
Já agora, podemos votar naquela linha de pensamento que vai tornar a sociedade mais justa, mais fraterna ou mais consciente. Vai saber mesmo muito bem escrever uma cruz no boletim.
Não nos deixemos levar por conversas de meia hora com mais acusações do que ideias ou pactos de regime que unam todos em torno de projectos comuns para Portugal. Tudo se parece resumir a jogos de poder e eventuais coligações. De poder. De poder. De poder. De poder. Mas para fazer o quê?
Há umas semanas, soubemos que um terço dos portugueses entre os 15 e os 39 anos saiu de Portugal. A geração mais qualificada que o país produziu não consegue ganhar salários, pagar contas, arranjar tecto. Dá-se voz a políticos que atacam os que vêm de fora compensar as falhas de uma nação que foge, sim. Mas nós queremos escolher soluções que garantam salários, contas pagas e tecto a quem quer ficar.
VAMOS, TODOS, TODOS, TODOS
Ir às urnas é capaz de ser a única maneira de mudar as coisas. Porque um voto, seja em quem for (até branco ou nulo), é um sinal de força. De mostrar que estamos aqui e compreendemos o valor da democracia.
Pensa bem, Leitor — como clamava Camilo Castelo Branco: não é chegado o tempo de sermos mais exigentes com Portugal?
É. Mas temos de participar e exigir um país melhor.
Não temos vergonha de Portugal ser um dos países mais desiguais da Europa na distribuição do rendimento e da riqueza, em que os cinco por cento mais ricos em Portugal têm nas suas mãos quarenta e dois por cento de toda a riqueza?
Ficas sossegado em viver num país que, apesar da pandemia, e dos seus efeitos na economia nacional e no rendimento das famílias, ganhou milionários, como destaca o The Global Wealth Report, referente a 2020 — ano maioritariamente marcado pela Covid-19. Portugal teve 136.430 milionários, mais 19.430 do que no relatório de 2019?