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Tenho acompanhado de perto o desenrolar da decisão de como será realizada a 44.ª edição de uma tradicional festa política e cultural, organizada pelo Partido Comunista Português. E como já sabemos, a decisão foi ao invés de 100 mil militantes/visitantes, o Avante poderá receber “apenas” 33 mil, durante três dias de setembro. Apenas 33 mil? Três dias de evento? Como assim?
Sinto-me enganada, sinto que tenho enganado os meus ouvintes, já que diariamente, em direto, elogio a forma como o governo português tem conduzido a situação pandémica no país. Lembro todos os dias, exaustivamente, para que esses que me ouvem e tem alguma empatia, simpatia com esta apresentadora ou que tenham o simples bom senso para perceber que estamos todos juntos nessa desleal batalha, em que a atitude individual reflete em todos.
A única sensatez que ouvi na imprensa até agora foi do comentador político, Luís Marques Mendes, onde ele diz que a realização da festa do Avante é uma decisão “inacreditável”. Ele afirma não compreender, nem eu e nem milhares de portugueses, a razão que o PCP insista em realizar a festa este ano.
Inacreditável mesmo, caro Mendes, é a incoerência. Como é que o mesmo Governo que proíbe festivais de música no verão por razões de saúde pública vai agora autorizar um festival de música em setembro?
O PCP tinha a obrigação de dar o exemplo para evitar o risco de novos contágios e de nova vaga. Mas, ao contrário, as vendas on-line dos bilhetes estão disparados e é o que interessa, pois os Xutos e vários outros músicos vão atuar.
A partir de agora, não sei como pedir aos meus ouvintes, aos meus filhos para que mantenham-se protegidos, que não se reúnam ainda com vários amigos e familiares. Protejam-se para não levar o vírus até a casa dos avós...
Não, realmente ainda não sei como prestar um serviço à sociedade, alertar e motivar entre notícias e músicas, sutilmente, que o vírus continua por aí, ele não tem férias e nem fim de semana e muito menos partido político.
Sinto-me ofendida, profissionalmente e como cidadã portuguesa, de sangue, pelos avós, “nascida no SEF” (como alguns preferem dizer), mas sobretudo, de coração.
É aqui que vivo há quase doze anos. É aqui que meus filhos cresceram e o mais novo alfabetizado na nova pátria desde os 5. É aqui também que meus pais, depois de 70 anos escolheram gozar a reforma que recebem em reais e pagam, sem titubear em euros - desde a carcaça da pastelaria às faturas da luz, água, gás, internet, seguro do carro, seguro de vida, seguro saúde e muito mais, - como qualquer cidadão nacional, com deveres e, às vezes, algum direito. Portanto, aqui é o meu lar!
Por tudo isso, tenho o direito de sentir-me indignada diante esse vergonhoso episódio que vai acontecer e todos a olhar, sem nada a fazer. E pior, o que dizer ao setor cultural que assiste, dos bastidores, imobilizado, sem previsão para retomar os concertos e festivais?
Isso é um insulto, é gozar com cada profissional deste setor. Conheço de perto a realidade de muitos desses e garanto, não está fácil digerir.
Enquanto o Avante avança, onde está o apoio do ministério da cultura, comandado por Graça Fonseca? Essa mesma senhora que numa ocasião atirou, literalmente, a bandeira portuguesa ao chão. Essa mesma senhora que organizou um festival para ajudar 166 profissionais num programa da RTP Play, num projeto chamado TV Fest, que teve um milhão de euros de apoio do Governo. O projeto foi tão abusivo que em apenas 24h após a divulgação surgia ‘online’ a petição pública “Pelo cancelamento imediato do festival TV Fest”, que reunia mais de 18.600 assinaturas.
O tal projeto vergonhoso seria assim:
Em cada programa atuariam quatro músicos. Os primeiros quatro, escolhidos pelo apresentador de televisão Júlio Isidro, foram Marisa Liz, Fernando Tordo, Rita Guerra e Ricardo Ribeiro. Estes quatro músicos convidariam outros quatro, e daí em diante. Cartas marcadas! O ministério ajudaria quem? Apenas quem quisesse? Que injusto, senhora ministra.
O pior foi a resposta:
Graça Fonseca explicou que estavam já gravados três programas e que suspender o projeto para repensar não significa não retribuir aos 12 músicos que já gravaram.
“Por vezes somos acusados de sermos lentos e burocráticos, neste caso essa parte ninguém pode dizer que fomos...Vamos repensar. Agora já não com tanta rapidez como quando montámos o projeto”, referiu a ministra. Então, entende-se que o setor ficou de castigo porque reclamou! Santa paciência. É uma ofensa, é subestimar a classe que a senhora deveria defender.
Ou seja, o setor que espere e o Avante que avance!
Não alinho à extrema direita, nem trata-se de uma alusão... Mas chega, não?