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5 minutos de leitura (Desta vez empolguei-me com a história. Saiba porquê)
O regresso ao passado – anos 80 e 90 - marcou presença no Super Bock Arena, no sábado dia 22, também conhecido por Palácio de Cristal e Pavilhão Rosa Mota.
De repente senti-me mais jovem quando pisei aquele recinto. No anel circundante ao recinto do espetáculo serviam cerveja, sandes e outros petiscos para saciar a fome e a sede.
O espaço reservado aos fãs do concerto estava a menos de metade quando os Três Tristes Tigres subiram ao palco. A banda dos anos 90 que se tornou conhecida pelo "Mundo a Meus Pés" não conseguiu despertar emoções fortes do público. Entre aplausos e assobios a banda apresentou as suas músicas mais recentes, o que causou alguma desilusão. Pretendia-se reviver as músicas de outras décadas. A vocalista Ana Deus apenas conseguiu arrancar alguns aplausos quando anunciou que iria cantar músicas do álbum "Guia espiritual" (1996). Os fãs dos Três Tristes Tigres não se reviram naquelas músicas.
Já bem diferente foi a entrada fulgurante em palco de Manuela Azevedo e restantes membros dos Clã, banda também surgida nos anos 90. A energia que a cantora transmitiu foi capaz de encher o recinto através da sua voz, interrompendo cavaqueiras e filas para os bares e atraindo o público. A Manuela saltava, dançava, sorria em belos movimentos coreográficos. Conseguiu encenar cada música que cantou. Entregou-se por completo ao público.
De súbito, dei por mim a saltar e a dançar no meio de um público maduro, de copo na mão ou com os filhos pela mão. Não quis saber, pois estava ali para me divertir. Continuei a saltar até me chamarem a atenção de forma mais séria. E não foi ninguém de fora, foi a própria família. Acalmei-me e dancei apenas dentro da minha imaginação. Continuei a reviver cada música que por ali passava. Uma boa parte do rock portuense mais significativo esteve ali para brilhar.
Levei os meus filhos até ali na esperança de lhes dizer como foi o rock dos anos 80 e 90. Eles até ouviram com algum agrado, mas depressa percebi que aquele não é o mundo deles nem o será. De qualquer das formas ficam as referências músicas de outros tempos num mundo atual onde se produzem diariamente em todo o mundo mais de 35 mil músicas, muitas delas extremamente parecidas porque o algoritmo assim manda. Outras músicas não duram mais que 15 segundos para poderem tentar a sua sorte no TikTok. Hoje em dia é muito mais difícil ser estrela de rock e se tal acontecer, provavelmente não voltará a brilhar pois a concorrência corre à velocidade da internet.
O público cantava as músicas mais conhecidas até ao ponto de a vocalista estender ao microfone para a plateia e deleitar-se com as palavras que andavam, no ar por todo o recinto.
A nota mais dominante foi o forte compasso que se fez sentir nas músicas dos Clã, acompanhadas pelo público.
Lá para o final da atuação, Manuela Azevedo evocou uma das músicas da banda portuguesa já desaparecida Dead Combo, cujas principais influências musicais eram o Fado, o Rock, as bandas sonoras dos Westerns, bem como música da América do Sul e de África.
Nesse momento dancei novamente. Esqueci-me de quem estava à minha volta. O "Sopro do Coração" encheu o recinto de glória e emoção. “Sim, o amor é vão / É certo e sabido / Mas então (porque não) / Porque sopra ao ouvido / O sopro do coração”
Em seguida entraram os GNR com uma piada soprada pelo vocalista sempre bem-humorado: "Já comeram tripas hoje?", com referência explícita ao rock à moda do Porto. A bandeira da Ucrânia esteve presente do princípio ao fim da participação dos GNR, pousada sobre a mesa de som em palco. O público queria reviver as grandes músicas portuguesas dos anos 80 e os GNR estiveram lá para isso mesmo, razão pela qual conseguiram arrancar as maiores reacções da audiência, com assobios e palmas.
"A pronúncia do Norte" foi cantada do princípio ao fim por todo o público, transformada em hino daquele concerto à moda do Porto, acompanhada por luzes vindas dos flashes dos telemóveis. “Há um prenúncio de morte / Lá do fundo de onde eu venho (…) É a pronúncia do Norte / Os tontos chamam-lhe torpe”
Quando o público pediu "só mais uma" já a banda tinha abandonado o palco. Voltaram e encheram o recinto de melodia novamente. Rui Reininho traz a bandeira da confederação americana e diz ter-se enganado, numa alusão ao concerto da cantora brasileira Anita no Rock In Rio que mostrou a bandeira espanhola em Portugal.
Na primeira fila havia fãs dos GNR de Gaia, de Gondomar, Covilhã e Maia.
Eu dizia aos meus filhos que as letras dos GNR além de poéticas roçavam por vezes o absurdo, num claro jogo de palavras, mas que produziam música. "Dunas, são como divãs / Biombos indiscretos de alcatrão sujo / Rasgados por cactos e hortelãs".
Sei que uma boa parte do público saiu depois do concerto dos GNR, mas outros chegaram para assistir à “segunda parte”: Os ZEN e os PLUTO, um rock mais potente. Chegaram ao palco os ZEN, a banda de rock alternativo do Porto formada nos anos 90.
De acordo com as notícias, os ZEN entraram com grande energia e arrancaram novas reacções do público e o vocalista Rui "Gon" Silva berra "Porto!" e atirou-se para o público que o segurou com as mãos. O ambiente subiu para o nível da loucura com um rock mais pesado.
Depois foi a vez dos PLUTO, a banda de formação mais jovem, criada no Porto em 2002, com Manel Cruz e Peixe a integrar depois do fim dos Ornatos Violeta fecharam a edição em grande. Foram entoados os grandes hits, mas também as "novas antigas", como lhe chamou o vocalista para se referir às músicas que nunca foram gravadas.
O Rock à Moda do Porto na sua primeira edição de 2022, chegou ao término por volta das 2 da manhã e já promete regresso para 2023.