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Considerado uma referência na Doçaria Tradicional Portuguesa, o Pão de Ló de Margaride, freguesia urbana de Felgueiras, remonta pelo menos a 1730, de acordo com algumas pesquisas efectuadas.
Contudo, apenas no século XIX é conhecida a sua comercialização regular, e também designado como Pão leve; em várias referências bibliográficas desse tempo e até ao primeiro quartel do seguinte, para além de Felgueiras, outras localidades possuíam historial no fabrico do doce típico da Páscoa, e algumas delas ainda prosseguem, como: Alcobaça, Arouca, Alfeizerão, Alpiarça, Figueiró dos Vinhos e Ovar. Nas Caldas de Vizela, existe uma variante de Pão de Ló, servida em forma de quadrados ou rectângulos designada de – Bolinhol – que se apresenta coberto, e pelo menos desde 1880 que está documentado.
Mas, regressemos ao mais típico, um orgulho dos felgueirenses …
Foi em 1888 que a proprietária da fábrica, Leonor Rosa da Silva Gomes, originária de Penafiel, recebeu carta de Sua Magestade informando-a do título de fornecedora desse produto para a Casa Real, privilégio oficializado por el – rei D. Carlos no seu alvará de 22 de Abril de 1893.
Da sua fama, também reputados autores nacionais fizeram-lhe referência. Evoquemos Ramalho Ortigão, como regista no Tomo I de As Farpas (Edição de 1888, de David Corazzi, na págs 179).
A sede actual, construção de linhas oitocentistas, já a caracterizar o início da centúria seguinte, com fachada de azulejos verdes, recebeu os (novos) fornos em 1900.
Entre segredos e técnicas, o produto típico é cozido em forno de lenha em formas de barro não vidrado, em formato de tigela ou bacias, constituídas por duas iguais e uma outra menor, esta colocada internamente, lembrando um cano!
Com o tempo, o fabrico do Pão de Ló de Felgueiras vulgarizou-se pelo país, tendo sido introduzido em Ponte de Lima, há cerca de uns 80 anos, pela mão de João da Costa Villar.
Esse empresário, natural do Porto, instalou-se entre nós no Outono de 1906, com a inauguração duma pastelaria na antiga Rua de Trás da Igreja (Abadia), cujo primeiro anúncio comercial que conhecemos data de 26 de Novembro, inserido no extinto jornal O Commercio do Lima.
Através de uma funcionária da casa – mãe que viera trabalhar para a sua confeitaria, conseguiu a receita, possuindo então durante anos a exclusividade de tão apreciada iguaria, tal como já registamos há anos (Boletim Informativo da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, nº24, Dezembro de 2912, págs 2 e 3).
O actual proprietário da histórica pastelaria, António Oliveira Malheiro, asseverou-nos ainda, que tendo o fundador sido também proprietário da Havaneza, siata à Praça de Camões, aqui passou também a produzir Pão de Ló pelo sistema de Margaride, depois vulgarizando-se entre outros comerciantes do ramo no concelho e região.
Mas, e antes da Vilar, onde se comprava essa especialidade gastronómica?
A resposta encontramo – la na imprensa limiana de há 120 anos!
Abrimos por exemplo, o número 237 de A Voz do Lima, datado de Ponte de Lima 29 de Março de 1896, anunciando que João Maria Manso, com loja na Rua do Postigo, tinha para Venda Pão de Ló de Braga.
Terminamos, deixando em aberto uma hipótese de, para quem não conhece, nomeadamente para luso – descendentes ou belgas, estamos para agendar uma possibilidade de prova deste produto em Bruxelas, no âmbito duma parceria estabelecida há dois anos com um amigo da restauração.