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No próximo dia 11 de Março, pelas 11h da manhã, será apresentado o livro, Cantareira, 61, de Joaquim Pinto da Silva
Por Hélder Pacheco e Vasco Rosa
(seguida de visita à casa de Raul Brandão, junto à Fonte).
Terá lugar na
Gelataria Cremosi, R. do Passeio Alegre, 372 (na Cantareira), Foz do Douro.
Citando Manuel Mendes em “Roteiro Sentimental: Douro” (Sociedade de Expansão Cultural, 1964):
“E nas minhas visitas à Foz raro é que não vá à Cantareira, espreitar a casa em que nasceu Raul Brandão…meu mestre e meu amigo – deslumbramento inesquecível da minha juventude de incipiente sonhador, que ele acalentou a um fogo ardente e magnífico.
É uma ruazinha estreita e sinuosa a que deram o nome do escritor. A pequena casa tem dois pisos, as janelas e as portas emolduradas de grossa cantaria de granito. Nunca sequer ali tentei entrar, porque não sei quem hoje lá mora, quem habita debaixo daquelas telhas, e temo que me confranja o que irei ver…
… as coisas decerto mudaram, estão irreconhecíveis. Não encontro quase nada do que aprendi nos momentos de evocação que de repente surgem, aqui e ali, nalguns passos da obra. O tempo se encarregou de transformar de todo as coisas, varrer como uma onda o que ainda restava do passado, não muito distante, mas que bem digno era de ser conservado na reconhecida memória dos homens.
… Olho para a casa e para o largozito com a igreja, onde não vislumbro toque de encanto sequer, e julgo que um vento de desdém tudo arrasou.…”
Pois Manuel Mendes não podia reconhecer a casa de Raul Brandão, pois não é aquela.
A casa que foi mesmo propriedade do escritor, e antes de seu Pai, é a da morada que ele tantas vezes deu, nomeadamente a Teixeira de Pascoaes; Cantareira, 61, hoje Rua do Passeio Alegre, 254.
O autor, conhecedor da obra de Brandão e da História da Foz do Douro, desde cedo intuiu que as páginas referentes à sua morada, as suas descrições interiores e a paisagem, os elementos sociais, não podiam corresponder à casa da Rua da Bella Vista, 62, hoje Rua Raul Brandão (onde figura uma placa comemorando o seu nascimento).
Pegou em excertos como este d’Os Pescadores:
“Sento-me nos degraus da minha velha casa e sei a vida toda desta gente. Ali defronte são os tanques, onde vinte, trinta mulheres de saias arregaçadas lavam a roupa suja. Gritos, rixas, alarido. Um momento de silêncio e ouve-se o bater compassado da maré que vai, vem e lhes molha as pernas nuas.”
E confrontou-o com esta imagem (os tanques na sua antiga posição à época do escritor):
Frequentou arquivos e bibliotecas e, entre outros, encontrou este documento:
E disto trata o Cantareira, 61. Joaquim Pinto da Silva prova literária e factualmente que a casa importante de Raul Brandão na sua Cantareira, Foz, é a Cantareira, 61.
É essa que doravante deve ser citada e estudada em ligação estreita à obra que a identifica.