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Vem devagarinho ou aparece de repente, mas quando chega instala-se e nunca mais se vai embora. Ninguém está à espera dela e também ninguém quer ver por perto a hora do condor, agoirenta ave que anuncia o fim dos bons tempos e a consequente chegada da triste invernia dos ais, ai que me dói isto, ai que me dói aquilo, ai que me apareceu aqui uma dor, ai que esta noite não dormi nada com dores, ai que me dói esta perna que se farta, este braço não pára de doer, ai que já não aguento com tanta dor. Ai que passei a noite inteira no hospital, deram-me uma injeção de voltaren e mandaram-me para casa. E agora, ai, são as artroses que não me largam, e ai os calos mal me deixam pôr os pés no chão, para não falar nos joanetes, ai, que não me dão descanso, pois é cada ferroada.
Longe de qualquer imaginação, ela pode vir num olhar de relance e nos olhos dar o seu primeiro sinal em forma de calázio. Nesta fase começa-se como que o propedêutico de um curso de medicina, tal a quantidade de novos nomes de órgãos e de conceitos associados a diferentes tipos de doenças a apreender. No caso do calázio trata-se de um quisto na pálpebra causado pelo bloqueio das glândulas sebáceas, geralmente indolor, de aparência vermelha e a desenvolver-se lentamente ao longo de algumas semanas, pode ocorrer na sequência de um terçolho ou formar-se a partir de sebo endurecido que causa bloqueio da glândula. Na sequência do qual se desenvolve de seguida uma blefarite, que é uma inflamação não contagiosa das pálpebras, a qual provoca coceira, vermelhidão e irritação. Infelizmente, o problema não tem cura, mas pode ser controlado. E eis que assim de mansinho, e cheia de mil cuidados e muitas gotas depois, se anuncia a primeira doença para o resto da nossa vida.
Entretanto, numa insuspeita noite e numa hora em que ninguém desconfia, acorda-se para urinar, facto que se releva até começar a ser sistemático, repetitivo, continuado. Damo-nos então conta de que algo se passa de anormal no domínio da próstata, da bexiga ou dos rins. É a hora de recorrer ao urologista e estar preparados para toda a sorte de exames e análises associadas até chegar a informação de que talvez seja melhor atalhar e passar para a operação porque, entretanto, os fármacos deixaram de ser eficazes e já não são capazes de dar resposta a tão sensível questão com as noctúrias a fazerem seus estragos a cada noite e cada vez mais fundos no outrora sono reparador, que deixou de o ser para grande tormenta, uma tortura mesmo, de quem não consegue por noite mais do que uma extraordinária hora e meia seguida de sono.
Num outro entretanto qualquer, há um braço que começa a dar sinais de que mais qualquer coisa está a caminho quando uma dor lancinante o percorre de alto a baixo como se o fosse até partir. Os analgésicos habituais deixam de dar resposta e de novo se percorre o caminho do hospital, desta feita em busca do ortopedista. Feitos os procedimentos de apalpação logo ali é decretado tratar-se na certa de uma tendinite na coifa dos rotadores, mais umas palavras para acrescentar ao léxico, que posteriormente se confirmaria na ressonância magnética. Como solução provisória lá se faz uma primeira infiltração articular na expectativa de que algum benefício de curto prazo se possa obter, obviando-se assim para já um sofrimento desnecessário. E depois segue-se a inevitável fisioterapia para aliviar e obviar a outros ais.
A diabetes, a tensão alta, as arritmias, o colesterol, a pedra no rim, a gota, passam igualmente gota a gota a fazer parte de um imenso rol que com a idade a todos apanha sem apelo nem agravo.
Quando a PDI, Puta da Idade por extenso e em maiúsculas, finalmente chega e em força percebe-se bem melhor a expressão de que a saúde é bem o mais valioso de todos e quem sem ela tudo se desmorona e esvai na breve e vã ilusão da eternidade humana.