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Num bairro sem graça, onde só um velho espigueiro despertou o nosso interesse, fica o Bacana, que é um restaurante bacana. Bom pasto, pessoal gentilíssimo, preços decentes, portugalidade. As entradas — croquetes, rissóis de carne e bolos de bacalhau — alçaram as expetativas, os pratos principais — polvo à lagareiro e rojões à minhota — confirmaram que ali se come bem. Ao octópode, nada a apontar. Quanto aos rojões, saborosos, assinalo a falta do bolacho e da tripa enfarinhada.
O Centro de Arte Oliva abre as suas portas ao público num imóvel em que a Oliva operou. Alberga a coleção de arte moderna e de arte contemporânea pertencente a Norlinda e a José Lima e a coleção de arte bruta e de arte outsider cujos proprietários são Richard Treger e António Saint Silvestre.
Uma fiada de imóveis abandonados, outrora lugares de exercício da indústria, bordeja a rua situada entre o edifício no qual se situa a Torre da Oliva e o Centro de Arte Oliva. Imaginei bulícios pretéritos, entristeceu‑me vê‑lo, espero que alguém lhes deite a mão.
No que respeita às obras de Treger e de Saint Silvestre, gostei de descobrir os óleos de Horácio Frutuoso e destaco uma escultura de papel machê, datada de 1996 e da lavra de Jean‑Jules Chasse‑Pot, pseudónimo de Paul Rancillac: Veut‑il s’engager ou seulement prendre son pied ? Não sei se o cavalheiro se quer divertir ou se procura um relacionamento sério, talvez a resposta varie consoante as épocas e a mentalidade de quem observa a obra, sei apenas que esta prendeu a minha atenção e que honra Chasse‑Pot, um mestre em matéria de escultura de papel machê.
A mostra, pensada por João Sousa Cardoso e organizada de forma singular, tinha alicerce no conceito de teatro‑anatómico (a sala própria para autópsias existente nas escolas de medicina). Também ali, na maneira de jogar com as peças expostas e de as levar à cena, se procede a uma dissecção, a do acervo em causa.
Descuradas trouxe a possibilidade de ver obras da coleção de Norlinda e de José Lima que nunca haviam sido apresentadas em público. Não tenho ciência que me permita comentários fundamentados acerca do que vi. Porque deles gostei muito, mencionarei somente os trabalhos de três artistas que desconhecia antes de visitar Descuradas.
Box office é uma bela fotografia de Daniel Malhão, que combina humanismo com formas geométricas. Os dois quadros de Susanne Wehmer representam nadadoras em ação e revelam aquilo para que ela tem boa mão, a pintura hiper‑realista. Belém Coffrage e Sublime Precariedade, telas com trabalho de acrílico de Manuel Caeiro, atraem o olho do visitante e nele geram uma ilusão (trompe‑l’oeil).
Première reunia obras de finalistas dos cursos de licenciatura e de mestrado de algumas escolas superiores de ensino artístico, portuguesas e francesas. Dela ressaía um vídeo da brasileira Flavia Regaldo, um filme de animação erótico produzido a partir de uma sequência de aguarelas. Uma película bonita e forte, uma representação do sexo que não o banaliza. Bunidimais, assim se diz em Minas Gerais.