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Estou deveras preocupado com as sucessivas vagas de calor e com os recordes que se verificam nas temperaturas atmosférica e ao nível do solo. Numa imagem nada poética, galinhas e porcos já começaram a fritar ao ar de acordo com as notícias que vão surgindo.
O verão nem vai a meio. Se as previsões se confirmarem os dias mais tórridos estarão ainda por chegar. Já não vamos a tempo de parar a mudança. Nem sabemos muito bem como lidar com os calores do inferno na prática. Estamos à deriva num planeta a arder em febre.
Para os alentejanos habituados às canículas dos estios estas temperaturas nem impressionam por aí além, pois sabem ancestralmente qual o comportamento a adotar. Levantar cedo para tratar da lida da casa, dos animais e dos afazeres no campo, depois da hora do almoço cair na moleza da sesta e só lá pela tardinha sair da letargia para concluir o resto da labuta diária. Era assim que antigamente se sobrevivia no Alentejo aos rigores do calor. Hoje em dia, apesar dos ares condicionados, forçados e das ventoinhas, o ritmo das aldeias e vilas da grande planície alentejana mantem basicamente o mesmo estilo. É pela noitinha que a vizinhança traz a cadeira para a rua para pôr a conversa em dia e socializar em amena cavaqueira ao mesmo tempo que se cuidam dos gaiatos, que ainda os há, brincando nas redondezas à apanhada, às escondidas, ou debruçados nos viciantes jogos de telemóvel.
Mas os tempos que vivemos de mudança climática são menos idílicos do que a antiga realidade que tenho registada de memória. Temperaturas muito acima dos 40ºC são atualmente assinaladas em regiões do sul da Europa, como Itália, Espanha e Grécia, mas também nos Estados Unidos e na China.
Para os próximos dias são esperados 43ºC na Sicília e 48ºC na Sardenha, e Roma deverá bater um novo recorde quando os termómetros alcançarem os 42ºC. Mais de metade de Espanha está em situação alerta. No Sul, os termómetros podem chegar a 44°C na região de Múrcia. Na Andaluzia, as províncias de Córdoba e Jaén estão em alerta vermelho devido ao risco extremo causado por temperaturas de até 44ºC. Na Grécia a situação é basicamente a mesma com valores ordem dos 42ºC ou mais, e o mesmo se diga do Chipre, de Montenegro, da Albânia, da Sérvia, da Bósnia-Herzegovina, do Kosovo, da Croácia, da Eslovénia, da Turquia, da Bulgária. Na Áustria, os termómetros atingiram no passado fim de semana os 35ºC e são esperados 39ºC para a Hungria. Já nos Estados Unidos, no conhecido Vale da Morte, na Califórnia, um dos lugares mais quentes do planeta, os termómetros marcaram no passado domingo 52°C, e Phoenix, a capital do Arizona, registou na segunda-feira, pelo 18.º dia consecutivo, temperaturas acima de 43°C. Enquanto isto, na China foi batido um recorde no domingo, com 52,2°C na região árida de Xinjiang. O norte de África e o Japão estão igualmente a passar por este inferno na terra, que dizem os especialistas vai perdurar até agosto.
Para depois do nosso querido e ansiado mês as previsões existentes não refletem qualquer melhoria. Como recordou recentemente a Organização Meteorológica Mundial, o calor é um dos eventos meteorológicos mais letais a que estamos sujeitos. De acordo com um estudo recente, no verão do ano passado mais de 60.000 pessoas morreram em consequência do calor apenas na Europa.
Para já, Portugal, graças ao anticiclone dos Açores, está de fora desta última vaga de calor que assola boa parte do hemisfério norte, mas atenção que já passamos por quatro destas ondas este ano até agora. Se tivermos em conta que os verões portugueses costumam ser quentes ou muito quentes, e pontualmente tórridos, novos episódios ocasionais de calor extremo não são de descartar, bem como o possível surgimento de novas ondas de calor.
Quando a nova onda chegar mergulhemos nela à boa moda alentejana para assim nos salvarmos. Felizmente podemos contar com conhecimento ancestral do nosso povo para melhor lidarmos com estes calores infernais.