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A verdade é que deixei Paris para trás. Deixei os croissants e os apéros para outros. Deixei a vida em rosa na cidade luz para ir em busca da minha luz.
O destino trouxe-me até Bruxelas, mais conhecida pelas batatas fritas que não como, pelos milhares de cervejas que não tenho tempo para beber e pelo chocolate que não devo devorar. Mas Bruxelas é também conhecida pelos seus tons de cinzento. Seguramente mais de cinquenta. No céu nublado, nas casas enfadonhas, nas caras do dia a dia.
Não dei ouvidos às piadas recorrentes e aos amigos revoltados com esta cidade de contradições. Onde os expatriados proliferam, mas os emigrantes são ostracizados, onde a burocracia do país convive com a burocracia das instituições europeias, onde o centro da política do continente é também a capital de um país dividido, que pouco se entende. Mas não há como escapar à nostalgia do grisalho deste meu primeiro inverno na capital. A blue Monday, como é conhecida, é aquele dia deprimente em que os desejos e esperanças da passagem de ano se esfumam num banho gelado de realidade.
A expressão pode ter sido criada pelo marketing de uma empresa de viagens, mas atinge-nos como uma flecha à segunda, ou à terça, ou à quarta… ou outro dia qualquer, quando de repente nos apercebemos que temos mais meses e meses de mais tons de cinzento e estamos sem coragem para ver o sol por detrás das nuvens.