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Tenho andado muito, muito mais do que antes por terras de Ferreira.
Sanfins de Ferreira, Ferreira, e Paços de Ferreira.
Sábado passado, fim da manhã, lá fui eu até à Vila, agora Cidade, comprar um vinho verde tinto que muito aprecio e que é das terras de Pascoais. Findo esse destino, fui fazer horas para almoçar, e no caminho para Freamunde, dei por um Centro Comercial, onde nunca tinha entrado.
Parei para ver como era.
Espaçoso, agradável, com bastantes lojas interessantes. De repente dei com um dos, se calhar muitos, cabeleireiros que por lá há.
Deu-me uma vontade de “gastar” um pouco do meu tempo a, sentado, ter quem me cuidasse das mãos. Entrei. Duas funcionárias à direita a cuidar das mãos de uma senhora, um funcionário à esquerda a tratar dos cabelos de um senhor, e ao fundo uma outra funcionária lavava a cabeça a alguém cujo sexo não descortinei.
Estabelecimento completo, pensei.
Dirigi-me à funcionária da direita, a que me parecia menos atarefada e disse-lhe ao que vinha e o que pretendia.
Resposta seca e imediata:
- Não fazemos unhas a homens!
Ainda meio chocado com a rispidez, repeti a pergunta, acrescentando, meio brincalhão, se acaso as mãos e unhas dos homens eram diferentes das das mulheres. A resposta, ainda mais seca e mais ríspida, mas sem chegar a ser ofensiva, veio repetida.
Pedi desculpa pelo incómodo e saí, sem vontade de procurar outro cabeleireiro ou de me sentar a relaxar. E as memórias chegaram, velhas, antigas, a cheirar a mofo.
Na minha juventude, Paços de Ferreira era uma Vila onde eu passava a maior parte das minhas férias. Por lá brincava, tinha amigos, ia ao café e passeava. Pouco mais havia para fazer. Era uma calmaria que em muito contrastava com o buliço do Porto, a que eu estava habituado. Mas uma coisa me incomodava. Ao contrário da minha Cidade grande, esta minha Vila tinha uma particularidade, igual a tantas outras vilas e aldeias por esse país fora. As mulheres não entravam nos cafés. As minhas primas e a minha irmã, estudantes no Porto, iam normalmente e naturalmente ao café. Ali, era proibido. Menina ou mulher de respeito não entrava em lugar semelhante.
E foi assim, do que me lembro, até muito depois da revolução de Abril.
Depois a sociedade evoluiu.
Será que agora voltou a retroceder? Num estabelecimento onde se corta o cabelo a homens e mulheres só se pode cortar as unhas às senhoras? As unhas dos homens são diferentes?
Enfim, um triste regresso a ideias do antigamente.
José Fernando Magalhães
“- Por decisão do autor, este artigo encontra-se escrito em Português, e não ao abrigo do «novo acordo ortográfico».”