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É verdadeiramente deplorável constatar que os jovens, e também muitos dos menos jovens, estão cada vez menos interessados em ler livros. Em vez disso, dedicam o tempo a ler mensagens de texto, vulgo “sms” (“text”), e livros de banda desenhada (“Manga”). Quando têm de ler alguma obra literária, a impaciência leva-os a ler resumos, necessariamente incompletos e sem qualidade, e se possível, resumos de resumos. Se houver um filme curto sobre a obra, nem isso fazem. Com o problema acrescido de que eles (resumos e filmes) existem, são publicados e acessíveis a qualquer estudante de qualquer grau de ensino, e não há legislação que o impeça.
A impaciência é uma característica marcante destas novas gerações, e o frenesim que ela lhes provoca, fá-los viver zangados e profundamente decepcionados com a sua própria existência e com um estado social que não lhes proporciona a confiança socioeconómica de que tanto precisam.
Com este estado de espírito, dificilmente alguém se consegue entregar à leitura de uma forma credível. Há muito ruído e confusão nos pensamentos, e para que alguém alcance a capacidade de ler e apreender o que lê, necessita ter silêncio (mental e da opinião alheia); à sua volta e na sua mente. Precisa de eliminar a música alta, desligar a televisão e o rádio, colocar o telemóvel em silêncio, e de ter privacidade e solitude, uma vez que sem estas, não há o mínimo de concentração.
Tal como na vida, a leitura requer a capacidade de viver e conviver com o silêncio, e com a solitude, mas muitos de nós, em especial os mais novos, dificilmente estão dispostos a fazê-lo. O silêncio provoca medo a quem não sabe lidar com ele, e as pessoas evitam-no, e dos momentos de solidão, os jovens e os menos jovens fogem dela como se fora peçonha. E assim, o desejo de estar em quietude tornou-se um luxo, uma raridade e, como dizem as gerações mais recentes, é “cringe”.
Verificar a existência desta mudança cultural, desta falta de apreço pelos livros e pela leitura profunda, é triste e, até, angustiante. Todavia, é essencial lembrar que nem todos os jovens se incluem nessa corrente. Há aqueles que ainda valorizam a experiência singular de se deixarem perder nas páginas de um livro, utilizando a visão, o tacto e o olfacto, alargando horizontes, alimentando a mente com narrativas e pensamentos enriquecedores, embrenhando-se na sabedoria, absorvendo conhecimento, emoções e diferentes pontos de vista.
Poderemos, ainda, encontrar maneiras de recriar nas pessoas o amor pela leitura, ajustando-nos aos novos formatos e canais de comunicação, mas sem desperdiçar a essência e a faculdade transformadora dos livros? No limite, a literatura é uma das melhores expressões da criatividade e do saber e uma nascente ilimitada de ideias, é uma das facetas que a humanidade traz desde tempos imemoriais, enriquecendo as nossas vidas e facultando um juízo mais abrangente do mundo em que vivemos.
Mas, apesar da leitura ser uma preciosidade que merece ser valorizada e preservada, seja de que forma for, o amor ao livro físico, ao papel e à capacidade de o poder folhear e cheirar, é, para mim, um catalisador essencial!
José Fernando Magalhães
“- Por decisão do autor, este artigo encontra-se escrito em Português, e não ao abrigo do «novo acordo ortográfico».”