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A emigração portuguesa não é um fenómeno novo. Desde os Descobrimentos, os portugueses percorreram o mundo à procura de novas oportunidades, de melhores condições de vida ou simplesmente de aventura. No século XX, Portugal conheceu várias vagas de emigração, nomeadamente para a Europa, África e América. Estes emigrantes contribuíram para o desenvolvimento económico, social e cultural dos seus países de acolhimento, mas também do seu país de origem, através das remessas, das trocas comerciais ou dos laços afetivos.
Mas a emigração portuguesa mudou de rosto na última década. A crise económica e financeira que atingiu Portugal a partir de 2008 provocou uma nova vaga de emigração, mais qualificada, mais jovem e mais diversificada do que as anteriores. Segundo o Observatório da Emigração, o número de portugueses residentes no estrangeiro passou de 2,1 milhões em 2010 para 2,3 milhões em 2017. A percentagem de emigrantes com diploma do ensino superior passou de 10% para 14% no mesmo período. O destino preferido dos emigrantes portugueses é a Europa, nomeadamente o Reino Unido, a França, a Alemanha e a Espanha.
Estes novos emigrantes portugueses são motivados por fatores de repulsão e de atracão. Os fatores de repulsão estão relacionados com a situação socioeconómica de Portugal, marcada pelo desemprego, pela precariedade, pela queda do poder de compra e pela perda de confiança nas instituições políticas. Os fatores de atracão estão relacionados com as oportunidades profissionais, académicas e culturais oferecidas pelos países de acolhimento, bem como pela facilidade de mobilidade no espaço europeu. Estes emigrantes portugueses têm uma visão mais positiva e mais aberta do seu percurso migratório. Não se consideram como exilados ou vítimas, mas como atores do seu próprio destino. Encaram a sua partida como uma experiência de vida enriquecedora, que lhes permite adquirir competências, conhecimentos e contactos úteis para o seu futuro.
No entanto, esta emigração qualificada coloca também desafios para Portugal. Ela representa uma perda de capital humano e uma fuga de cérebros que pode comprometer o desenvolvimento económico e social do país. Ela pode também provocar um envelhecimento demográfico e uma diminuição da natalidade. Ela pode ainda afetar a identidade nacional e o sentimento de pertença dos emigrantes portugueses, sentindo-se mais próximos do seu país de acolhimento do que do seu país de origem.
Perante estes desafios, é necessário que Portugal adote políticas públicas adequadas para valorizar, apoiar e integrar os seus emigrantes. É preciso reconhecer a sua contribuição para o desenvolvimento do país e reforçar os laços económicos, sociais e culturais com eles. É preciso também favorecer o seu regresso ou a sua circulação entre Portugal e os países de acolhimento. É preciso finalmente promover uma cidadania transnacional que respeite a diversidade dos percursos migratórios e que incentive a participação política dos emigrantes portugueses.