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No regresso a casa ao final de mais um dia de trabalho, vejo na rotunda da Areosa, uma nuvem de asas a pairar numa zona relvada, que me despertou a atenção, enquanto circulava de carro.
São daqueles pequenos filmes, que duram apenas segundos, e que não colocam em causa a segurança rodoviária, porque circulava a velocidade moderada, mas que permitem captar a essência do momento, a vida na cidade.
Pois bem, percebi que se tratava de uma senhora idosa de saco na mão a dar milho aos pombos. De facto é uma imagem poética, adorável e amorosa.
Estariam no chão mais de 30 pombos e outros tantos prestes a aterrar, outros ainda a comer da sua mão, em pleno voo.
Passando da imagem poética à realidade, as aves lutavam ferozmente pela comida. Por outro lado, nem só de milho os pombos são alimentados, o que prejudica a sua dieta e saúde, tornando-se num foco potencial de transmissão de doenças sobretudo às camadas da população mais vulneráveis, como as crianças, os idosos e pessoas com sistemas imunitários enfraquecidos, como os doentes de cancro ou VIH/SIDA.
Quando era criança, eu e o meu irmão íamos passear, por vezes, para o centro da cidade, aos domingos de manhã pela mão do meu pai.
Abundavam os canários em gaiolas pendurados na parede da varanda para apanharem um pouco de sol.
Mais tarde, começaram a surgir bandos de pombas que invadiram os espaços públicos e fizeram desaparecer os pequenos pássaros. Revoadas de pombos começaram a patrulhar os ares, os telhados, a entupir caleiras e sarjetas e a espalhar doenças. Por outro lado o património público também ficou prejudicado com os seus dejetos acelerando a sua degradação e solicitando manutenção regular. A maioria dos edifícios públicos está equipada com sistemas de espigões anti-pombos que consistem em várias linhas de hastes de aço inox espetadas em réguas de policarbonato ou inox que impede o poiso das aves nos parapeitos.
Mas se alimentar pombos pode dar multa - uma idosa foi multada em 8000 francos suíços - que fazer das gaivotas que vêm roubar comida aos caixotes do lixo e às mesas dos restaurantes?
Lisboa, Porto, Braga, Cascais e Sintra são algumas localidades portuguesas que proíbem a população de alimentar pombos, mas das gaivotas já nem se fala. A alimentação de animais na via pública contribui para a disseminação de pragas e doenças associadas.
Por sua vez, as gaivotas vieram repor alguma ordem na reprodução descontrolada dos pombos.
São agora as gaivotas que mando nos ares. Vieram do mar onde escasseia o peixe para procurar comida em terra firme. Invadem todos os espaços, sujam carros, telhados, edifícios e estátuas. Quem nunca viu uma estátua com uma cabeleira branca composta por dejetos de pombos ou gaivotas?
Assim temos uma cadeia de alimentação composta por pardais, pombos e gaivotas.
Quem é o malvado?
Quem come quem?
Quem vai sair a ganhar?