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As condições naturais da Praia de Mira — áreas verdes, lagoas, dunas, areal — poderiam tê‑la convertido numa estância balnear convidativa. Porém, o desconcerto urbanístico transformou‑a num cacharolete anestético. Formas, cores, azulejaria, falta de espaço, tudo se une para agredir a vista. À triste sina não escapam as embarcações de recreio da Barrinha (uma das lagoas), próprias de Disneylândia de mau gosto.
O desapuro prolongava‑se em tufos de pelos a sair das orelhas, em roupas e toalhas abigarradas. A poluição sonora era intensa e incluía misturas da língua portuguesa com a francesa, mesmo em frases simples como «São só três étages» e «On va rencontrer Sónia outra vez».
Acalmei o olhar pousando‑o na Capela de Nossa Senhora da Conceição, datada do século xɪx, no palheiro onde funciona o museu e em manchas de jacintos‑de‑água na orla da Barrinha. Construída em madeira, a capela segue o cânone estético dos palheiros. O seu espaço interno, ornado com barcos e redes de pesca, atesta a religiosidade do círculo piscatório local.
Eu e a Jūratė jantámos na churrasqueira Cuco, casa que oferece boa pitança e serviço correto. A decoração é kitsche a clientela é popularucha, mas a senhora que nos serviu mostrava garbo e tinha a classe que não existia no cenário.
A Praia de Mira tem mais encanto na hora da despedida, abalámos sem vontade de regressar.