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Ó glória de mandar! Ó vã cobiça, Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Lusíadas, Camões
O Nuno Garoupa, um professor universitário de Direito nos Estados Unidos, tem uma teoria interessante sobre os governos portugueses. Que resumidamente, diz que a cada 40 anos temos uma revolução em Portugal. O novo poder instala-se, faz algumas mudanças cosméticas e vive de distribuir benesses públicas pelos seus apoiantes. Passam algumas décadas, e chega a adulta uma nova geração de gente que, sem emprego nem futuro, faz uma nova revolução. E o ciclo repete-se, ou como diria o povo, só mudam as moscas.
A tese assim dita parece simplista, mas olhando para os últimos 200 anos da história de Portugal é difícil de não lhe reconhecer méritos. O século dezanove português assenta perfeitamente nesta tese. E no século vinte, por exemplo, é conhecido que Salazar tinha um cuidado especial em nomear militares para empresas e cargos públicos. E qualquer pessoa com olhos na cara sabe bem o regabofe que foi o consulado de António Costa. A forma triste como terminou não foi mais que a consequência lógica de oitos anos de más decisões e escolhas erradas.
A tese também tem um interesse especial para 2024, pois é quando se atingem os 50 anos da revolução de Abril. Portanto, se correta, deve estar para breve uma revolução. Ora, eu não acho que seja de esperar uma revolução para breve em Portugal. Mas também não penso que a tese do Nuno Garoupa esteja errada. Passo a explicar.
Se não está nas cartas uma revolução no futuro de Portugal, penso que se deve principalmente à União Europeia. Por um lado, porque continua a financiar o Estado português, seja com fundos e subsídios, seja com um banco central amigo. E por outro, porque serve de porto de abrigo para a emigração, cada vez mais jovem e qualificada. Se os mais de 2 milhões e meio de emigrantes portugueses estivessem em Portugal, aí sim penso que teríamos lenha quanto baste para acender a fogueira da revolução.
Mas o facto de existirem escapes que evitam uma revolução, não significa que as condições necessárias não estejam reunidas. Temos praticamente o mesmo grupo instalado no poder desde há quase trinta anos, o PS que desde 1995 só por breves momentos o largou. E temos uma geração sem futuro nem emprego. Pior do que o caos na saúde, na justiça e os alunos sem aulas ou os casos de corrupção e compadrio, é o sentimento de que nada disso vai mudar. Se é algo que caracteriza o século XXI português é a estagnação, o empobrecimento relativo e a resignação.
Não surpreende por isso, que a direita esteja obcecada com tirar o PS do poder. É a revolução possível para quem está afastado da mesa do orçamento e não pode marchar de G3 na mão contra o palácio de São Bento.
Não surpreende também que o voto de protesto esteja em alta, essencialmente no Chega e no Bloco de Esquerda. Combinados, fazem uns 20% das intenções de voto, de acordo com as sondagens mais recentes.
É por isso que penso que o Nuno Garoupa está correcto, Portugal está maduro para uma revolução. Só que desta vez espero que seja uma revolução nas mentalidades e atitudes dos portugueses. Que sejamos capazes de compreender que somos capazes de um país melhor. Que temos a obrigação de deixar Portugal em melhor estado do que o recebemos.