Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
A Federação Portuguesa de Tauromaquia revelou que as touradas atraíram, em 2023, mais 7% face a 2022.
4 minutos de leitura
Porto, 05 jan 2024 por João Pires
Em 2023, a época tauromáquica em Portugal registou mais de 400 mil espectadores, apesar de ter sido o ano com menos touradas de sempre, de acordo a Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC).
De acordo com notícia veiculada pela Lusa, a Federação Portuguesa de Tauromaquia (PróToiro) revelou que as touradas atraíram, em 2023, 400.700 espectadores, o que representou um aumento de 7% face a 2022, ano em que 375.200 pessoas assistiram a este tipo de espectáculos.
«Este crescimento é ainda mais relevante quando em 2023 se realizaram 176 espectáculos (191 em 2022), com o cancelamento anormal de 16 espectáculos agendados, devido ao mau tempo», refere a PróToiro.
Interesse por parte das gerações mais jovens
Este aumento pode ser atribuído a vários factores, como campanhas de promoção e divulgação das touradas, atracção de novos públicos e uma maior aceitação e interesse por parte das gerações mais jovens.
Os dados da PróToiro divergem do relatório da IGAC
Os dados da federação divergem do relatório da IGAC, que aponta 2023 como o ano com o número mais baixo de sempre no que toca a espectáculos tauromáquicos.
Segundo a IGAC, em 2023 foram licenciados 182 espectáculos e realizados 166, sendo que 16 foram cancelados ou não realizados por razões de ordem meteorológica.
Os números das duas entidades divergem também na análise comparativa, com a IGAC registar 175 espectáculos em 2022 e a PróToiro a defender que se realizaram 191.
No comunicado, a PróToiro sustenta que os seus dados, por oposição aos dados do IGAC, revelam «um retrato mais abrangente da tauromaquia em Portugal, uma vez que os dados da IGAC apenas reflectem a actividade administrativa deste organismo em Portugal Continental», não incluindo os dados da Região Autónoma dos Açores, por esta se reger «por legislação própria», tal como acontece com «eventos que não são abrangidos pelo regulamento taurino, como Barrancos, os Recortadores, entre outros».
Na nota, a PróToiro lamenta que os espectáculos tauromáquicos sejam sujeitos a uma taxa de 23% de IVA, considerando que tal prejudica «a recuperação do sector face aos efeitos da pandemia, mas também o apoio às instituições de solidariedade social que dela dependem como as misericórdias e as instituições particulares de solidariedade social (IPSS) que são proprietárias de cerca de metade das praças de toiros do país».
Segundo a federação, os ganadeiros portugueses promovem «a biodiversidade e a mitigação das alterações climáticas em cerca de 70 mil hectares de montado, lezíria e espaços endémicos nos Açores dedicados ao toiro bravo» e contribuíram «positivamente para a balança comercial de bens e serviços, tendo as exportações atingido as 437 reses bravas» no ano em que foram importados «somente 24 toiros».
Em Portugal, em 2023, foram lidados nas praças nacionais 1.112 toiros.
Para o presidente da PróToiro, Francisco Macedo, «estes números mostram bem o apego dos portugueses à cultura tauromáquica», esperando a federação que na próxima legislatura o Governo ponha fim «à discriminação» entre estes espectáculos e os restantes espectáculos culturais, abrangidos por uma taxa de IVA de 6%.
Violência animal
A tauromaquia tem sido alvo de debates e controvérsias em Portugal e em outros países, devido à sua componente de violência animal. No entanto, estes números indicam que há uma parte significativa da população portuguesa que ainda se interessa e apoia este tipo de espetáculo.
Por esse motivo, a popularidade das touradas vem diminuindo em muitos países, devido a preocupações com o bem-estar animal e mudanças de valores sociais. A tendência nos últimos anos tem sido a proibição ou restrição das touradas em várias regiões, em resposta a essas preocupações. Portanto, é possível que seja cada vez mais improvável encontrar touradas com um número tão alto de espectadores no futuro. É importante respeitar as leis e normas de cada país em relação a esse assunto.
Há também uma oposição crescente à tauromaquia em Portugal, com movimentos e organizações que defendem o fim deste tipo de espetáculo devido aos maus-tratos infligidos aos animais. Várias medidas têm sido discutidas e implementadas para regulamentar e limitar certos aspectos da tauromaquia, como a proibição de matar os touros em público, por exemplo.
As touradas são uma tradição cultural portuguesa
No entanto, a PróToiro destaca ainda que as touradas são uma tradição cultural portuguesa, com um papel importante na preservação e difusão do património cultural do país. Muitas localidades portuguesas têm tradições tauromáquicas antigas, que remontam a séculos de história, e que fazem parte do seu calendário de festividades. A tauromaquia também é uma actividade que envolve uma cadeia de profissionais, como toureiros, ganadeiros, forcados e outros, que contribui para a dinamização económica das regiões onde se realizam as touradas.
Cada vez maior grupo de opositores
Perante estes números, fica evidente que a tauromaquia continua a ser uma actividade com um público considerável em Portugal, embora tenha também um cada vez maior grupo de opositores. A discussão sobre a sua legalidade e ética continua a ocorrer no país, e é provável que a polémica em torno da tauromaquia em Portugal continue a existir nos próximos anos.