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As passagens de ano simbolizam novo ciclo. A esperança de novos inícios e a ilusão que as vidas passadas sejam apagadas como giz num quadro de ardosia. Os primeiros tempos do novo ano gregoriano foram pontuados por várias ‘passagens de ano’.
No programa de passagem do ano civil ocidental estava a comemoração na avenida das luzes, a tremer de frio aquecida pela multidão ao redor, com a possibilidade de um beijo roubado a um qualquer desconhecido. O destino trocou-me as voltas e ofereceu-me um passar das 12 badaladas calmo e quente no aconchego do lar.
O ano do coelho veio logo a seguir saltitando, expectante com mais um recomeço. Desta vez tive de bater o pé e fui pra rua comemorar! A sorrir com os dragões dançantes, a dar e receber papelinhos vermelhos rabiscados com símbolos ininteligíveis de bem-aventuranças, a oferecer incenso aos deuses e ouvir o estalar das pequenas explosões que afastam os maus espíritos. Da China pra Paris não faltou quase nada.
Pensava eu que não haveria mais possibilidade de recomeços ou mais desculpas para comemorar, quando percebi que o ano astrológico ia começar. Não sei bem o que isso quer dizer, mas deverá ser algo relacionado com as estrelas, o sol e mais a posição de carneiro algures nas pastagens interestelares.
No meio de tudo isto o meu ano recomeçou. Assim de repente quase sem contar, recomecei uma nova vida. Mudei novamente de país, de cidade, de trabalho. Mudei de rotinas. Atirei-me ao desconhecido na esperança de apagar o giz no quadro riscado. Mas sei que os riscos ficam e veem connosco para onde quer que nos transmutemos. São parte da beleza pintura.