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Lixo, lixo, e mais lixo. Bruxelas é uma enorme lixeira a céu aberto. Por tipos de poluição diferenciam-se a atmosférica, a hídrica, a do solo, a térmica, a sonora, a luminosa, a radioativa e a visual. É sobre esta última que hoje me vou queixar. Bruxelas, capital política da Europa, é uma nódoa no que respeita a este domínio. Sempre podemos observar a situação como se de instalações urbanas se tratasse de sacos de lixo de variadas cores empilhados às portas das casas, conferindo à cidade uma identidade muito própria, única mesmo, de quem ainda conseguir encontrar um modelo capaz de ultrapassar um tão deplorável espetáculo, mais condicente de resto com os países do terceiro mundo.
Todos os amigos que me visitam e os conhecidos a quem por vezes faço as vezes de cicerone ficam deveras impressionados com tão singelos amontoados de sacos e também de papelão que atravancam e sujam as ruas, ferindo as retinas pela estética inusitada dum visual a que não estão de todo habituados e que os repugna vivamente. Todos de imediato comparam com o que se passa no nosso país para de imediato concluírem que neste particular pedimos meças.
Fazendo um bom par de anos que cá moro, chego a ter vergonha alheia, e também ainda não consigo compreender a proliferação de sacos horas e horas nas ruas até que passe o carro da recolha a desoras. Ficando tantas e tantas vezes os ditos sacos à mercê das bicadas dos corvos, o que eventualmente pode desencadear problemas de saúde pública acrescidos. Vale que por estas paragens não existem esfomeados cães vadios à solta. Mas, em contrapartida há raposas errantes nos parques e jardins que desempenham a mesmíssima função.
De modo tímido começaram há bem pouco tempo a instalarem as nossas bem conhecidas ilhas ecológicas e até já se vislumbram alguns vidrões na cidade, mas muito aquém das reais necessidades desta urbe que se faz notar internacionalmente por um motivo nada agradável à vista e tantas vezes também vilipendiado ao olfato. Também já se conseguem avistar uns pouco contentores, agora não se consegue entender a razão da recolha do lixo perpetuar há décadas o mesmo obsoleto modelo, quando por essa Europa fora tantos outros foram testados com sucesso. Nem era preciso ser criativo nem imaginativo, bastava copiar o que outras capitais fazem bem feito.
Recentemente entrou-se num furor de reciclagem. Para além dos sacos brancos, verdes, azuis, amarelos, rosa, surgiu agora por estes dias a moda dos sacos laranjas com vista à compostagem, o que até é bem observado, mas sem qualquer informação acerca de como proceder, designadamente mencionando a traço grosso a necessidade de bem os fechar. Como resultado foi uma descida aos infernos das larvas brancas que logo ali nos sacos se formaram às centenas ou milhares e que repugnam o olhar e enojam qualquer estômago menos habituado a tão repelentes seres, que sempre surgem em locais onde há matéria orgânica, pois desses restos se alimentam para os processar.
Em todo o caso, é quase necessário fazer um curso para deslindar o que deve ser metido em cada um dos sacos. Mas, para nosso maior desespero verifica-se a existência dos polícias dos sacos. Só assim se explicando o que outro dia constatei numa rua da cidade em que os sacos por ali abaixo estavam todos assinalados com autocolantes marcando os erros cometidos na separação dos diferentes tipos de lixo. Antes que comecem a chegar as multas, e já sabemos que onde há polícias há multas, melhor é fazer uma cábula e colá-la na cozinha de modo a que não nos enganemos em tão espinhosa missão de bem reciclar em todas as cores já previstas e nas que ainda estarão para vir.
Ao cidadão comum, ordinário ou vulgar é exigido um tão elevado grau de sofisticação reciclável em nada compaginável depois com o arcaico método de recolha do lixo, o que constitui uma enorme contradição na abordagem ao tema. Se por um lado querem dar-se o ar de estarem no topo da evolução do tratamento do lixo não se pode deixar de observar que na sua recolha apenas deram os primeiros passos. Trôpegos passos, sublinhe-se, como bem observamos todos os dias nas ruas da capital do reino da Bélgica.