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Bem diferente do que a Amália cantava, não são os espanhóis nem os espanholitos, mas antes os portugueses e os portuguesitos que são doidos, verdadeiramente malucos por caracóis. Acompanhados, claro está, por rodadas sucessivas de imperiais e muito pão torrado com manteiga. Uma loucura que desponta no início da primavera e dura o verão inteiro. Geralmente em grupo, mas também pode ser individualmente, a verdade é que quando o desejo do caracol desponta corre-se seca e meca à procura dos melhores nas tascas em redor.
Gastronomicamente, as receitas para a sua preparação mudam conforme a mão que os cozinham. Certos são os orégãos, o alho e o sal, já que o resto dos temperos diferem em razão da região, sendo que a moda alentejana e a algarvia são distintas entre si. Há quem também lhes adicione um caldo Knorr o que não é de todo boa ideia pois ficam muito plásticos no sabor e na própria textura. Não pode faltar é o fiozinho de azeite, a bela da malagueta para lhe acrescentar picante ao paladar nem a folha de louro enquanto tempero-chave. Também há quem use cerveja na confeção. A imaginação é sempre o mais importante para quem cozinha e aí está o verdadeiro segredo da receita.
Em si mesmos os caracóis são uns rastejantes, ranhosos insípidos e só a magia da nossa culinária soube executar o processo alquímico que os transformam em petisco dos deuses da Lusitânia. Mas, uma bela caracolada é também pretexto para convívio de amigos ao final da tarde e se antes, no tempo da minha infância, se ia aos caracóis pelos beirais, agora são criados em caracolários aos milhões.
O que também mudou foi a forma de retirar o caracol da casca. Antigamente usava-se um alfinete mas hoje em dia o palito é rei, no entanto quando têm a cabeça de fora não há como não os chupar.
Mas não se pense que a demanda dos caracóis se resume ao retângulo pátrio. Também nas comunidades de emigrantes, os portugueses demandam os restaurantes das cidades onde se encontram em busca dos ditos. Os donos dos restaurantes conhecendo a nossa mania já têm o petisco preparado para todos os dias da semana sem exceção e sem necessidade de proceder a qualquer reserva a não ser a da mesa.
Numa perspetiva mais económica, a produção de caracóis pode ser uma atividade rural interessante para quem busca um novo negócio ou pretende enveredar por uma nova vida. De acordo com alguns estudos de custos económicos a criação de caracóis bem gerida é hoje uma das mais rentáveis atividades agrícolas que existem. A contabilização dos lucros, porém, provenientes da venda de caracóis demora pelo menos um ciclo de vida deste animal, ou seja, entre 8 a 12 meses desde o início da operação. Interessante também é perceber que até as fezes do caracol secas são ideais como adubo para hortaliças, como é o caso da alface ou da couve, e de algumas frutas como as amêndoas, framboesas e outras. Na verdade, tudo se aproveita, até o ranho para poções de beleza.
Não termino esta crónica sem me comprometer num dia destes ser eu próprio a preparar uma caracolada para uma roda de amigos. Os mais próximos claro que estão todos convidados.