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Para um relacionamento feliz é preciso abdicar ou mais vale só.
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«Mais vale só, que mal-acompanhado», diz o ditado.
Desde há duas décadas, com o desenvolvimento da internet e o crescimento das redes sociais, se passou a dar mais importância ao «eu». Prova disso são os auto-retratos com o telemóvel e tanta coisa publicada em nome próprio. O que eu estou a comer, com quem estou, onde eu fui passear, o que eu comprei, o que eu gostei, o que eu detestei, a sentir-me divertido, a sentir-me angustiado e tantos outros sentimentos.
O sentido de comunidade passou das ruas, dos cafés, dos restaurantes, dos convívios cara-a-cara, para as comunidades virtuais, para o telemóvel.
Hoje quando se dá um encontro, um convívio, um jantar, uma caminhada, a sensação é totalmente diferente. É mais vazia, apesar de estarmos ali, frente a frente como antigamente.
Então o que mudou?
Noutros tempos, o encontro, a jantarada, o passeio era esperado com grande antecedência, porque as pessoas só tinham aquele momento para conviverem, para estarem juntas. E se algo interrompesse aquele momento único, era rejeitado a favor daquele convívio.
Hoje, as pessoas juntam-se fisicamente para falarem, mas fazem-no no dia-a-dia por telefone, por videoconferência, por mensagem, por tanto não há novidade estarem ali frente a frente. Pelo contrário, muitas das vezes, dá-se a desilusão: «não te tinha imaginado assim…», quando se concretiza o primeiro encontro depois de muitas conversas à distância. E não abdicam da companhia do telemóvel, interrompendo, por vezes, as conversas para consultar o telemóvel.
Mas no passado as pessoas também se correspondiam por carta ou por telefone e quando se encontravam, geralmente transbordavam de alegria, por se encontrarem pessoalmente.
As redes sociais vieram dar mais poder ao «eu», tornando-o implacável.
«Mais vale só, que mal-acompanhado», lá diz o ditado. «Se não estás bem, muda-te». E vai por aí fora, até que as pessoas se convencem que são mais fortes quando se tornarem independentes.
Claro que o ser humano é independente, precisa do seu próprio espaço, mas também é gregário, é um ser social, precisa de conviver com outras pessoas.
Mas passou a ser social virtual, passou a estar dependente do telemóvel para se comunicar com os seus amigos que nunca conheceu pessoalmente, nem sente essa necessidade e quando acontece até é uma chatice.
Voltando ao centro da questão, opta por ser independente, por viver só. Estranhamente e logo de imediato começa à procura de nova companhia. «Estou bem aonde eu não estou / Porque eu só quero ir / Aonde eu não vou» como diz a letra da canção «Estou Além» de António Variações.
Passou a existir uma estranha sensação de insatisfação permanente, sem que isso leve a lado algum. Somos seres insaciáveis.
Somos cada vez mais exigentes na procura de uma companhia para um relacionamento duradouro, sem saber aceitar o outro tal como ele é. Quanto mais exigentes somos, menor é a possibilidade de encontrar esse ser perfeito que deve existir algures no planeta Terra. Mas o que é perfeito hoje, pode modificar no futuro, tal como o clima do planeta Terra.
Claro que é normal ter padrões e criar expectativas e não querer contentar-me com qualquer pessoa. Mas como poderei encontrar a alma gémea? Para aumentar as probabilidades de encontrar alguém especial, é útil procurar actividades e espaços onde possas conhecer pessoas com interesses semelhantes aos teus. Participar em grupos, eventos ou passatempos que interessam, pois isso pode ajudar a expandir a tua rede social de pessoas de carne e osso e aumentar as hipóteses encontrares alguém compatível.
Por outro lado, quando as exigências são elevadas deixam de ser realistas ou eliminam todas as possibilidades de encontrar a companhia certa para um relacionamento saudável e com significado. Para um relacionamento feliz é preciso abdicar e aceitar.
Na verdade, as pessoas estão cada vez mais sós deixando-se invadir pela solidão.
Eu, não sei nem posso diagnosticar doenças ou condições médicas. No entanto, a solidão pode ser um problema grave que afecta o bem-estar mental e emocional das pessoas.
Será que o mundo vai morrer só?