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Faz um sol quase incrível de tão lindo lá fora. Mas eu tenho várias tarefas no computador esta manhã, como em todas as manhãs. E penso no quanto eu queria poder me banhar nua no sol hoje e todos os dias...
Penso também que hoje se celebra o dia internacional das mulheres por razões históricas, políticas e sociais. E isso importa. Claro que importa. Sou mulher. E mesmo que fosse homem, também importaria.
Fico pensando que fiz incontáveis dietas. Sou mulher. Desisti delas. Continuo sendo mulher. Coube em vestidos desnecessários e cortei calças por causa da baixa altura, imaginando os saltos altos que me fariam menos baixinha. Sou mulher. Pinto as unhas. E, de vez em quando, como-as também. Sou mulher. Recolho os brancos que teimam em aparecer nos cabelos que pouco corto. Sou mulher. Falo em tom suave e manso. Sou mulher, embora muitas mulheres voci-ferem. Gosto de flores. Não importa. Gosto do aroma das flores. E de admirar a lua. E de me banhar ao sol. Também não importa. Sou mulher.
Faz muitos anos, li o conto “O Sol” de um dos meus autores prediletos, o David Herbert Lawrence, e o traduzi. Publicaram-no em edição de bolso. Não importa. Afinal, sou mulher. E em sendo mulher, lembro-me das vezes que me interromperam vozes mais fortes, não necessariamente mais estrondosas. Porque, sou mulher. E o silêncio é bem estrondoso! Sou mulher. Mulher estrondosa-mente. Há mulheres que voci-feram. Mas eu Sou Mulher. E tenho silêncios. Pausas. Encontros, desencontros. Desencantos.
E, então, volto ao conto que sempre me seduz. Gostei muito da protagonista d´“O Sol”. A tal mulher tomava sol nua todos os dias no verão. Sou mulher e queria poder fazer o mesmo. Mas sou mulher, e não a Mulher no conto do D.H.Lawrence. Também não sou as mulheres das capas das revistas, nem as modelos das vitrines. Sou mulher. E quero me banhar ao sol. Nua. Não vivo da escrita, vivo da docência. Sou mulher. Estudei muito e adiei planos pessoais. Sou mulher. Uso óculos e isso parece um grande defeito as amigas-estetas. Sou mulher. Embora, elas, também...! Uso óculos e os homens pouco notam. Sou mulher. Caso a escuta com a escrita. Porque sou mulher. Caso a leitura com a imaginação. Porque sou mulher. E muitos homens, também. E em sendo mulher, vou tecendo um fio interminável de memórias que fazem deste corpo e desta voz uma linda Mulher. Bela, grandiosa, como (quase) todas as mulheres. Não posso falar pelas mulheres que voci-feram e você-ferem. Mas posso falar pela Mulher que sou.
Sou mulher e não quero embustes travestidos de bons moços, nem misteriosos sedutores mascarados de Don Juan. Sou mulher. Não quero palavreado difícil, nem rumor desnecessário. Porque sou mulher. Quero o cheiro da verdade. O sabor da vaidade adormecido. E sempre presente. A amizade. E os entrelaçamentos alegres que com ela vêm. Quero o refinamento do simples. O cheiro da chuva. A areia nos pés andarilhos ao mar e o infinito céu no horizonte, a brindar esta única essência. Ser mulher. Sem medo de ser feliz. Só sendo. Feliz. Mulher.
E nos meus planos de mulher, atravesso os faróis vermelhos, em que o silêncio seja esquecido, em que um lenço ou a sombra dos chapéus cubra as linhas do tempo nos rostos, porque há um flash à espera do outro lado...Ultrapasso a luz do farol vermelho que acinzenta a liberdade de todas as mulheres. E de todos os homens. Porque sou Mulher. Atravesso pontes, cantarolo fados, deixo-me esquecer dos compromissos. Não porque eu seja mulher, mas porque sou humanamente Mulher.
Volto as gaivotas do Porto, minhas aves prediletas. Não porque eu seja mulher, mas porque em a sendo, desejo voar, libertar-me de todas as amarras, sejam elas dos estranhos objetos que prendem os meus fartos peitos, dos óculos que por vezes aumentam demais o tamanho de tudo ou dos sapatos apertados em dias calourentos, causando alvoroço em minh´alma saudosa da infância. E dos silêncios quebrados por barulhos de verdades...
Volto as gaivotas do Porto, como quem volta a si mesma... porque sou mulher. E adoro todos os homens. Como se fossem mulheres. Mas sei que são homens e os adoro, também. Adoro-os como se fossem as gaivotas que admiro nos vôos que perco de vista...
Volto as gaivotas do Porto. Menos porque sou mulher. Mas também porque sou Mulher.
E, em sendo mulher, voarei pelo horizonte da praia dos Ingleses a me perder no oceano de ternuras, lembranças doces de como a vida é alegre quando só se olha o horizonte e se pensa no calor do sol e no vôo das gaivotas que amam homens e mulheres.
Quando eu me cansar de tanto voar, descerei ao solo, para me banhar ao sol nua-mente! – não porque sou mulher. Mas, porque Sou Mulher. Obrigada, Homens!