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O treinador português de futebol Miguel Cardoso, que entre 2013 e 2017 trabalhou na Ucrânia, lamentou a situação na região, mas confessou o desejo de "voltar um dia" a um país ao qual mantém “forte ligação emocional”.
“Aconteça o que acontecer, gostava de um dia voltar à Ucrânia, e mais concretamente a Donetsk. As memórias que tenho da cidade são muito grandes. Tinha uma vida muito agradável e as pessoas são fantásticas”, partilhou à Agência Lusa.
O treinador foi contratado em 2013 para ser treinador e coordenador técnico das camadas jovens do clube Shakhtar Donetsk, na altura por indicação de Luís Gonçalves, atual dirigente do FC Porto, que nesse ano desempenhava funções de chefe da prospeção do emblema do leste da Ucrânia.
“Quando fui não sabia, e nem sequer sentia, a existência do conflito. Era um clube sedutor, muito forte, que privilegiava a formação. Tinha um centro de treinos com uma dimensão incrível, instalações muito boas, e uma organização comparável com os grandes clubes da Europa Ocidental”, lembrou Miguel Cardoso.
O técnico confessou que levava “uma vida agradável, num clube que era um projeto social dos seus proprietários, que investiam na cidade, no desporto e até no convívio das famílias”.
“Essas questões sociais dos valores pró-ucranianos e pró-russos não eram sentidas. Vivi muitos meses sem que falasse disso, e o trabalho que estávamos a desenvolver era muito elogiado”, contou.
No entanto, a partir de 2014, o clima mudou a nível político e social, com os bombardeamentos em Donetsk a forçaram a retirada das instalações do clube para as cidades de Poltava e Kiev, mas o sucesso desportivo no trabalho desenvolvido por Miguel Cardoso inspirava a sua continuidade.
“No momento de maior crise, na época 2014/2015, os nossos sub-19 foram finalistas da UEFA Youth League, em torno de um projeto desportivo consolidado, e onde os jogadores se amarram a algo ainda mais forte, pelo que estava a acontecer no país. Foi uma lição de vida de grande profundidade”, partilhou.
Miguel Cardoso confessa que os mais de quatro anos que viveu na Ucrânia foram marcantes, e que ainda hoje “guarda traços culturais absorvidos dessa fase”.
“Se tivesse a oportunidade de um projeto sério, gostava de voltar pelo prazer que foi viver na Ucrânia. Sinto que deixei uma marca no clube, não só no desenvolvimento de jogadores que hoje são internacionais e jogam em grandes clubes, como também por abrir caminho para que outros técnicos portugueses, como Paulo Fonseca e mais tarde Luís Castro, também tivessem uma passagem vitoriosa”, partilhou.
Miguel Cardoso, que além da passagem pelo Shakhtar Donstsk, conta ainda no seu currículo como trabalhos no Sporting de Braga, Belenenses, Académica de Coimbra, Sporting, pelos espanhóis da Deportivo da Corunha, e mais tarde com treinador principal, no Rio Ave, nos franceses do Nantes, nos gregos do AEK, e nos espanhóis do Celta de Vigo, lembrou ainda aspetos marcantes na sua passagem pela Ucrânia.
“É um prazer ver jogadores que me passaram pelas mãos e estão em grandes clubes europeus e ucranianos, e também de perceber que o trabalho feito teve continuidade no país, nomeadamente quando foram campeões da Europa em sub-17”, concluiu o treinador.