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Numa semana plena de ruído sobre a possibilidade de o governo Britânico não chegar a acordo, a tensão entre cidadãos europeus residentes no Reino Unido tem vindo a aumentar.
Ainda que na passada semana a Embaixada de Portugal em Londres tenha referido que não se sabia o que sucederia em caso de “no deal” na sua sessão de esclarecimento em Londres, sucedem-se os casos de cidadãos portugueses a quem lhes tem vindo a ser recusada residência permanente e os subsídios que auferiam há vários anos.
Um destes casos é o de Sofia que, tendo sido vítima de violência doméstica e acolhida num refúgio, ao requerer subsídio de habitação separadamente do seu companheiro, foi confrontada não só com a recusa deste subsídio mas também informada de que o tem vindo a receber indevidamente pelo que terá que restituir cerca de €3000. Sofia, mãe de um filho menor e residente no Reino Unido há mais de 10 anos, também viu recusado o direito de permanecer no Reino Unido pois esta não trabalhar logo o direito de aqui residir dependia do seu companheiro.
Esta situação não é um caso isolado desde o Brexit, e muitos cidadãos europeus, entre eles portugueses, em situação de vulnerabilidade social, têm visto a sua permanência no país ameaçada e, consequentemente, o seu acesso ao mercado de trabalho e subsistência enquanto aguardam pela abertura do processo de registo de cidadãos europeus, em fase piloto, na cidade de Liverpool.
Durante esta semana Paul Dreschler, ex-presidente da Confederação da Indústria Britânica criticou numa entrevista ao jornal Guardian, a falta de agilidade do governo Britânico em reconhecer os direitos dos europeus residentes no Reino Unido e consequentemente os direitos dos cidadãos britânicos residentes noutros estados-membros. Paul Drechsler referiu que deixar mais de 5 milhões de pessoas num limbo durante mais de dois anos vai contra os mais básicos valores Europeus e Britânicos, deixando estes cidadãos debaixo de uma ameaça de incerteza.
Classificando esta situação como “escandalosa”, Paul Drechsler defende que por esta altura a garantia de direitos já deveria ter sido reconhecida de forma incondicional e inequívoca, em qualquer circunstância e em qualquer acordo. Defende também que é tempo de enterrar todas as mentiras sobre imigração e informar as pessoas que a falta de controlo transfronteiriço foi uma escolha do Reino Unido e não da Europa, o que permitiu um enorme influxo de cidadãos do Leste da Europa, especialmente da Polónia após 2004.
O antigo chefe da indústria britânica apoiou a proposta de Theresa May designada por Chequers que veicula um “soft Brexit” e reiterou a importância de se garantir os direitos dos cidadãos europeus como o mais importante factor para os negócios em Londres de forma a que estes se possam ajustar em caso de qualquer acordo, dado que não podem subsistir sem esta força laboral.
Dreschsler, actualmente Presidente da London First, uma plataforma de grupos de negócios da capital britânica, reforçou que cerca de 40% da força laboral na área de serviço de apoio ao cliente é oriunda de outros estados-membros bem como um terço dos trabalhadores na área da construção, acrescidos de 15% dos colaboradores na área financeira. Dominic Raab, o secretário para o Brexit, recentemente assegurou que os cidadãos europeus não seriam removidos do país em caso de ausência de acordo, mas não referiu em que condições de emprego e direitos sociais reteriam neste caso, incluindo a possibilidade de reagrupamento familiar.
Dreschsler frisou a necessidade de se introduzir um visto de pelo menos seis anos de duração para permitir um fluxo contínuo de trabalhadores e ainda que se tenha congratulado com a garantia de Dominic Raab, frisando a necessidade de ir mais a fundo, criticando a demora e uso dos cidadãos europeus como moeda de troca, baseando numa enorme mentira que foi a falta de controlo transfronteiriço, dado que cerca de dois terços da imigração para o Reino Unido nos últimos 12 meses, é oriunda de países terceiros.
“É tempo de sermos honestos com as pessoas sobre o papel positivo e a contribuição para a nossa indústria que estas pessoas trazem”, frisou, acrescentando que “o Reino Unido falhou completamente na gestão migratória desde sempre, ao contrário dos outros países europeus onde existe um processo de registo e de acesso ao sistema de segurança social, enquanto no Reino Unido não se sabe ao certo quem entra e sai”.