No 25 de Abril vivia em Luanda. Tinha 14 anos. As noticias começaram por chegar confusas. À hora de almoço não sabíamos ainda bem se era um movimento libertador ou um golpe da direita do regime. Ao jantar as noticias eram mais animadoras, mas foi já noite dentro, que regressado de uma sessão de cinema (um filme do Cantinflas - humorista mexicano, que pela coincidência jamais esqueci) que ficou claro que a liberdade tinha chegado a Portugal e que lutar por ela seria um dos propósitos da minha vida.
No dia 25 de Abril de 1974 estava em Lisboa, tinha 15 anos, o que me assustava eram os soldados e Tanques nas ruas, não sabia que estava em curso a revolução (a dos capitães) enquanto caminhava Disseram-me que a ditadura acabou, não entendi, perguntei ao meu pai o que devo fazer, fui à Embaixada da Bélgica (Praça Marquês de Pombal) e depois voltei para casa perto de Cascais, uma experiência que nunca será esquecida.
Na manhã do dia 25 de Abril de 1974, estava num Colégio interno, em Lisboa e ainda deitada na camarata, ouvi, com satisfação ingénua, que não iríamos às aulas no Liceu Mar por ter havido uma revolução. O que me lembro do que mudou a partir de então? Foi passar a ter as janelas do Colégio, sem cadeado, e poder abri-las à vontade. Foi este o 1° gesto de liberdade que me lembro do famoso 25 de Abril.
Exatamente estava à decer as escadas do apartamento. Quais du chantier 17. Quando encontrei o meu amigo Manuel Teixeira , engenheiro. Muito feliz e a chorar disse me, estamos livres , já não somos mais refugiados, Somos portugueses: creio que deveria ser um sábado ou domingo. Pq um português não para de trabalhar e nos encontramos na escada de manhã deveria ser umas 9 h da manhã . Minha filha já tinha 7 meses,eu 24 anos minha filha vai a caminho dos 50 anos e eu vou a caminho dos 75.
Na noite de 25 de Abril de 1974, encontrava-me em Santa Margarida, aguardando o embarque para a Guiné. Naquela noite, enquanto estávamos na sala de Cinema, a assistir a uma sessão de "acção psicológica", fomos interrompidos abruptamente. Fomos ordenados a apresentar-nos na parada do aquartelamento, equipados com todo o equipamento militar, para uma operação. Na confusão daquele momento, ninguém sabia ao certo o que estava a acontecer, já que não havia telemóveis nem internet. Passamos algumas horas a aguardar ordem de saída, mas não aconteceu. Entregamos todo o material e voltamos à caserna até nova ordem, não sendo necessária a nossa intervenção na Revolução dos Cravos.
🌝Onde e com quem estava, naquele dia? É o que menos importa! Significativo é saber onde estou e o que quero para o meu/nosso futuro, hoje! A celebração da revolução dos cravos, não pode ser revestida de sentimentalismos e nostalgias, que podem ofuscar o ímpeto, de olhar para o horizonte, para aquilo que defacto interessa! Faz lembrar: “Quando o sábio aponta para a lua, há quem fique a olhar para o dedo”! Os nossos jovens, pouco ou nada querem saber desse dia, que também foi noite fria. Eles reconhecem os feitos históricos, as vantagens da democracia e da liberdade. Mas querem soluções para a sua vida: educação, emprego, serviços dignos de saúde, habitação, segurança, justiça... Eles e todos nós temos razões de preocupação, por ocasião da festa maior! Os sinais, que também são factos reais, apontam para um 25 de Abril da Liberdade sim, da Democracia, pois claro, mas carregados de sérias preocupações! Ainda se confunde o cravo, com a rosa; a liberdade, com a libertinagem! Onde e em que estás, nesta celebração do 25 de Abril de há 50 anos?
No dia 25 de Abril de 74, levantei-me e fui para o liceu. Andava na altura no antigo 5°ano dos liceus e no liceu Passos Manuel. Por mero acaso, nesse dia decidi fazer o caminho mais longo, apanhando o metro até ao Rossio e depois a pé por ali acima. Chegado ao Rossio, foi o espanto total com os tanques estacionados de ambos os lados de acesso à Praça e esta inundada de soldados e público. Foi aí que vi as mulheres que vendiam flores a oferecerem cravos aos soldados e um deles promeiro e depois vários a colocarem-nos nos canos das G3. Os populares gritavam para quem queria ou não ouvir, "É uma revolução! Acabou a ditadura!" Eu que na altura pouco sabia da situação e do regime, disse para mim, Mesmo assim, o melhor é ir para as aulas... E lá fui bater com o nariz no portão do Passos e onde encontrei muitos dos meus colegas que se preparavam para ir para o Largo do Carmo onde se tinha abrigado o Prof. Marcelo Caetano...E lá fui também...Lá chegados, o ambiente era tenso e o que se gritava, já era vociferado e com muita raiva. Nessa altura, tive a infeliz ideia de ligar para casa de uma cabine de um café e minha mãe estava em extrema ansiedade a acompanhar os acontecimentos pela rádio e pela televisão, pediu-me para voltar para casa e que meu pai também ia voltar. No regresso, de novo no Metro nasceu na minha consciência a decisão de que tinha de saber e perceber porque é que aqueles acontecimentos tiveram lugar e as suas consequências para a minha vida e para os portugueses, mas tudo isso é uma outra história...
Viam-se flores, cravos vermelhos. Os meus irmãos, de tenra idade na altura, passaram a tarde a fazer flores de papel vermelhas, à mingua de cravos, para dar aos soldados. O meu pai surpreendia-se por tudo ter virado tão depressa, enquanto a população dormia. Afinal as conversas que dominavam as nossas refeições tinham sentido e tinha sido possível por um ponto final a tantos anos de escuridão. Ao longo dessa 5. feira, lembrei-me muito de Prof. Cintra e da aula que ele nos poderia ter dado nesse dia. Que contudo existiu: diferente, essencialmente prática, fora da sala de aula, mas aplicando toda a teoria que nos tinha ensinado a gostar. Quando voltei à Faculdade, o ambiente era outro. Festa, sem dúvida, mas também de justiça. Contra aqueles que no meio de nós, nos tinham denunciado à PIDE. E no meio de todos, lá estava o Professor Cintra, Preocupado, como sempre, mas desta vez com um "brilhozinho nos olhos" que tornava o seu semblante menos carregado. Rodeado de alunos. E amigos. À vontade, que os ajuntamentos já não eram atentados contra a nação. Nunca mais.
No dia 25 de abril de 1974, e no preciso momento em que fui informado do feliz acontecimento, estava eu nos bancos da Universidade, em Louvain-la-Neuve. O meu amigo, Philippe Godard, diz-me: “sabes que houve uma revolução em Portugal?” Regressei logo a Bruxelas e comecei a contactar os meus amigos, também aqui refugiados políticos, e a telefonar para Portugal. Nem queria acreditar, mas era verdade! Daí para a frente a minha vida mudou!
O Natal é, por excelência, a festa da família, na circunstância, da maioria das famílias portuguesas, na qual todos os membros devem ser cuidados da mesma maneira, com idênticos critérios de: solidariedade
Read more NATAL: RUMO AO PORTO SEGURO DA PAZVivemos num mundo onde as palavras e as acções obscenas parecem ter perdido o seu verdadeiro significado. Vivemos num mundo onde as palavras e as acções obscenas parecem ter perdido o seu verdadeiro significado. Têm muito pouco de obsceno. O verdadeiro obsceno não está nas palavras ou gestos, mas sim na realidade que muitos são forçadas a enfrentar diariamente.
A obscenidade reside nos dias actuais, na vida difícil e cruel que tanta gente é obrigada a viver. A miséria, a fome, a guerra, a crueldade, a traição, o genocídio, a opressão, a injustiça, tudo isto é obsceno. É uma realidade que nos choca e nos entristece.
É obscena, a imposição de certas normas sobre a forma como devemos viver as nossas vidas. Sentimo-nos aprisionados por regras que não escolhemos, que são impostas por alguns em detrimento dos desejos e vontades de muitos, o não termos a liberdade de viver a vida que desejamos, de ter o trabalho que queremos, de nos deslocarmos para onde queremos, de ouvir a música que gostamos, de comer o tipo de comida que preferimos, o não termos livre arbítrio sobre as nossas próprias vidas.
A obscenidade está presente em inúmeros aspectos da sociedade. Por trás de uma fachada de progresso e modernidade, encontramos uma realidade sombria e desconcertante.
É ainda e também obsceno, o possuir riqueza individual imensa, quando tanta gente morre de fome, o fabrico de armas para alimentar guerras, a falta de empatia para com os mais desfavorecidos, a deslealdade dos governantes para com o seu povo, o lucro baseado na corrupção, o tempo de miséria, fome, guerra, crueldade e deslealdade, que nos são quotidianos, o acto de trair a confiança do outro, assim como os genocídios e opressões que ainda ocorrem, a injustiça que prevalece em tantas esferas da sociedade e o desespero que consome tantas vidas, o matar em nome da religião, a calamidade que nos rodeia, assim como as superstições atávicas, a imposição de ideias retrógradas e controladoras e as formas modernas de inquisição, que cria um ambiente de medo e silencia qualquer voz discordante, o ter quem mande em quem manda em nós, sem que tenha sido eleito ou sujeito a sufrágio, e, no mundo que outrora era decidido pelas cores das bolas de pedra e ganhava a que simbolizava a luz, ter passado a vencer a da sua ausência.
Num mundo regido pela lógica do poder e do lucro, e pelas agendas daqueles que detêm as rédeas, a noção de liberdade individual é distorcida e, muitas vezes, ignorada. A verdadeira obscenidade não se encontra nas palavras maliciosas ou nos gestos considerados impróprios, e é importante não ficar indiferente a tudo o que se passa, bem escondido à vista de todos. Devemos lutar contra essas injustiças e trabalhar para criar uma sociedade mais justa e equilibrada. Devemos combater o desaparecimento dos nossos valores, que nos são impostos, e lutar pela nossa liberdade de escolha e de expressão.
É através da empatia e da solidariedade que podemos superar a obscenidade da nossa realidade atual. Cada um de nós tem o poder de fazer a diferença, de se posicionar e de lutar por uma sociedade mais equilibrada.
É um erro aceitar este estado de coisas como uma realidade inevitável. Devemos trabalhar para construir um mundo onde cada indivíduo tenha o direito de viver a vida que deseja, de forma livre e autêntica. Está na hora de enfrentar a verdadeira obscenidade que nos rodeia, e a que nos querem impor, e trabalhar incansavelmente para alcançar uma realidade onde a justiça, a igualdade e o respeito mútuo sejam a norma e os nossos valores, e onde a obscenidade seja apenas uma memória do passado.
Cada um de nós tem de ser a mudança que queremos ter. Neste cenário obscuro, encontraremos uma luz de esperança. Aqueles que ousam desafiar as imposições e lutar por um mundo mais justo são a voz da resistência, as pessoas que se recusam a aceitar a obscenidade do mundo e procuram uma mudança verdadeira, através da empatia, compaixão e solidariedade.
José Fernando Magalhães
“- Por decisão do autor, este artigo encontra-se escrito em Português, e não ao abrigo do «novo acordo ortográfico».”
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