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Alopecia Areata é uma doença inflamatória que provoca a queda do cabelo por diversos fatores, como a genética e o sistema autoimune. Inicialmente a perda de cabelo é pouco notória, até resultar em falhas circulares sem pêlos ou cabelos. A extensão pode variar desde poucas regiões afectadas, até percas maiores de cabelo, havendo mesmo casos raros de alopecia areata total, no qual o paciente perde o cabelo todo; ou universal, onde caem os pêlos todos do corpo. Uma doença crónica não contagiosa, com um desenvolvimento do quadro médico imprevisível, onde cada caso é único e cujos problemas físicos são menos graves que o quadro psicológico do paciente.
Embora seja raro, esta doença pode também atingir as crianças e foi o caso de uma menina, cujo diagnóstico se revelou após ter emigrado com a sua mãe para a Suíça.
Foi há sete anos que Sandra, decidiu juntar-se com a sua filha ao seu marido, emigrado em Basileia, Suíça, desde 2011. O objectivo seria dar um melhor futuro para a filha e, “quando tudo parecia correr bem em termos de adaptação a um novo país”, foi diagnositcado à filha de Sandra, Alopecia Areata.
Foi durante uma consulta ao dentista que ao amarrar o cabelo à filha notou uma falha e assustada dirigiu-se ao médico de família. Começava aí todo um processo de pomadas na tentativa de resolver o problema, mas nenhum exame. “O médico fez perguntas como se a minha filha tivesse a brincar e cortasse o cabelo, mas a minha filha era incapaz, ela adorava o cabelo comprido”, relembra Sandra.
Com cada vez mais peladas e sem uma atitude adequada por parte do médico de família, decidiu consultar o pediatra da filha em Portugal e foi aí que o choque inicial começou. Primeiros tratamentos de cortisona e pomadas foram o que trouxeram na bagagem de regresso à Suíça, sem no entanto um diagnóstico formal. O tratamento surtiu efeito, mas como a consulta do dermatologista tardava, o efeito benéfico desapareceu e “entrámos em pânico”, revela Sandra.
Através de uma colega, conseguiram finalmente uma consulta em dermatologia, onde foram realizadas as primeiras análises e se ficou a saber o diagnóstico da pequena. “Na altura foi nos dito tanta coisa, enfim um turbilhão em nossas cabeças: o sentimento de culpa por pensarmos que tinha sido a vinda para a Suíça, mas hoje sabemos que a doença é auto imune e não existe um porquê”, conta a emigrante.
Nos primeiros dois anos, o cabelo caía em peladas que iam sendo cobertas por outro cabelo, disfarçando. Mas uma infeção na garganta da criança, “fez com que o cabelo começasse a cair sem parar, foram dias terríveis”, desabafa a mãe desta menina. O antibiótico fez com que o sistma imunitário encarasse o cabelo como uma ameaça e o atacasse. “Caiu todo, bem como as sobrancelhas, foi horrível, especialmente o dia em que a minha filha viu a parte de trás da cabeça sem cabelo e, a chorar, disse que não queria ir à escola”, recorda entre lágrimas Sandra. Foi a professora que convenceu a menina a sair de casa com um chapéu e, na escola, em frente aos seus colegas, foi abordado o assunto. “Ainda hoje a minha filha não gosta de falar na doença, mas os amigos e a professora, foram excelentes”.
Esta família conta anos em que se têm visto entre tratamentos inovadores sem sucesso, psicólogos, outras opiniões a que recorrem em Portugal e tratamentos de medicina alternativa. Esta última solução tem sido suportada pelos próprios pais, uma vez que o seguro de saúde não cobre essa alternativa. “Tem sido tudo às nossas custas, mas também depois de quase dois anos sem nenhum cabelo, seja dessas sessões ou não, a verdade é que ele está a nascer sem qualquer tipo de medicação, que em certos momentos funcionava, mas tinha o problema de prejudicar outros órgãos saudáveis, já para não falar nos quilos que acumulava sempre que fazia tratamentos de cortisona”.
Sandra fala da dificuldade de estar na Suíça, com poucos amigos que a auxiliem, com o sentimento de revolta, de meses e anos muito dolorosos, onde se sente a falta “da família, do país e do colinho”, mas que esse mesmo tempo traz a aceitação e a força necessárias.
A diferença que Sandra salienta entre os dois países, tem a ver com a diferença de mentalidades: “Na Suíça ninguém olha de lado, ou pelo menos disfarçam melhor que em Portugal, nas férias o pior são os olhares não disfarçados... E a minha filha para se proteger começou a usar chapéus, porque perucas nunca as quis”.
A viver um momento de recuperação, mesmo que possa porventura ser temporário, como é frequente nestes casos, Sandra quis apenas, com o relato da sua história, passar uma mensagem para outras mães que se encontrem a lutar contra doenças dos filhos: “Mães, sejam fortes, lutem, acreditem e vivam momentos que vos façam esquecer a dor. Diante dos vossos filhos sorriam, façam com que eles acreditem que dias melhores virão! À sociedade em geral: sejam amigos nas horas boas e más, uma pequena mensagem, um abraço silencioso, saibam ouvir sem dar opiniões apenas estar ali e compreender”.
No momento em que este texto foi redigido, o Luso.eu ficou a saber que a menina que começara a ter mais cabelo, voltou a entrar numa fase menos boa e que a alegria pouco tempo durou. Ao fim de quatro meses o cabelo tornou a cair, mas Sandra e a sua família não desanimam, continuarão a “pensar positivo e a fazer tudo o que podem pela filha nesta longa batalha”.