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Como co-responsável da revista Lusitano de Zurique, mantida durante quase trinta anos ininterruptamente e distribuída mensalmente aos leitores, fico triste com a interrupção temporária da edição em papel, após 17 anos editada por mim.
Desde há uns tempos, principalmente durante a era Covid, senti que algo se passava no seio da revista. Colaboradores que deixaram de intervir, comunicação superior sofrível e deficiente, eram os sinais de que algo se estava a passar.
Antes da pandemia, após a saída da Directora Sandra, a revista, apesar de ter um leque de colaboradores generosos e de grande qualidade, começou a estagnar. Soube há pouco, existirem problemas de liquidez, alegadamente à falta de patrocinadores, que acabaram por ditar o fim da revista tal como a conhecíamos. A edição de papel acabou, mas mas o título na sua versão digital continua activo.
Para mim, considero o fim de um ciclo que comecei há 17 anos, quando tive o grato prazer de receber em minha casa, a visita de dois membros da direcção do CLZ, o saudoso amigo e conterrâneo António Matos, acompanhado pelo também amigo Pedro Nogueira. Eles vieram aconselhar-se e pedir ajuda para remodelar a revista, que na altura se chamava “Boletim”. Sem hesitar, sem qualquer negociação, ou entrave, disse-lhes que os ajudaria no que pudesse.
Durante estes anos, vivi a comunidade do CLZ como se fosse minha, sendo o meu foco, apenas ajudar a manter a publicação.
Conheço a comunidade da Suíça desde 1980, onde vivi durante vinte anos e sei o que “a casa gasta”, por isso, nem sempre era publicado o que eu gostaria, mas sim, aquilo que sabia que aguçaria o apetite dos nossos compatriotas para a leitura. A informação cultural precisava de ser dada em pequenas doses, como se de um medicamento se tratasse. A informação teria de ser “travestida” com algo que lhes aguçasse a curiosidade de ler. E funcionava.
Todos estes anos passaram e nota-se que o emigrante português mudou. Antes eram praticamente analfabetos sendo a sua leitura preferida os jornais desportivos e elas a revista Maria, mas hoje é diferente, pois vêm-se já muitas pessoas formadas e cultas. Por esse motivo tentamos adaptar-nos, evoluir e acompanhar os sinais dos tempos.
Quero agradecer a todos os colaboradores, aos quais, durante todos estes anos lhe “moí a paciência”, a pedinchar mais um artigo, pois sem eles, a revista, ou, o pasquinzinho, como carinhosamente eu a apelidava, podia existir, mas não seria a mesma coisa sem eles. Sem eles, não teríamos conseguido chegar até aqui. Agradeço também a todos os leitores que nos deram o privilégio de sermos a sua fonte de informação e cultura.
Gostaria de expressar também um agradecimento especial à empresa Diário do Minho, com a qual tenho trabalhado há 25 anos. Agradeço a dedicação e profissionalismo da empresa desde 1998, que sempre me tratou com carinho, simpatia, respeito e eficiência, tanto na impressão do Gazeta no início e mais tarde com o Lusitano há 17 anos. Agradeço também ao director-geral Luís Carlos, ao Pedro, à Sónia, ao Bruno, à Fernanda, à Lúcia, ao Luís Filipe, ao Carlos e a todos que têm mantido contacto comigo ao longo deste quarto de sáculo. Muito obrigado por tudo e espero que seja apenas um “até breve”.
Como referi no início, é com tristeza que vejo o fim da edição de papel da revista, mas acredito mesmo ser uma suspensão temporária, porque creio que a direcção não terá interesse em ficar na história do CLZ, como aquela que acabou com uma revista, que saiu mês-após-mês, ininterruptamente durante três décadas.
Acredito que a direcção e os associados irão arregaçar as mangas e conseguir rapidamente “dar a volta por cima” e voltar a colocar nas mãos dos leitores a sua revista em papel.
É certo que nada iguala o prazer de um livro ou uma revista em papel; mobilidade, textura e cheiro do papel e da tinta, mas mesmo sem esses atributos, a edição digital permite-nos continuar a levar informação e a cultura à nossa comunidade.
É nas horas difíceis que devemos dar as mãos, por isso, espero que possamos contar com o apoio de todos, para ajudar a renascer, crescer e evoluir o vosso órgão de comunicação.
E uma palavra final para a direcção: mesmo com as dificuldades agora conhecidas, não desistam. Não é apenas o português que chega a Zurique que precisa de vocês, mas sim, Portugal. É Portugal que precisa dos melhores embaixadores, que são vocês.
(*) É um interregno ou o fim?