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A recuperação do Caminho de Ferro da Linha do Douro e a classificação de Património Mundial da Humanidade, como prioridades para o desenvolvimento da região e atracção de mais turismo.
Em 1873 foi assinado o decreto que permitia a construção do mais desafiante, mas também por isso, do mais belo percurso de caminho-de-ferro português: a Linha do Douro.
Um ano antes, tinham-se iniciado os estudos técnicos para assegurar a viabilidade do projecto e, pouco mais de dois anos depois, já circulavam comboios entre Ermesinde e Penafiel.
A via continuou a ser rasgada até ao final da década, chegando à Régua e, pouco depois, ao Pinhão, em 1880. Só mais tarde, em 1887, tocou na fronteira com Espanha, com o troço final até à Barca d'Alva.
Fazendo esta retrospectiva, parece inverosímil como há cerca de 150 anos foi possível avançar com esta obras nas encostas durienses, com meios e conhecimento técnico certamente mais rudimentares que os actuais.
Mas o que verdadeiramente impressiona é a rapidez com que tudo foi feito, distando apenas sete anos, desde a tomada de decisão política, até à conclusão dos troços mais importantes desta linha férrea.
Hoje, com uma abissal diferença de recursos, informação, experiência e equipamentos, iniciar e terminar uma obra pública desta dimensão em menos de 10 ou 15 anos é, para todos os efeitos, impensável. E o que temos como quase garantido, é o seu irremediável bloqueio numa malha burocrática cada vez mais apertada, o que nos permite duvidar se efectivamente evoluímos como sociedade ou, pelo contrário, regredimos ao longo deste século e meio de distância.
O projecto de modernização da Linha do Douro é um exemplo acabado desta paralisia administrativa, no que à ferrovia diz respeito. Uma obra que previa, em 2016, a electrificação do troço entre Marco de Canaveses e Peso da Régua até 2020, está apenas agora, sete anos volvidos, em fase de abertura do concurso público internacional, atirando a conclusão para a segunda metade desta década. O que, a avaliar pelo histórico recente, pode ser uma previsão manifestamente optimista.
No mesmo ponto, está a antiga Linha do Tua e o seu plano de revitalização, que prossegue encostado no fundo da gaveta das autoridades e sem uma data previsível para ser desenvolvido. Tudo isto penaliza fortemente uma região com particularidades únicas no nosso país, com um potencial de diferenciação turística internacional cada vez mais elevado e que, mesmo em termos produtivos, representa um sector de actividade muito relevante como é o Vinho do Porto, entre outros produtos regionais com perfil exportador.
O que vai contrastando com esta descaracterização e perda de identidade é a determinação e a capacidade de iniciativa das gentes do Douro. Uma comunidade que sente a terra como ninguém e que luta abnegadamente pelos seus interesses, entre os quais está a linha férrea - muito justamente vista pelos seus conterrâneos como das mais bonitas do mundo.
Uma das causas recentes - e que teve já repercussão nas opções políticas tomadas pelo Estado Central - é a reabertura do troço entre o Pocinho e Barca d'Alva, que será objecto de um projecto de execução. Mas, a esta, juntou-se uma outra reivindicação oportuna, lançada no passado mês de Março pela Associação Vale d'Ouro:
Classificar a Linha do Douro como Património Mundial da Humanidade, à semelhança do título atribuído em 2001 à paisagem vinhateira.
Ainda de acordo com a revista «O Tripeiro», seria um marco fundamental para esta infra-estrutura histórica, que em nada fica a dever em termos paisagísticos e arquitectónicos às duas únicas linhas de comboio que detêm o mesmo estatuto em todo o mundo. Seria, também, a derradeira garantia de que a Linha do Douro não teria o mesmo infeliz destino que outros percursos ferroviários da mesma região tiveram no passado recente.
Mas o que seria verdadeiramente decisivo para a afirmação deste património único no país era recuperar a celeridade dos decisores políticos do século XIX.
Talvez não seja pedir demais.
É importante lembrar que o Caminho de Ferro da Linha do Douro é um percurso belíssimo que segue o curso do rio Douro, cruzando a fronteira com Espanha até chegar à Barca d'Alva. Este trajecto tem um enorme potencial turístico, devido às paisagens deslumbrantes que oferece aos seus passageiros.
Ao longo do percurso da Linha do Douro é possível apreciar as origens do famoso Vinho do Porto, que é produzido nas quintas ao longo da paisagem vinhateira da região. Além disso, a linha ferroviária passa por várias cidades e vilas históricas, com muitas quintas e monumentos que foram declarados Património Mundial pela UNESCO.
A viagem na Linha do Douro é uma experiência única, que permite apreciar a beleza natural da região do Douro, com as suas encostas trabalhadas pela mão do homem durante décadas cobertas de vinhas, o rio, as aldeias pitorescas e a imponente serra do Marão como pano de fundo. É uma oportunidade inesquecível de entrar em contacto com a cultura, história e tradições de Portugal e uma das melhores maneiras de explorar toda a região do Douro.
Felizmente, o Comboio Histórico do Douro voltou aos carris e circula anualmente entre Junho e Outubro para dar as suas voltas ao Douro. A locomotiva a vapor e as suas carruagens históricas estão de regresso à linha férrea que acompanha o Douro da Régua ao Tua, por altura dos meses mais quentes. O Comboio Histórico regressa ao Douro para mostrar a linda paisagem já classificada pela UNESCO mas também para reclamar para si mesmo a classificação da Linha do Douro como Património Mundial da Humanidade.
Por último, o Governo quer levar o comboio até Salamanca pela Linha do Douro, o que pode ser um bom sinal de expansão dos caminhos-de-ferro ao longo do rio Douro.