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Estar Seguro e estar a Salvo é uma ambição individual que Nacionalmente ou em Aliança se organiza. Estar Seguro é estar defendido a todo o tempo. Estar a Salvo é viver sem estar em ameaça. Os Anglo-Saxónicos têm dois vocábulos: secure and safe. Secure deriva do latim se+cure, viver sem cuidados, viver defendido. O segundo vem de Salvus que dá, na declinação, no vocativo, a saudação dos Romanos: Salvé. Sinaliza que de mim não vem perigo, comigo não levo ameaça.
Estes dois conceitos materializam-se na vida de hoje, no estudo e prática de Defesa nas Forças Armadas para estar defendido: seguro. No estudo e na prática das Forças de Segurança para estar a Salvo. Foi por razão similar que apareceu o estudo e a prática da Medicina para garantir que se está seguro e o estudo e a prática da Enfermagem para cuidar, evitar e nos pôr a salvo de ameaças.
Há muito que se deixou de ensinar latim, o complexo não se estuda nem treina, fica-se pelo simples, mesmo simplificado, que é entregue a Pessoas que saíram à Ordem serem inteligentes e ainda pensadores e especialistas de múltiplos e variados assuntos. Como nunca fizeram, não sabem. Mas ouviram dizer. E, confundem o ter ouvido dizer com saber. A inconsciência é tanta que um Jovem mestrado pós Bolonha (licenciado ante Bolonha) de trinta anos que nunca fez nada no Mundo Académico, sem tempo para ter experiência alguma no trabalho de Engenharia, foi eleito Presidente do Conselho Geral da Universidade da Beira Interior. Tem um atributo: é Deputado. Fui lá Professor, fui supervisor do primeiro Doutoramento em 1983, e sou Doutor Honoris Causa pela Universidade da Beira Interior. Trabalhei desde 1978 para os que fundaram esta Universidade. Não fora para não deshonrar quem foi o Professor Catedrático, Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, Grã-Cruz do Mérito do Descobridor do Brasil, Officier dans l’ Ordre des Palmes Académiques de França, que no Acto foi o meu Padrinho e o Magnifico Reitor que me impôs as insígnias de Doutor Honoris Causa em 1995 enviava, por ter sido insultado, as insígnias à procedência. Claro que ao actual Presidente do Conselho Geral devo, por razão de disciplina, respeito Administrativo. Respeito não tenho. Aconteceu numa Universidade, mas não é uma ocorrência isolada. Nem se dão conta que, um pouco por todo o lado, o respeito está a ser substituido por respeito exclusivamente administrativo.
Arranjemos, como é habitual, os acidentes e as amarguras no passado, as preocupações e os desejos no presente e vamos pôr as esperanças e a vontade no receptáculo do futuro. Façamos caminho:
Do passado, temos como fundador, da nossa Cultura, Homero (929 A.C.-898 A.C.) que nos ensina que a Guerra existirá sempre porque não há guerras por razões comerciais (os comerciantes sempre se entenderam e as guerras prejudicam muito o negócio onde estão instalados), mas guerras de anos e anos são só por verdades. Gregos e Troianos mataram-se entre 1194 A.C. e 1184 A.C. porque o Rei dos Troianos, Priamos, tinha dois filhos Heitor e Paris. Paris raptou Helena a mulher de Menelau que era irmão de Hagamenon. Custa engolir que Gregos e Troianos se flagelaram, morreram, mataram-se durante uma década porque um Troiano roubou a mulher a um Grego. Mas a Guerra aconteceu e Homero avisa-nos que isso sempre acontecerá logo que a mente Humana crie duas Verdades. Por razões comerciais andamos no máximo a esmurrar-nos e por acidente morre Gente, por pouco tempo. Por Verdade fazemos Guerra, e brutal, durante décadas.
E é outra vez porque deixámos de estudar os clássicos, os fundamentos dos conceitos e da nossa Cultura, que fizémos tamanha confusão entre Forças Armadas que são para a Guerra e para patrulhar em terra, no mar, no ar, no espaço cibernético e no espaço exterior Forças Armadas Aliadas e, especialmente as hostis e as Forças de Segurança que são para os tais conflitos de interesses que são ameaças passageiras. Enfim roubos, rixas mais ou menos graves e zangas. Aqui a confusão entre o conceito e a prática de Defesa e o de Segurança é tamanha que não adquirimos nem mantemos em prontidão os Meios e os Navios para a Armada, mas compramos para a GNR. É a mesma coisa que comprar uma Sala de Operações para ser dirigida por licenciados, Mestres, Doutorados e Professoes em Enfermagem que fariam cirurgias e camas, sensores e monitores para a Unidade de Cuidados Intensivos para licenciados, Mestres e Doutores e Professores em Medicina fazerem turnos de monitoração e acompanhameno permanente de doentes.
Aliás tenho uma experiência pessoal que ilustra esta confusão. O regimento de Cavaria da GNR foi fazer uma demonstração de capacidade de destreza no Parque das Nações que deixou a todos encantados e confiantes nas capacidades da GNR para a Segurança. Sabendo o Senhor Coronel que comandava que eu tinha e andaria ao largo com uma Canoa inscrita na Marinha do Tejo, Pólo vivo do Museu de Marinha disse-me que então também viriam umas lanchas da GNR. Lá fui dizendo que, a demonstração que foi aliás fantástica, exímia da Cavalaria, ocorreria no pico da maré baixa. Sem qualquer ponta de incerteza, o nosso Coronel, olha-me e diz: o que é que isso tem a ver com marés, as lanchas vêm na mesma. Em abono da verdade se diga que o Senhor Coronel, logo que dada a explicação sobre marés, disfarçou o melhor que pode o embaraço, e percebeu que as tais lanchas ficariam enterradas no lodo até ao pescoço e que teriam que esperar atoladas seis horas para que chegasse a maré cheia.
Mas não é só Homero que não estudamos, também não lemos a “Histórias” de Herodoto (484 A.C.– 445 A.C.). Se o fizéssemos tínhamos aprendido porque é que o Governo do Estado vai minando a Nação e destruindo as suas Forças Armadas, porque deixam de ter empenho na Defesa, porque descuram o seu financiamento, o seu treino, a salvaguarda dos seu feridos e o prestar de Honra aos seus mortos. Herodoto é tão esclarecedor na troca de mensagens entre Dario, Rei dos Persas e Idanthyrsus Rei da Citia. No ano 513 A.C., Dario, Rei da Pérsia, invadia a Citia para passar à Grécia.
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O Rei da Citia mantinha o seu Exército a um dia de marcha das Forças Persas, mas não as confrontava. E o Rei Persa quis conferenciar com o Rei dos Citios. A troca de mensagens entre ambos foi registada nas “Histórias” por Herodoto :
“Tu Rei da Citia, estranho Homem, que foges à minha frente quando há duas coisas que poderias fazer facilmente. Se te consideras apto para resistir às minhas Armas, cessa esse teu deambular e vem: demo-nos batalha. Ou, se estás consciente da minha força que é maior que a tua mesmo assim devias cessar de correr à minha frente. Basta que me tragas algum pedaço de Terra e Água e vamos conferenciar”.
A isto, Idanthyrsus, rei da Citia respondeu:
“Isto é a minha maneira de proceder, Persa. Nunca tive medo de Homem algum nem de nenhum fugi. Não o fiz no passado, nem hoje fujo de ti. Nada há de novo ou estranho no que eu faço. Apenas, continuo com o meu modo de vida habitual em anos de Paz. Agora posso dizer-te porque não te dou batalha. Nós os Citios não temos riqueza, não temos indústria, nem terras cultivadas, que pudessem induzir-me, por medo de as perder ou de que as estragassem, para vos fazer frente lutando numa batalha. Nada temos para perder, não temos nada para defender”.
“No entanto, se queres mesmo entrar de imediato em confronto armado podes fazê-lo. Tu sabes onde estão os túmulos dos nossos Pais, procura-os e tenta tocar neles. Se o fizeres vamos ferozmente combater-te”. “Até fazeres isso, fica certo que nunca te daremos batalha, a menos que nos apeteça. Esta é a minha resposta ao teu desafio de entrar em luta”. “Fica a saber que por Senhor só reconheço a Zeus, meu antepassado, a Hestia, a Rainha da Citia. O tributo que me pedes de um pouco de Terra e Água não to mandarei; mas receberás muito em breve prenda mais adequada. Por último, ao proclamares-te meu Senhor só te digo: “Vai-te e chora””.
A três anos de celebrar cinquenta do 25 de Abril estamos com emigração de engenheiros, médicos, enfermeiros, cientistas, profissionais ao nível dos números dos anos sessenta do século XX. Sem agricultura, sem indústria, sem pesca, sem mineração, tendo deixado de saber trabalhar materiais, latão e cobre em Braço de Prata e Moscavide, materiais energéticos em Barcarena, ferro e aço no Alfeite e na Lisnave, tendo abandonado a transformação do alumínio e materiais compósitos na OGMA, o silício na Standard Eléctrica do muito saudoso Prof. Carvalho Fernandes, tendo deixado de saber trabalhar fibras naturais sintéticas em Santa Clara resta-nos o resultado das sementes do Marquês, os moldes de plástico que vieram do vidro, os têxteis e as confecções mas para estes não produzimos fibras. Importamos oitenta por cento do que comemos. Devemos cento e trinta e cinco por cento do PIB. Governaram o País até que nós ficámos assim.
Deixámos de ter Prontidão porque é sempre assim e sabemo-lo desde Idanthyrsus quando Nações conduzidas pelos Governos deixam de ter o que seja para defender, quebra-se o ânimo para terem orçamento, carreiras, doutrina, organização Hierárquica apropriadas.
Os dirigentes do Ministério da Defesa têm razão ao trabalhar para destruir as Forças Armadas e acrescenta mais razão quando afirmam: “as Forças Armadas não existem por si próprias, e os ramos não existem para si próprios. Estão ao serviço da defesa eficaz do interesse nacional num mundo cada vez mais conflituoso e em mudança acelerada”. Como se sabe pelo menos há dois mil e quinhentos anos desde que o Rei dos Cítias escreve ao Rei dos Persas, “nada temos para perder, não temos nada para defender”. Se em Portugal Governos levaram a que não haja riqueza, se nos levaram a uma dívida de cento e trinta e cinco por cento do PIB, que fizeram com que se importe oitenta por cento do que se come, se a terra está abandonada, se não há industria, se não se vai ao Mar pescar, nada há para defender. E os dirigentes do Ministério da Defesa fazem debandar, arranjar meios de descaracterizar, de tirar, de roubar o carácter, de desmobilizar as Forças Armadas porque hoje em Portugal “nada temos para perder, não temos nada para defender” como o Rei da Cítia teria atestado e teria, em consequência, despromovido, diminuído, anulado, os atributos e as capacidades dos dirigentes do Ministério da Defesa e decretado que o que lá se fazia no Ministério da Defesa ficava entregue a despacho com um Director Geral na dependência directa do Senhor Primeiro Ministro, a bem da eficácia da defesa do interesse Nacional.
Mas sabemos que desgosto é para arrumar no passado. O passado; tudo está bem estruturado em “As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos” escrito e lido por Antero de Quental nas Conferências do casino editadas a 27 maio 1871.
Antero de Quental não tinha processo de saber que parte do calor que vai de algo quente para outra coisa que esteja fria é rejeitado. Na altura que foi descoberto foi uma enorme surpresa. A fonte quente
nunca consegue passar todo o calor que poderia, que queria, para a fonte fria. Há sempre uma parte que é rejeitada. Foi Boltzmann que deu a explicação, descobrindo que vinte por cento das moléculas do ar do local onde vai ler o discurso de Antero de Quental contêm oitenta por cento da energia total dessa atmosfera. Não são sempre os mesmos átomos a ter os oitenta por cento da energia, mas são sempre vinte por cento. Quer dizer que quatro por cento detêm sessenta e quatro por cento. O que leva a que menos de um por cento dos átomos contenham cinquenta por cento do todo. É o resultado do Segundo Princípio da Termodinâmica. Paretto mediu a posse da propriedade agrícola algures em Itália e um por cento tinha cinquenta por cento da terra. Zipf, que estudava textos, verificou que um por cento das palavras de um explicam cinquenta por cento do texto. Hoje sabe-se que um por cento dos compositores explicam cinquenta por cento da música que ouvimos; um por cento dos jornalistas escrevem cinquenta por cento das notícias que lemos, um por cento dos escritores fazem cinquenta por cento dos livros que compramos, um por cento dos pintores produzem cinquenta por cento dos quadros que vemos, um por cento dos sites na web representam cinquenta por cento das buscas, um por cento dos Jornais são os que são lidos por cinquenta por cento dos leitores, um por cento dos Deputados faz cinquenta por cento das intervenções, um por cento de seres humanos detêm cinquenta por cento da riqueza do Mundo; um por cento das Nações tem o dominío sobre cinquenta por cento dos outros Povos, um por cento de o que seja detem cinquenta por cento do que for que haja. Não são sempre os mesmos a fazer parte do um por cento mas, são sempre um por cento. É uma fonte permanente de conflito esta distribuição de 20/80 ou para ser mais impressionante 1/50, no seio dos Povos.
A guerra pela Nova Ordem de que se vêem agora os sinais, com a agitação na procura de Aliados, está a acontecer desde 2003 para um conflito de hegemonia. O conflito armado e profundo de sofrimento é o que antecede e sucede na substituição dos que estão nos 20/80 ou se quiserem no 1/50.
O actual Bispo de Setúbal, Senhor Dom José Ornelas de Carvalho, no final de um Seminário Internacional organizado pelo Instituto Superior de Teologia de Évora em Janeiro de 2020, olhou-me, à despedida, e ouvi de forma que nunca vou esquecer: “de tudo o que disse na sua Conferência o problema que temos que resolver é o 20/80”.
Antero de Quental sabia, mas não se apercebia que não são os Povos que decaem, são os vinte por cento dos oitenta ou o um por cento dos cinquenta que se corrompem, definham e corroem. São esses que geram os erros políticos e económicos e que planearam, executaram e fizeram o Design Social para a decadência. Não foram os Povos. É desses (20/80, 1/50) e não dos Povos que vem “este adormecimento sonambulesco”. São esses e não os Povos que querem “ser uma aristocracia de pobres ociosos, e não ser uma democracia próspera de trabalhadores”.
É por design desses, que desde os anos 90 do século XX, fomos forçados a assistir à desindustrialização, ao abandono da agricultura, da pesca e da mineração, ao fecho dos Laboratórios de Ciência, Tecnologia e Engenharia do Estado.
Mas Antero de Quental não nos deixou sem método para alterar o rumo que os 20/80 traçam para a viagem que querem que façamos. E, agora que dizem e que se nos fala em reindustrialização: “Finalmente oponhamos a iniciativa do trabalho livre, a indústria do Povo”. E sobretudo, não consintamos que “o homem do Povo, não podendo já ser trabalhador, seja feito lacaio: a libré é o selo da decadência” . Começa a desenhar-se a resposta de Idintysaurus Rei da Citia ao Persa: “Vão-se embora e chorem”. Por isso, hoje, no Povo, na ocupação do presente para arrumar o futuro ponho lá, a Voz do Rei da Citia: “Nós os Citios não temos riqueza, não temos indústria, nem terras cultivadas”, “nada temos a perder, não temos nada para defender”.
O primeiro sinal, a três anos das celebrações dos cinquenta anos do 25 de Abril, é que apesar do apelo persistente, insistente, permanente das Autoridades e dos Media cerca de dois terços já dizem: nada tenho, já não me dá para defender o nada que tenho e já nem ânimo têm para irem a uma urna, para se fazerem ouvir, depositando o voto.
Mas para o Futuro conta-se sempre com o Povo da Nação de Portugal para reerguer a Força que lemos, outra vez na mensagem de Idintysaurus Rei da Citia: “tu Dario se tocares nos terrenos sagrados e nos símbolos da Pátria, se ousares tocar neles vamos combater feroz e denodadamente”. Nesse dia o “Homem do Povo que não podendo já ser trabalhador, feito lacaio com a libré como selo da decadência” vai levantar-se da letargia e dizer como o Rei dos Citios, então pronto para batalha, disse a Dario, Rei dos Persas, que julgava ser Senhor de Império: “Vai-te e chora”.
F. Carvalho Rodrigues