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Em 2017 pedalei de Lisboa ao Vaticano pelo desperdício alimentar e quando regressei a Lisboa, uns amigos ofereceram-me um jantar para comemorar esse feito e quando cheguei a casa, fiquei chocado com as notícias das mortes nos incêndios de Pedrogão. Os dias seguintes revelaram a verdadeira dimensão da tragédia e isso levou-me de imediato a escolher a viagem do ano seguinte. Iria pedalar na companhia de amigos pelos municípios afectados pela vaga de incêndios.
E no dia 10 de Junho de 2018, lá estava eu, mais 9 amigos, na Marinha Grande a pedalar para plantar. No total foram 750 km pedalados, mas com o propósito de ir dar um abraço solidário a todo o país e não deixar esquecer aquela tragédia. Começamos no pinhal de Leiria e terminamos em Fatima, no dia em que fazia 1 ano da tragédia, com uma missa por alma de todos os que perderam a vida de forma dramática e sem que até hoje tenham sido atribuídas culpas.
Nesses dias, para além do grupo inicial de 10 ciclistas, tivemos quase todos os dias a companhia de muitos outros que nos acompanharam e se mostraram solidários connosco e com esta causa. Mostraram-nos os lugares das tragédias, apontaram locais onde gente esteve aflita e ver o local onde morreram pessoas enquanto nos faziam uma descrição, tocou muito fundo. Mas um dos momentos que mais recordo, foi a chegada a Santa Comba Dão, onde uma senhora estava à beira da estrada a bater palmas à nossa passagem e a chorar. Choro esse que foi contagioso porque quase todos nós começámos a chorar também com a emoção do momento.
Fizemos muitos minutos de silêncio por todos os que morreram, mas senti o silêncio da morte precisamente na estrada onde morreram todos aqueles que foram apanhados pelo virar do fogo. Arrepiou e penso que até ouvir a voz do primeiro, passou mais de meia hora.
Não gostaria de descrever nenhum momento em particular, porque iria correr o risco de me esquecer de alguém, mas tocou-nos muito a desolação do pinhal de Leiria, a estrada da morte, um grupo de dezenas de crianças de Pedrogão que pedalaram connosco durante uns bons quilómetros, a chegada a Pampilhosa em que tudo ardeu à sua volta, as casas ardidas, as vidas destruídas, mas acima de tudo o silêncio das pessoas que passado um ano não queriam falar do assunto enquanto tentavam reconstruir as suas vidas a partir do zero.
Foram dias e momentos muito difíceis que nunca se devem esquecer, mas que infelizmente os responsáveis políticos tudo fazem para esquecer de modo a não atribuir culpas a ninguém. E não tenho dúvidas que tudo se irá repetir um dia. Espero estar enganado.
E assim que a época de plantar começou, arregaçamos as mangas e fomos plantar uma árvore por cada km percorrido.
E nas encostas da Serra do Concelho de Arganil, as nossas 800 árvores crescem a olhos vistos e espero que tenham a sorte de viver e crescer durante muitos anos e que o flagelos dos incêndios não voltem tão depressa.