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Quando pedalei até ao Vaticano, uma amiga perguntou como escolhia as minhas causas e perante tal questão, pedi para dizer o que pretendia.
Quando me disse que a sua filha tinha Esclerose Múltipla, aceitei de imediato o desafio e marquei para Julho de 2019 pedalar por esta nobre e silenciosa doença. Contactada a SPEM, Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, senti que existia a necessidade de contactar as instituições europeias e propus-me pedalar entre o Parlamento Europeu em Bruxelas e Lisboa, sede da SPEM. Seriam 2.400 km ao longo de 19 dias e no percurso iria contactar as associações locais nas principais cidades em França e Espanha.
E no dia 9 de Julho embarquei para Bruxelas com a bicicleta bem embalada e no aeroporto, bicicleta refeita e pedalei até ao hotel. Nessa mesma noite tive uma recepção fantástica por parte dos nossos compatriotas jantando entre irmãos. E a 10 de Julho, lá estava eu em frente ao Parlamento Europeu onde conversei com os nossos deputados de quase todos os partidos políticos representantes de Portugal e onde a Plataforma Europeia da Esclerose pôde agendar reuniões com os grupos parlamentares e que eram um dos seus objectivos.
Primeira pedalada, depois a segunda, a terceira e lá estava eu mais perto do destino. Foram muitos dias, mas cheios de emoção. Atravessei Paris, Chartres, Bordéus, Victoria, Burgos, Valladolid, Salamanca, Coimbra, Leiria e Santarém em encontros com doentes que curiosamente me agradeciam o meu esforço em pedalar tantos km, mas certamente que o esforço era maior da parte deles em fazer 500 metros que eu para fazer 2.400 km. O mérito era deles e eram eles que me davam força para atingir o meu objectivo.
Recordo com muito carinho no final do 2º dia em que era suposto ter uma rapariga de 24 anos, luso descendente que me iria visitar e que nesse dia acabou por ser internada, mas os pais, fizeram 100 km para cada lado só para ir tirar uma fotografia comigo. Claro que quando cheguei ao quarto do hotel, chorei meia hora. Um dia irei visitá-la, se possível de bicicleta.
Mas muitas outras peripécia aconteceram e destaco a chegada a Biarritz, onde pedalando eu numa ciclovia, cai um homem, literalmente em cima de mim, porque estava a trabalhar num 1º andar e resolveu saltar em vez de ir dar a volta, mas para meu azar e sorte dele, eu amorteci-lhe a queda e andei 2 dias cheio de dores num joelho. Mas a vantagem de não ter carro de apoio é que o caminho é sempre em frente e não há lugar para desculpas.
Mas Espanha entrou no meu coração com o carinho que recebi em Burgos, Valladolid e Salamanca. Conheci verdadeiros seres humanos, pessoas extraordinárias e por quem me apaixonei e que penso nelas todos os dias. A partir desses dias, eu nunca mais fui o mesmo. Eu mudei mesmo a minha maneira de pensar perante a vida e só tenho a agradecer o bem que me fizeram. Era suposto esta viagem ser em prol da Esclerose Múltipla, mas o maior beneficiado fui mesmo eu.
E Portugal, onde já pedalei acompanhado pelos amigos habituais, mostrou que somos mesmo solidários e em Coimbra, Leiria ou Santarém o acolhimento foi fantástico e uma preparação para a recepção magnifica que tive em Lisboa e onde pude conhecer a Mafalda, uma Princesa linda que foi o pontapé de saída para eu pedalar por esta causa e a quem eu agradeço por esta viagem que me fez tão bem.
Obrigado Mafalda e a todas as pessoas que eu encontrei durante o caminho e que me ajudaram a ser uma melhor pessoa.