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Há cerca de um ano o tribunal de Famalicão entendeu que duas crianças que não frequentaram a disciplina obrigatória de Cidadania e Desenvolvimento não podiam passar de ano.
Quem tomou a decisão de proibir estes dois irmãos de irem a estas aulas foi o pai das crianças.
Um senhor que esgrimiu uma série de argumentos contra esta disciplina, sobretudo o facto de caber aos pais a tarefa de educar os filhos nesta área e não a escola.
Tomou, por isso, uma decisão radical, a de impedir os filhos de assistirem a estas aulas.
O problema, para mim, é que estes alunos não tiveram culpa da decisão do pai e mesmo não cumprindo aquilo que foi obrigatório para os outros alunos, o tribunal deveria ter tido isso em conta. Trata-se de uma disciplina que não tem consequências de maior para os anos seguintes, ao contrário do que acontece com a disciplina de matemática, por exemplo.
Não cumprindo a lei, há uma coisa que está acima da lei, o bom senso.
E, o bom senso devia ter deixado passar estes alunos, logo na primeira instância, que não têm culpa de ter um pai, com razão ou não em relação ao que pensa desta disciplina (não discuto), que nunca teve bom senso.
Felizmente, no recurso, aos alunos foi permitido transitarem de ano. Aqui o bom senso imperou.
O pai foi o primeiro tonto desta história porque podia fundar um movimento público contra a disciplina e colocou todo o stress da situação nos filhos, a meu ver.
Existe bullying nas escolas sobretudo para quem ousa ser diferente e até os alunos com muito boas notas sofrem discriminação.
Agora o Ministério Público quer os jovens à guarda da escola porque alegadamente os pais não têm condições para ficar com os filhos estando em causa o seu "equilíbrio emocional".
Isto já ultrapassa os limites da racionalidade porque estas crianças não estão em perigo e lembro que este é o mesmo Estado, tão zeloso, que há dias "deixou" morrer uma criança de três anos sinalizada à nascença como passível de ser maltratada.
Mais um tonto a juntar ao pai, o Ministério Público.
Muito se tem discutido se faz sentido existir esta disciplina de Cidadania e Desenvolvimento no currículo escolar.
Sérgio Sousa Pinto, político, acha que não faz qualquer sentido. Diz que as disciplinas das humanidades, nomeadamente a de história e a de filosofia cumprem esse papel.
Diz aliás, que a cidadania tem empobrecido devido à pouca valorização destas disciplinas em contraponto com as engenharias.
Os conteúdos programáticos desta disciplina, procuram (em teoria) desenvolver, no aluno, o espírito crítico e o pensamento autónomo.
Daniel Oliveira, jornalista, defende a presença na escola desta disciplina. Argumenta que, por exemplo, um aluno cuja família tenha uma religião ou costumes diferentes da sociedade na qual está, ou tenta estar, inserido, o espírito crítico que esta disciplina lhe desenvolve, dá-lhe a possibilidade de questionar a sua própria cultura.
Sérgio Sousa Pinto acha que as disciplinas já referidas cumprem esse papel.
A grande questão que se coloca é a seguinte:
Existirá distanciamento político suficiente entre os governos e a escola, para que seja evitado um enviesamento ideológico, que contamine ou mine ou doutrine estas crianças?
Esse é de facto um perigo a ter em conta.
Mas será que estando o poder tão divido numa democracia, com tantas entidades reguladoras e separação de poderes, poderia alguém ter a capacidade ou um tal poder para levar avante uma missão tão perversa e diabólica cujos frutos só seriam colhidos muitos anos depois como em tudo em educação?
Só com uma ditadura que perpétua no poder um governante ou um novo nazismo com todas as suas obscenidades.
Mesmo tendo eu estudado sete anos Educação não tenho uma posição definitiva sobre a utilidade desta disciplina.
E digo isto também porque considero que os conteúdos programáticos da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento não contemplam temas que são absolutamente pertinentes para os jovens de hoje em dia.
Dou apenas um exemplo.
Como navegar nas redes sociais?!
Algo que ninguém sabe verdadeiramente e que encerra muitas coisas positivas e muitos perigos.
Mas que são uma inevitabilidade porque como dizia o psiquiatra José Gameiro, hoje quem não estiver numa rede social, pura e simplesmente não existe.
Portanto, na dúvida e já que esta disciplina não é de todo consensual, o Ministério da Educação devia torná-la facultativa como acontece com Religião e Moral.
O Ministério da Educação é mais um tonto a juntar ao pai e ao Ministério Público.
Tudo tontos.
Perdoem-me o uso desta palavra mas digo-a sobretudo porque quem fica a perder no meio disto tudo são os miúdos, alunos de excelência, em termos de notas. Esquecidos nesta novela.
Ficaram um bom tempo sem saber se transitavam de ano ou não. Imagino a ansiedade que já viveram e devem ainda estar a viver numa fase crucial das suas vidas, a adolescência, que já dura desde o ano letivo 2018/2019. Miúdos com 14 e 16 anos agora.
Fica a pergunta:
Em nome do superior interesse das crianças onde mora o bom senso neste país?!
Eu respondo:
Não mora, tudo tontos!