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Percorre a Bélgica quase de uma ponta à outra, o país também não é enorme, para ensinar a nossa língua, a língua portuguesa aos filhos da comunidade emigrante para quem é importante que os respetivos descendentes também falem a língua de Camões, o poeta de Os Lusíadas que empresta, aliás, o nome ao Instituto Público para o qual trabalha.
Há dias que está na Valónia em Yvoir, em La Hulpe, ou em Braine-le-Château, outros que percorre os caminhos para Drogenbos na Flandres, outros ainda que fica na região de Bruxelas capital para ensinar nas escolas de Woluwe-Saint-Lambert e Woluwe-Saint-Pierre. Mas, para lá chegar pode ser difícil, demorado e chato. Nas situações mais simples leva apenas uma ligeira meia hora e apanha um único meio de transporte, contudo nas mais distantes tem de apanhar dois autocarros e ainda comboio para chegar às escolas onde os alunos tranquilamente a aguardam.
De ar franzino e gaiato, óculos grandes, sempre com um sorriso nos lábios, esta jovem professora, em regime de substituição, de português no estrangeiro, Mestre em línguas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tanto salta para uma plataforma de comboio, como espera horas infindas numa remota estação de autocarro, ou foge atrás do elétrico, cujas linhas agora já conhece de cor à custa de tanto as palmilhar por todos os meios e até a pé muitas vezes, numa situação bem diferente da aflição por que passou acabada de chegar a Bruxelas. No seu segundo na capital belga, com apenas dois por cento de bateria no telemóvel e na mais completa ignorância do mapa da cidade, trocou-se e apanhou o autocarro para casa onde então residia, mas em sentido oposto do pretendido. Valeu-lhe a simpatia do motorista que a amparou no seu desespero e a levou a fazer o percurso numa direção e depois na outra, não fosse não dar de novo com o lado certo da paragem, naquela noite escura e fria em que se desorientou numa rua deserta de Bruxelas.
Leciona as aulas de terças a sábados em tempos horários que oscilam entre a hora e meia e as três, com alunos que vão dos 5 aos 14 anos de idade. Quando fala sobre o seu trabalho revela-se no rosto o enorme prazer com que enfrenta a situação e a sua total dedicação aos alunos e às aulas, natural para quem está a trabalhar pela primeira vez, na sua área, e logo no estrangeiro, num país em que nunca tinha estado antes, o que tem constituído um duplo estímulo à sua capacidade em se superar.
É este enorme desafio pessoal e profissional que a Beatriz enfrenta com a satisfação de começar a sentir os seus alunos a quem ensina as especificidades gramaticais da língua lusa, os ditongos e os hiatos, o vocabulário, os pronomes, as complexas formas verbais, a pronúncia das palavras, o nome dos números, para que estes se sintam mais seguros e mais à vontade a falarem duas línguas, deixando para trás a vergonha de comunicarem em português. A verdade, diz ela com um brilhozinho nos olhos, é que “já se notam enormes diferenças no à vontade com que já falam o português”.