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No vale do rio Minho, reconhecido pela excelência ambiental e sociocultural, devemos fomentar a cooperação transfronteiriça de forma a facultar uma atividade turística de contacto com as comunidades e a vivência de experiências direcionadas para o conhecimento. Esta zona proporciona momentos inesquecíveis pela sua cultura, história e tradições. Da gastronomia á natureza impar, dominada pelo verde indescritivelmente único.
Urge transitar do velho turismo que anda em grupo á procura do sol/praia, que segue massas e gosta de se mostrar para, por oposição, um novo turismo que se afirma individualmente e procura o contacto com a natureza e com a autenticidade das pessoas. Procura a diversificação entre as comunidades que é essencial para promover o incentivo da odisseia do espírito humano. Os humanos requerem dos seus vizinhos algo suficientemente semelhante para ser compreendido, algo diferente para provocar a atenção e algo grande para causar a admiração.
A antiga ideia de fronteira-limite deve então ser substituída pela ideia de fronteira como espaço de cooperação definindo-se como a medida para acabar com a marginalidade socioeconómica. Precisamos de políticas que favoreçam a atividade do turismo cultural que é um dos maiores segmentos deste mercado, com cerca de 60% da procura global.
Figura 1. Procura do turismo Mundial por regiões continentais
Para o concelho de caminha o turismo tem sido considerado o sector mais relevante para o desenvolvimento local. Mas presentemente a débil economia local de um concelho, sem indústria, cada vez menos comércio, um turismo reduzido ao cluster praia/sol e a ausência de qualquer atividade que possa realmente gerar a criação de emprego tem conduzido a uma perda inadmissível de população e ao seu envelhecimento.
Para encontrar-nos uma oportunidade no meio destas dificuldades devemos consciencializar que não podemos pensar numa solução para os problemas na mesma maneira que os criamos. Urge de uma vez por todas uma estratégia de 10 a 20 anos consecutivos que possa gradualmente pôr em prática um ambiente propício á iniciativa privada. Um ambiente favorável à exploração de sinergias e intensificação da transversalidade do turismo.
Figura 5. Número de trabalhadores e Remuneração Bruta Mensal por Trabalhador
Sendo o concelho de Caminha uma marca tanto cultural como património natural diferenciado, a sua divulgação deve visar uma imagem de um turismo sustentável que atenue a forte sazonalidade atual para permitir um crescimento económico aonde todos participem e sejam envolvidos.
Não podemos continuar 10 meses por ano á espera que cheguem os dois meses do verão, como se estes nos reduzissem a uma colónia balnear de férias.
A coragem política necessária para esta transição requer que se ultrapasse a linha de pensamento padrão, linear, que temos tido e seguir a mudança de paradigma. Cultura e património intangível desempenham agora o valor decisivo, incomensurável, que constitui o principal ativo para gerar turismo. Ainda somente com 17% de taxa de ocupação enquanto a média nacional já em 2017 ultrapassava os 48%.
Figura 2. Resultados globais do sector de alojamento turístico
Para afirmar o nosso concelho de Caminha como uma Smart destination implica debater os temas-chave em torno dos subsectores (i.e., património histórico, navegabilidade do rio Minho, cooperação com os municípios vizinhos, desportos de natureza etc.). Assim como outras medidas que possam impactar entidades de vários quadrantes e diferentes valências.
A motivação para a viagem, as expectativas, são o ponto de partida para perceber o perfil do turista ou do excursionista. Estes fatores são a base para inovar neste segmento. O património, quer material quer imaterial, não é somente um retrato do passado ou uma história objetiva mas antes uma aglomeração de lugares emblemáticos, monumentos e temas saturados de significados com um sentido de experiência e identidade. Devemos por um momento ultrapassar os limites do espaço aonde nascemos para voar. Para ver novos lugares e novas gentes. É preciso reconhecer o valor das coisas e das pessoas.
Essa importância deve-se à diversidade de opções turísticas no continente Europeu, desde o turismo de massa ao turismo sustentável, de fruição do património e de interpretação da história.
A candidatura do Rio Minho a Património Cultural da Unesco seria uma ideia capital para a valorização do estuário e para lançamento das suas margens, das paisagens excecionais, que poderia agregar a cooperação intermunicipal e transfronteiriça. O conceito adotado pela UNESCO de património cultural deve ser entendido em termos amplos de forma a incluir também o património natural. Dispomos como europeus de um património opulento, indelével e que emergiu de uma longa história marítima.
Para promover um turismo numa economia para todos, muito para além do cluster específico, importa envolvê-lo numa ótica inclusiva. Desenvolver um trabalho em rede e uma promoção conjunta de serviços turísticos característicos sobre lugares ou itinerários relacionados com o produto/informação.
Figura 3. Crescimento do turismo residente e não residente em Portugal
Quando os Romanos do tempo de Adriano, passaram a frequentar a Grécia, como forma de enriquecimento cultural e de curiosidade histórica, alguém sentiu a necessidade de desenvolver um percurso que os levasse a desfrutar do seu propósito tirando partido das estradas que o império tinha construído.
A primeira Rota Turística de Interesse Cultural da História surgiu, assim como primeiro Guia de Viagens que conhecemos: a Descrição da Grécia de Pausânias.”
Para definir medidas adequada para o marketing turístico há que perceber as motivações, necessidades dos consumidores. Os profissionais de marketing pensam as marcas para diferenciar produtos/serviços existentes no mercado concentrando nelas benefícios emocionais. As marcas territoriais emergem para tentar responder aos desafios de um mundo em forte concorrência, culminando no denominado place marketing, ou marketing dos lugares.
Já no século II d.c. se aconselhavam aos romanos os melhores caminhos como componente do sistema turístico. A Roteirização de um território, sustenta-se na produção de um roteiro pois historicamente o traçado de uma viagem específica pode ser considerado como uma ‘Rota’.
A navegabilidade do rio Minho permitiria o usufruto do património histórico-cultural, preservação da sua autenticidade e a potenciação económica do património natural. Nunca é tarde demais para uma reflexão crítica sobre a relação entre a economia local e este segmento para que este contribua para a expansão da atividade turística ao longo do ano, ou pelo menos durante 6 meses.
Uma perspetiva abrangente, clara, que envolva todos os parceiros possíveis, é decisiva para promover o reconhecimento mundial do rio Minho e alicerçada quer na biodiversidade quer na força deste património de valor incalculável. Uma perspetiva que possa conduzir à manutenção da navegabilidade do Rio Minho a embarcações de exploração turística.
Figura 4. Dormidas % nos Estabelecimentos de Alojamento turístico por país de residência, 2018
Essa transição do turismo de massas para um turismo mais sustentável começa, não na cultura do espetáculo de eventos mediáticos e televisivos mas na paisagem cultural suportada por séculos de história, etnográfica e que progressivamente acrescente, por exemplo, valor ao Caminho Português da Costa.
Em síntese, precisamos de visão e pensamento estratégico em que englobe a identidade e diversidade Cultural dividindo-se em 3 eixos: capacitação para a produção de conteúdos, comunicação e agilização de redes.
É impreterível valorizar o potencial das artes e ofícios (e.g., gastronomia local), o potencial dos saberes para que se prolonguem para as gerações futuras apresentando-se como alternativa à saturação do modelo tradicional.
Gonçalo Sampaio e Melo