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O cardeal-patriarca de Lisboa confia que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que começa na terça-feira, vai deixar para o futuro a confirmação da disponibilidade dos jovens para “servir grandes causas”.
Em resposta por escrito a perguntas colocadas pela agência Lusa sobre a jornada, a cerca de 48 horas da missa de abertura que celebrará no Parque Eduardo VII, em Lisboa, Manuel Clemente manifesta-se convicto de que este encontro mundial de jovens com o Papa deixará “o que já se manifesta na preparação da JMJ e na chegada de tantos jovens, isto é, a disponibilidade para servir grandes causas e a vontade de aderir a um ideal tão humanizador e profundo”.
“A experiência de trabalho conjunto, feita de há quatro anos para cá por tantos colaboradores, mostra-lhes como isto é real e gratificante, para os próprios e para os outros. Certamente, que os marcará e procurarão reproduzi-la ao longo da vida, numa maneira de estar e participar na sociedade em geral. Será a ‘Geração 2023’”, acrescenta.
Já quanto à mensagem que espera que o Papa Francisco deixe aos muitos milhares de jovens de todo o mundo reunidos em Lisboa, Manuel Clemente acredita que “continuará a ser a que já tem dado, em sucessivas intervenções sobre esta JMJ”, ou seja, que “conta com a contribuição dos jovens para a (re)construção de um mundo que precisa de rejuvenescer, mais solidário, mais justo, mais pacífico e mais respeitador de uma ecologia integral, que tanto salvaguarde o meio ambiente como a vida humana, com o que esta requer de satisfação das necessidades básicas de cada um”.
“Certamente que, para tudo isto, não deixará de salientar o exemplo do próprio Cristo e a aspiração latente em todos os povos, culturas e religiões”, sublinha salvaguardando que, na mensagem que ele próprio vai transmitir aos jovens na terça-feira, na missa de abertura, não antecipará “o principal, que só o Papa dirá depois aos jovens, como primeiro protagonista desta Jornada”.
“Além das boas-vindas a todos, fixo-me nos três pontos do tema da JMJ, tirados do Evangelho da Visitação de Maria a Isabel: ‘Maria pôs-se a caminho, dirigiu-se apressadamente para a montanha, entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel’”, admite.
Segundo o patriarca, na missa de terça-feira vai salientar que “também os jovens se puseram a caminho para aqui chegarem, percorrendo uma etapa que, mesmo com esforço, significa a própria vida, como série de etapas a percorrer. E a percorrer realmente, não virtualmente”.
“Direi que também eles sentem pressa e urgência para o encontro com os outros, uma ‘pressa no ar’ como canta o hino da JMJ, pois quem tem o coração cheio rapidamente transborda, com alegria e sem ansiedade. É o que trazem e o que levarão acrescentado. Sobre o terceiro, digo que se trata dum encontro verdadeiro, uma mútua visitação, como sempre deve acontecer na vida”, acrescenta.
Com o nome do seu sucessor à frente do Patriarcado de Lisboa a ser esperado para os dias pós-JMJ, Manuel Clemente avança que o principal desafio que se colocará ao novo patriarca será “conseguir, com a colaboração dos outros agentes pastorais, e muito especialmente dos jovens que trabalharam na realização da JMJ, canalizar esta experiência para vida das comunidades e a sua projeção em redor, na sociedade e na cultura”.
Fazendo um balanço dos 10 anos em que esteve à frente do Patriarcado, o cardeal, que dez 75 anos no dia 16 de julho, resume que, “de 2013 até agora, o Patriarcado teve o horizonte de cada dia, na vida normal das comunidades, e horizontes mais alargados e propostos a todos”.
“Até 2016, caminhámos para o Sínodo Diocesano, onde confluíram as contribuições de milhares de crentes, para pôr em prática as indicações do Papa Francisco na sua exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’. Daí surgiu a Constituição Sinodal de Lisboa que procuramos pôr em prática desde então, na transmissão da Palavra, na celebração litúrgica, na prática caritativa e em maior corresponsabilidade a todos os níveis, do paroquial ao diocesano”, explicita.
Depois, reconhece que, “de 2017 até agora, o horizonte alargou-se ainda mais, tendo em vista a JMJ que finalmente acontece, fruto do trabalho generoso de milhares de voluntários, dos paroquiais aos internacionais” e termina uma década, “com a feliz concretização de uma ideia que encontrou sempre muito concordância e participação da parte dos diocesanos e de outras dioceses”.
Manuel Clemente cumpriu no dia 06 de julho 10 anos à frente do Patriarcado.
O último ano e meio no Patriarcado não foram fáceis para Manuel Clemente, devido às suspeitas de casos de abuso que saltaram para o domínio público e afetaram a sua imagem, nomeadamente a propósito de um caso ocorrido em 1999 e recuperado no final de julho de 2022 pelo jornal Observador, dando conta de que o atual patriarca “teve conhecimento de uma denúncia de abusos sexuais de menores relativa a um sacerdote do Patriarcado e chegou mesmo a encontrar-se pessoalmente com a vítima, mas optou por não comunicar o caso às autoridades civis e por manter o padre no ativo com funções de capelania”.
A par deste, outros casos de suspeitas de abusos no Patriarcado foram noticiados, tendo, já em março deste ano, sido suspensos do ministério quatro sacerdotes, um dos quais foi, entretanto, autorizado a voltar às suas funções.
Por mais de uma vez o patriarca pediu perdão às vítimas de abuso, como em 06 de abril, em que fez questão de vincar que esse pedido era “institucional e convicto” enquanto titular do Patriarcado.